O UFC 286, que acontece neste sábado (18), traz a luta entre Leon Edwards e Kamaru Usman pelo cinturão dos pesos-meio-médios (até 77 kg) da organização. O confronto marca o terceiro capítulo da rivalidade entre os destaques da organização, mas está longe de ser a única história importante a ser contada do show.
Lerone Murphy, que enfrentará o brasileiro Gabriel Mosquitinho no card preliminar é, acima de tudo, um sobrevivente. Com passado no crime e sobrevivente de tiros em Manchester, na Inglaterra, a luta por sua vida veio até antes dos próprios embates nos cages.
Em papo com o Quinto Quarto BR, Nick Peet, apresentador da BT Sport e broadcaster do Fight Disciples, na Inglaterra, afirma que o público presente vai impulsioná-lo por nova vitória diante de Gabriel Mosquitinho.
— Estou especialmente ansioso pela luta de Lerone Murphy com Gabriel Santos. Lerone tem uma incrível história. Levou dois tiros na cara durante a sua juventude e tem sorte de estar vivo. E, no ano passado, foi atropelado por um carro ao andar de bicicleta e esteve novamente em coma. Os médicos lutaram para o manter vivo. Ele acredita que está aqui por intervenção divina e dá pelo nome de Homem Milagre.
Conteúdo
Lerone Murphy – o milagre
Lerone Murphy é um sobrevivente da vida. O lutador leva consigo o apelido de Homem Milagre. E é, de fato, uma alcunha que dá o peso para sua história. Ainda na juventude, nos subúrbios de Manchester, se envolvia com a criminalidade local e corria riscos frequentes.
— Sou chamado de “Milagre” por ter criado responsabilidade cedo e é um milagre eu ainda estar aqui. Cresci em Manchester, é um lugar louco. É muito fácil cair no estilo de vida (de gangues), pois tudo que você ouve é sobre respeito das pessoas. E, crianças como eu fui, crescem acreditando que é a única forma de conseguir respeito. É fácil cair nisso.
Quando entrar no octógono, com apoio da torcida diante do brasileiro Gabriel Mosquitinho, Lerone também levará o peso de sua própria história e da mudança drástica de sua vida nos últimos dez anos. Em maio de 2013, quando ainda tinha 21 anos, Murphy foi baleado por duas vezes em seu rosto ao lado de fora de uma barbearia. Ele leva as cicatrizes do acontecido no pescoço.
— A bala se alojou na minha boca e acabei cuspindo. A boca ficou pesada e eu pensava ser sangue ou algo assim, mas pude ver as balas no chão. Eu tinha duas opções: ficar pelo caminho (do crime) ou seguir por outro, do MMA. Eu não conhecia o esporte, mas ele acabou salvando minha vida.
Com ferimentos de bala no pescoço e queixo, o lutador acabou levado às pressas para um hospital e esteve entre a vida e a morte. Conseguiu sobreviver após ficar em coma e nunca soube quem seria o autor dos disparos, tampouco a motivação. Mas é um sobrevivente. Tanto que, ao lembrar dos momentos, tem apenas a certeza de que o fato só lhe deu uma motivação ainda maior para que se dedicasse inteiramente ao MMA.
A sensação de tomar um tiro
Existem jeitos de lidar com algum tópico sensível, mas Lerone Murphy adota o humor ao relembrar do período trágico e da sensação vivida. Ao relembrar o momento, o inglês afirma que se sentiu como se acabasse de ser nocauteado ou, até mesmo, em uma partida de “Call of Duty”, franquia de jogos eletrônicos de tiro.
— Tomar um tiro na cara é como tomar um soco. Não é um tipo de impacto normal. Eu me senti como se eu tivesse sido nocauteado. Acho que ele me nocauteou por um segundo e eu me senti como se tivesse tomado um tiro no ‘Call of Duty’ (jogo de tiro). A adrenalina fez com que eu não sentisse exatamente a dor.
Retrospecto contra brasileiros antes do UFC 286
A vida seguiu e Lerone Murphy decidiu deixar qualquer relação com a antiga vida. Após sua estreia no MMA, que aconteceu em 2014, o inglês emplacou oito vitórias seguidas. Ele foi contratado às vésperas de um evento em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, para competir contra Zubaira Tukhugov. A valentia apareceu.
Depois de sofrer knockdown no primeiro round e quase acabar nocauteado, Murphy conseguiu se reinventar dentro da luta. Apesar do aperto no assalto inicial, o atleta equilibrou as ações e teve um empate majoritário. Desde então, só deu Lerone. Três vitórias seguidas, dois desfechos rápidos. Duas vítimas brasileiras: Ricardo Carcacinha e Douglas D’Silva. Ele, agora, enfrenta Gabriel Mosquitinho, em busca de manter o retrospecto contra representantes do país.
Show time ⚔️ https://t.co/mPLfiP1Ra0
— LERONE MURPHY (@LeroneMurphy) March 17, 2023
Nova experiência de ‘quase morte’
O Milagre também passou por outra difícil experiência de ‘quase morte’. Em maio de 2022, quando andava com sua bicicleta, acabou colidindo com um carro – que estaria em alta velocidade. Em seu Instagram oficial, ele relatou ter sofrido um corte na cabeça e acusou a ambulância de ter demorado 45 minutos para chegar.
— Eu não tenho uma ‘folga’. Mais uma experiência quase fatal. Estava andando de bicicleta, quando um carro em movimento virou à direita sem olhar e nós batemos em alta velocidade. A batida causou um grande ferimento na cabeça e a ambulância demorou 45 minutos para chegar, o que me fez sangrar. Estou respirando por um propósito maior.
Lutador do UFC, Lerone Murphy internado no hospital após acidente de trânsito. Foto: Reprodução/Instagram @lerone145
A recuperação foi dolorida e o lutador sequer conseguiu se apresentar em 2022, justamente pela lesão na cabeça que o tirou de ação. Para o card do UFC 286, ele será um dos queridos da torcida.
Com a torcida empurrando, Lerone Murphy tenta garantir sua quarta vitória seguida na organização. O inglês tem um retrospecto de dez triunfos e um empate. Ele nunca perdeu no MMA. Inativo há mais de um ano, ele nocauteou Makwan Amirkhani em sua última apresentação, no UFC 267.
