Com Estevan Ciccone
Nova jogadora do Chicago Sky, da WNBA, Kamilla Cardoso tem vivido uma correria desde que conquistou o bicampeonato da NCWA, no começo de abril, até a mudança para sua nova cidade.
A brasileira chegou ao seu novo time há menos de uma semana e já começou a treinar com a também novata Angel Reese e com as veteranas da equipe, já que a temporada 2024-25 da liga feminina de basquete começa no dia 14 de maio.
— Eu não sabia muito o que esperar, mas todo mundo está sendo bem gente boa. As meninas, como já têm mais experiência, estão ajudando bastante a gente, ensinando jogadas, dribles, então está bem legal. Eu sou apaixonada pela treinadora, a Teresa [Weatherspoon], e com a Angel tem sido muito bom. Às vezes a gente treina contra, às vezes no mesmo time—, detalhou Kamilla Cardoso, em uma entrevista exclusiva para o Quinto Quarto.
Angel, inclusive, era uma das principais rivais da brasileira tanto na época do colegial, quanto na faculdade, mas as duas já admitiram estarem muito felizes por finalmente jogarem juntas —especialmente Cardoso, já que isso pode aumentar a visibilidade do basquete feminino no Brasil.
— As pessoas pensam muito que a gente é rival, que a gente não gosta uma da outra, só que é só competitividade de jogo, porque eu tenho a mentalidade de campeã e ela também tem, mas fora de quadra é amizade! Acho que a gente vai ser um duo muito bom. É bem legal ter nós duas, dois grandes nomes do basquete americano, porque traz mais visibilidade para o basquete brasileiro—, declarou a pivô.
Consider this picture the unofficial truce between Tigers and Gamecock fans 😂@Reese10Angel | @Kamillascsilva pic.twitter.com/p28oUhmuw9
— Chicago Sky (@chicagosky) April 29, 2024
Depois da final da NCWA e agora na WNBA, inclusive, pode surgir uma nova rivalidade para Kamilla Cardoso: Caitlin Clark, que disputou o título universitário com a brasileira e foi draftada pelo Indiana Fever como a primeira escolha geral. Mas mais uma vez, a rixa vai ser apenas dentro das quadras, pelo menos para a pivô do Sky.
— Eu acho legal que ela também traz mais visibilidade para o basquete feminino. Ela é extraordinária. Eu nunca joguei contra nenhuma jogadora que consegue meter bolas de três como ela faz e estou muito feliz por ela, ela merece tudo que ela está conquistando no momento—, elogiou a mineira, ansiosa para enfrentá-la.
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A visibilidade do basquete feminino com Kamilla Cardoso
Uma das coisas que mais tem deixado Kamilla Cardoso feliz com suas conquistas é o fato de a visibilidade do basquete feminino estar aumentando, não apenas nos Estados Unidos, mas no Brasil também.
De um ano para cá, a mineira ganhou milhares de seguidores brasileiros nas redes sociais, que sempre mandam mensagens de incentivo e admiração. Segundo a jogadora, esse aumento começou a surgir depois do mundial de basquete em Belém do Pará.
— As pessoas nunca tinham me visto jogar no Brasil, eu nunca joguei em time grande, nunca fui para São Paulo, Belo Horizonte, Rio… Acho que depois que a gente teve esse Mundial, as pessoas me assistiram e começaram a me seguir, acompanhar mais o basquete feminino brasileiro e também minha trajetória dos Estados Unidos. Eu fico muito feliz e grata pelo carinho—, avaliou ela.
Uma prova do aumento dessa visibilidade também nos Estados Unidos foi que a final da NCWA entre South Carolina e Iowa, com Kamilla Cardoso e Kaitlin Clark se enfrentado, foi mais assistida do que a final da própria NBA ano passado, entre Denver Nuggets e Miami Heat. E a brasileira espera levar toda essa audiência para a WNBA agora.
— A gente cativou vários fãs, as pessoas gostavam de assistir. A gente sabe está fazendo parte de história, que a gente aumentou a visibilidade do basquete feminino e vamos trazer isso para a WNBA, porque temos muitos fãs que vão acompanhar a gente nessa transição—, afirmou a atleta.
Kamilla se destacou tanto na final universitária, na qual Caitlin era a favorita para vencer, que chamou atenção de grandes nomes do basquete, incluindo Magic Johnson, que citou até o nome de Kamilla Cardoso nas redes sociais —e esse foi um dos reconhecimentos mais importantes para ela.
— O cara fez história, né? Um dos melhores jogadores de todos os tempos! Então só de sair do jogo e ver que ele falou, não só uma, como duas vezes, me elogiando, foi um momento muito emocionante. Só eu sei tudo que eu passei para chegar onde eu cheguei, e ter pessoas como ele falando sobre mim é muito especial—, comemorou a bicampeã.
Kamilla Cardoso was dominate all tournament, and this was her best stretch yet finishing with 15 points, 17 rebounds and 3 blocks in today’s victory. The freshman showed great composure and also had a big impact on the game! Milaysia Fuiwiley was making passes and plays all game…
— Earvin Magic Johnson (@MagicJohnson) April 7, 2024
O caminho de Kamilla Cardoso até a WNBA
Como a própria Kamilla Cardoso mencionou, seu caminho até chegar na WNBA não foi nada fácil. Ela saiu do interior de Minas Gerais aos 14 anos, sem saber falar mais do que quatro palavras em inglês, para tentar uma carreira no basquete —e deu certo.
Sua maior motivação foi dar uma vida melhor para a família, mas para isso, a atleta precisou deixar justamente sua família para trás e hoje vive sozinha em Chicago. Por ser uma das poucas jogadoras na faculdade com essa condição, a Kamilla Cardoso acabou adotando seu time universitário como uma segunda família.
Ao ser draftada na WNBA, no entanto, Kamillla, mais uma vez, precisou deixar sua “família” para trás e ir sozinha para um lugar completamente novo. Isso, no entanto, não mudará a relação que ela construiu na Carolina do Sul e a forma como ela se sentiu acolhida.
— A técnica Dawn Stanley, em especial, mantém contato com todas as suas atletas. Ela gosta das jogadoras dela, se importa e quer ter certeza que está todo mundo no caminho certo. Ela sempre entra em contato comigo, não só ela. Esse time é um time muito especial, a gente conversa todos os dias. Criei realmente uma família lá na Carolina do Sul, são garotas que vão marcar minha vida para sempre—, se emocionou a brasileira.
E se hoje, com toda essa bagagem, Kamilla Cardoso se tornou uma inspiração para as crianças e adolescente mulheres que sonham em seguir carreira no basquete, a própria Kamilla teve sua inspiração lá atrás: Érika de Souza, pivô brasileira que também jogou pelo Chicago Sky na WNBA e pela seleção.
— Eu não gosto muito de comparar as pessoas, mas sinto que eu e a Érika temos uma história muito parecida. A Érika é uma das minhas maiores inspirações. Quando eu comecei a jogar, ela me deu meu primeiro tênis de basquete. A gente não tinha muita condição, era muito difícil encontrar tênis na minha numeração, então ela virou minha inspiração. Eu sempre falava: ‘Um dia eu quero poder jogar com a mesma capacidade que ela’,—, contou a também pivô.