Finais de NBA são lembradas pelos grandes astros, grandes jogadas e grandes histórias. O “Flu Game” do Jordan em 1997, Kobe Bryant com o tornozelo baleado levando o Lakers ao título em 2000, aquela cesta de 3 pontos do Ray Allen para empatar o Jogo 6 em 2011, o toco de LeBron em Iguodala em 2016, sacramentando a virada de 1-3 para 4-3…
A grande expectativa para 2024, além, claro, de muitos fake passes de Luka Doncic e dos malabarismos de Jaylen Brown e Jayson Tatum, é a boa e velha lei do ex na NBA e como ela vai aparecer nessa série. Começando pelo ex mais antigo, digamos assim. A última partida de Kristaps Porziņģis pelo Dallas foi em janeiro de 2022, mas sua saída do time foi no mínimo amarga.
Os Mavericks tinham feito uma aposta no letão quando o trouxeram para o time mesmo com o ligamento cruzado anterior rompido. A lesão havia acontecido em fevereiro de 2018, em jogo contra os Bucks, e afastaria o jogador da NBA por mais de um ano. Em janeiro de 2019, os Mavs acharam que era uma boa ideia contratar Porzingis, trazendo com ele dos Knicks Tim Hardaway Jr, Trey Burke, Courtney Lee em troca de Dennis Smith Jr., DeAndre Jordan, Wesley Matthews e duas escolhas de Draft. Não só isso, Porzingis ainda assinou um contrato máximo, valendo 158 milhões de dólares em cinco anos. Te parece um bom negócio?
O europeu, que havia sido vaiado no próprio Draft da NBA (lembra disso?) estreou apenas em outubro de 2019, anotando 23 pontos e 4 rebotes em vitória contra os Wizards. Mas a torcida não estava encantada.
O jogador sofreu com inúmeras lesões ao longo da carreira, a ponto de o Dallas evitar contar com ele em partidas consecutivas na temporada 20-21. Para se ter uma ideia, Porzingis foi de 72 atuações pelos Knicks em 15-16, para 48 em 17-18, não jogou na temporada 18-19, e depois em Dallas entrou em apenas 57 dos 73 jogos de 2019-2020, e 43 dos 75 do ano seguinte.
Além dos muitos atestados, o jogo dele simplesmente não encaixou com o estilo de Luka Doncic, e o desempenho ficou longe do esperado de alguém dono de um contrato máximo.
Chandler Parsons, que jogou no Dallas entre 2014 e 2016 e é amigo de Mark Cuban, falou sobre o letão em um podcast depois das Finais do Oeste: “Não funcionou porque não funcionou. E aquela torcida é orgulhosa, se você está machucado e não está jogando, não está fazendo o que deveria fazer, nem o que fazia antes de chegar nos Mavs, eles não vão gostar de você.”
As trocas que mudaram os rumos da NBA, de Porzingis, dos Mavericks e de Kyrie Irving
Era hora de mudar de ares. Menos de três anos depois de assinar com o Dallas, Porzingis foi cortado, em uma troca na NBA que envolveu Davis Bertans e Spencer Dinwiddie (esse, usado depois em uma troca que levou Kyrie Irving para os Mavericks).
Porzingis foi parar em Washington, onde jogou um ano antes de ser trocado para o Boston. Lá, foram apenas 57 atuações nesta última temporada regular. Ele chegou a jogar no início dos playoffs, mas – surpresa – se machucou ainda na primeira rodada contra o Miami e está retornando só agora nas finais.
Parsons acha que o clima será intenso: “Quando você volta a enfrentar um time de onde saiu, você quer mostrar o que eles estão perdendo.” E continua: “Eles não gostam do Porzingis em Dallas, Luka não gostou de jogar com ele, eles não se dão bem. E toda vez que ele pegar na bola, vai ser vaiado.”
Falando em vaias… Kyrie Irving era o coadjuvante perfeito para Lebron James em Cleveland. Nas Finais de 2016 da NBA, fez a cesta da vitória que garantiu o único título da história da franquia.
No ano seguinte, de volta às Finais da NBA, anotou 40 pontos no único jogo que os Cavaliers conseguiram beliscar para evitar a varrida dos Warriors. Depois de anos de sucesso a sombra do Rei, Kyrie Irving pediu para ser trocado, em busca de um inédito protagonismo na carreira. O Boston recebeu o astro de braços abertos.
Logo na primeira temporada por lá, os Celtics chegaram ao Jogo 7 das Finais do Leste, graças a excelentes desempenhos de Irving na temporada regular, e do então novato Jayson Tatum. O veterano havia se lesionado em março e não jogou nada daqueles Playoffs da NBA.
Antes da temporada 2018-19 da NBA começar, os Celtics fizeram um evento no TD Garden para aqueles torcedores que compram os carnês de ingresso da temporada. Kyrie Irving foi chamado ao microfone, e disse com todas as letras que gostaria de ficar em Boston e renovar o contrato.
O tom mudou já em fevereiro de 2019, quando foi perguntado se ainda gostaria de ficar. “Não devo p**ra nenhuma a ninguém, me pergunte em primeiro de julho”. No All Star Game, ele foi visto cochichando com Kevin Durant sobre a possibilidade de ambos conseguirem contratos máximos no Brooklyn. O próprio Durant depois confirmou que a conversa era realmente sobre isso.
Polêmicas, provocações e dedo do meio: a relação de Kyrie com os Celtics
Em outubro de 2019, Irving estreou pelos Nets, anotando 50 pontos, oito rebotes e sete assistências, se tornando o primeiro jogador da história da NBA a conseguir 50 pontos ou mais em sua estreia por um time.
O problema mesmo veio depois. Kyrie acabou não indo com os Nets para Boston em 2019, lesionado, mas a torcida dos Celtics agiu com hostilidade, como se ele estivesse lá, com gritos explícitos na direção dos jogadores do Brooklyn.
A temporada de 2020 viu uma NBA sem torcida nos ginásios, por conta da pandemia de COVID, mas câmeras capturaram Kyrie em dezembro daquele ano queimando folhas de sálvia ao redor da quadra dos Celtics. Questionado, afirmou que foi para “limpar a energia” da arena. E quando finalmente encarou a torcida do Boston, nos Playoffs de 2021, ele disse que esperava que os fãs focassem no basquete, “que não houvesse nenhum tipo de racismo, sutil ou não”.
Na visita seguinte ao TD Garden, Kyrie enraiveceu os torcedores do Boston ao pisotear o logo central da quadra e esfregar os pés nele, como se estivesse em cima de um capacho.
Sobre os gritos de “Kyrie Sucks” dos fãs dos Celtics na NBA (a tradução literal é impublicável, mas dá para entender que eles acham que Kyrie não é um cara legal), o jogador reconheceu que sabe que será recebido assim até o fim da carreira, e que aquela torcida é como uma “ex-namorada esnobada, que quer saber porque eu larguei dela, e, ao mesmo tempo, me quer de volta”.
As provocações continuaram. Teve desde tiração de sarro pelas incansáveis vaias até um dedo do meio para cima nos Playoffs de 2022 (uma ofensa maior nos Estados Unidos do que no Brasil).
Antes das Finais da NBA de 2024 começarem, Kyrie Irving afirmou ser um novo homem:
— Fui feito para esses momentos, para saber lidar com essas circunstâncias. Eu pude crescer desde então. Claro que será um ambiente agitado, mas estou ansioso por isso, e vejo como uma relação saudável com a torcida. É como em Gladiador, tenho que conquistar os fãs. É muito bom ver o TD Garden em silêncio quando você está arrasando no jogo — disse o armador.