Por que há tão poucos jogadores negros na NHL? E onde estão os técnicos?

Pedro Rubens Santos | 10/06/2023 - 06:00

A final da Stanley Cup, disputada por Vegas Golden Knights e Florida Panthers, é um representativo da desigualdade racial no hóquei dos Estados Unidos. A NHL é uma liga predominantemente branca, dos jogadores aos técnicos e torcedores.

Quem assistiu ao primeiro jogo da decisão notou que um dos autores dos gols dos Panthers foi Anthony Duclair, left winger afro-americano que joga com a camisa 10. Frequentemente, ele é o único negro no gelo, em meio a outros 11 brancos.

Duclair é um dos fundadores da Hockey Diversity Alliance, uma organização cujo propósito é “erradicar o racismo sistêmico e a intolerância no hóquei”.

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O fato de a iniciativa de inclusão existir é uma das muitas comprovações de que o esporte enfrenta um problema sério de exclusão e desigualdade. Embora não existam estatísticas oficiais sobre o tema, alguns números apontam para a baixíssima diversidade nos elencos dos 32 times da NHL.

Quantos jogadores negros estão na NHL?

Keegan Kolesar, Vegas Golden Knights, NHL. Foto: Reprodução/Twitter/@GoldenKnights
Keegan Kolesar, do Vegas Golden Knights, finalista da NHL. (Foto: Reprodução/Twitter/@GoldenKnights)

Em maio de 2021, o USA Today informou que aproximadamente 3% dos jogadores da liga eram negros. Cerca de dois anos depois, a vice-presidente executiva de impacto social, iniciativas de crescimento e assuntos legislativos da liga, Kim Davis, revelou que o número de atletas árabes, asiáticos, indígenas, pretos ou latinos em ação atualmente é de 54. Há 736 jogadores na liga, dos quais 93% são brancos.

A estatística de 7% é o retrato de um cenário que muda lentamente, mas que vem evoluindo ao longo dos últimos anos graças a esforços por parte da NHL, suas equipes e jogadores comprometidos com o crescimento e a democratização do esporte. Ainda assim, é impossível não enxergar o tamanho da desigualdade.

E isso não é visto apenas no gelo, mas também fora dele. De acordo com um estudo de 2020 do Instituto pela Diversidade e Ética no Esporte, a NHL é disparadamente a liga mais branca dos Estados Unidos. Enquanto na NBA e na WNBA o percentual de atletas brancos é de menos de 20%, na NFL ele sobe para cerca de 25% e na MLB, para mais de 50%. Já na NHL, esse número supera os 90%.

Por que há poucos negros na NHL?

Em 2020, o site FiveThirtyEight buscou explicar o problema da desigualdade racial na NHL e apresentou alguns números relevantes para a discussão.

Segundo uma pesquisa conduzida com mais de mil estadunidenses, o hóquei  é o esporte local cuja base de fãs é menos diversa. Na análise, os torcedores foram perguntados como se identificavam e quais esportes acompanhavam.

O resultado chamou a atenção. Das pessoas que disseram ser fãs de hóquei, 77,1% se afirmaram brancas, enquanto apenas 6,8% eram latinas e 6,5%, negras. O único outro esporte a superar a marca de 70% de torcedores brancos foi o golfe, com 70,2%.

Como comparação, 65,1% dos fãs de futebol americano, 45,6% dos torcedores de basquete e 34,1% dos apoiadores de futebol se denominaram brancos. As modalidades com maior presença de negros entre a base de fãs são o basquete (24,3%), o golfe (17,6%) e a NASCAR (16,7%).

E se a presença de afro-americanos é limitada entre jogadores e torcedores, ela é ainda mais acentuada quando falamos sobre a posição de treinador. Com mais de 105 anos de liga, a NHL só teve um técnico principal negro em toda a sua história: Dirk Graham, que comandou o Chicago Blackhawks por 59 jogos na temporada 1998-99.

Um motivo amplamente comentado como o principal, ou um dos principais, para o pouco espaço às minorias no gelo é o custo do esporte. Segundo um estudo da universidade Utah State, de 2017, o hóquei é a modalidade mais cara para jovens praticarem nos Estados Unidos. Os gastos para uma família bancar equipamentos a uma criança ou adolescente podem chegar a até US$ 19 mil anuais (R$ 92,5 mil na cotação atual).

Com outras ofertas de esportes que exigem menos investimento e, portanto, são mais acessíveis, e a reconhecida distância salarial entre famílias brancas e negras no país norte-americano, jovens de regiões periféricas e de baixa renda tendem a seguir caminho por outras modalidades, deixando o hóquei  para os mais privilegiados financeiramente.

De acordo com informações do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, famílias pretas ou latinas recebem metade do dinheiro ganho por famílias brancas no país.

Escrito por Pedro Rubens Santos
Pedro Rubens começou a trabalhar na cobertura de futebol americano no site Torcedores.com e teve uma passagem de três anos pela ESPN, onde atuou também na produção digital. Foi repórter do Quinto Quarto até julho de 2023.