Washington Redskins deve mudar seu nome: o que pensar sobre isso?

Julio | 03/07/2020 - 19:40

A história da mudança do nome do Washington Redskins não é algo novo. Desde que começamos o Quinto Quarto, já escrevemos um monte de notas sobre pessoas fazendo campanhas, idas e vindas nos tribunais – a franquia chegou a perder a marca -, pesquisas e até jornalistas que se recusaram a falar o nome. Em 2013, Bob Costas, um dos grandes nomes do jornalismo esportivo americano, disse em cadeia nacional no intervalo de um Sunday Night Football que o nome era um insulto e que não falaria mais ele.

Nesta sexta (3), o time lançou um comunicado sobre estar promovendo discussões internas para realizar a mudança. Claro que a franquia vai falar que é pelo momento de protestos e discussões que estão sendo geradas, mas pode ter certeza que há pressão financeira para isso.

Como tudo nesta vida atual desgracenta que vivemos, o assunto foi politizado. Eu entendo o argumento “tudo que você faz nesta vida é um ato político”, mas ao mesmo tempo entendo que toda discussão quando levada para o campo político se dilui e interesses se formam. Parece que, se você falar que o nome Redskins não é nada demais, você tem uma cueca com a cara de Donald Trump, uma bandeira com o rosto de Bolsonaro no quarto e mata crianças pobres na rua. Ao mesmo tempo, parece que se você acha que Washington Redskins é de mau gosto você sonha com a Hillary, quer a Dilma de volta na presidência e chora quando lembra o discurso de Fidel Castro na ONU.

Gostaria que toda discussão partisse de argumentos e pontos em comum, sem que comece uma rotulação infinita que visa deixar o outro lado humilhado e desacreditado. A “desumanização” do outro é o ponto inicial da tirania e do fascismo. Aqui no Brasil, já começamos esse processo há muito tempo. Infelizmente bem antes de 2018.

Voltando ao assunto do texto, você pode acreditar que mudar o nome Washington Redskins é um ato da turma do politicamente correto, que pouco se importa com o time, a tradição ou até a pesquisa bastante usada que 90% de nativos americanos não ficam ofendidos com o nome. Acredito até que, se fizermos uma pesquisa no Quinto Quarto perguntando o que você acha do assunto, a maioria vai se opôr à troca.

Mas também é totalmente justo perguntar: qual é o sentido de manter o nome?

O termo redskin é visto com conotação negativa. Ele não significa apenas “pele vermelha”, tendo um significado histórico pesado para um povo que foi completamente dizimado em sua própria terra.

Eu chegar aqui e falar que “não é nada demais” não tem muito peso, para não dizer que não tem peso algum. E a questão dos nativos americanos é bem próxima dos nossos nativos também. O mesmo aconteceu aqui no Brasil. É a mesma dor e o mesmo passado com o qual não lidamos bem na época e chega uma hora que ele precisa ser entendido.

Portanto, qual é o ponto de manter o nome de uma equipe de futebol americano que causa ofensa a pelo menos 10% de membros de uma pesquisa? Que gera desconforto em jornalistas e muitas outras pessoas e campanhas de organizações envolvidas com as comunidades?

Importa se a campanha “mudem o nome” tem a maioria da população do lado? Sim, mas não pode ser o único fator. Porque hoje pode ser 10%, daqui a 15 anos pode ser 80%. Coisas que eram normais até pouco tempo hoje não são. Isso é algo tremendamente natural em tudo na vida.

Não é por mais ou menos gente concordar que o termo deixa de ser mais ou menos doloroso para alguns. Não é uma questão de democracia e vontade da maioria, mas de respeito.

Eu já sei perfeitamente o que quem defende a manutenção do nome está pensando agora: “isso não para em Redskin”. E aqui é interessante estabelecer algo que poderia causar meu cancelamento se alguém se importasse comigo. Não vamos fingir que quem está defendendo essa mudança e os direitos de minorias tem sempre as melhores intenções e é um anjo na terra.

Há muitos que não visam a educação do outro, a melhora da sociedade e o convívio em paz entre todos. Há quem humilha, destrói, persegue e não se preocupa em entender, ensinar e até em coisas básicas de um estado democrático de direito. Não é porque a causa é nobre que se pode destruir seres humanos e reputações nas redes sociais e depois, quando for provado que não era bem assim, sair de fininho e passar para a próxima causa e destruição.

Por isso, digo novamente: é importante que toda discussão seja mantida com respeito, até o ponto máximo possível, tentando ao máximo entender a razão pela qual uma pessoa pode estar falando algo que eu discordo veementemente. Até, obviamente, um limite: racismo, homofobia, intolerância religiosa e preconceito social precisam ser combatidos. A melhor forma para isso sempre será a educação. Afinal todos têm MUITO a aprender antes de termos uma sociedade minimamente decente, algo que parece estar longe de acontecer hoje.

Portanto, para responder a pergunta sobre qual é o ponto, o sentido de manter o nome, só consigo enxergar orgulho, um “eu não vou ceder a essas pessoas”.

Só que se não acontecer agora, essa mudança continuará sendo um assunto até acontecer. E no final você começa a esquecer o Washington Redskins como o time de Doug Williams, primeiro quarterback negro a vencer o Super Bowl, e passa a só lembrar do time como “aquele com nome que algumas pessoas nem gostam de falar”.

Escrito por Julio
Specialized in NBA and NFL, left Quinto Quarto in March 2021.
Share your love