Russell Westbrook tem 32 anos, portanto não é um senhor de idade. Ainda mais em uma NBA onde LeBron James é o MVP das finais na sua 17ª temporada. Mas qualquer um que teve a honra de acompanhar Westbrook, a personificação de uma explosão de uma bomba em uma quadra de basquete, sabe que seu jogo não iria envelhecer bem. E a notícia desta quarta não ajuda: o armador foi trocado do Houston Rockets para o Washington Wizards por John Wall e uma escolha de primeira rodada.
Quase uma semana atrás participei da live do Área Restritiva justamente sobre os Wizards, que eu achava que podiam pegar playoffs com Wall e acho o mesmo com Westbrook por causa do péssimo leste depois de seu top 6 – Celtics, 76ers, Raptors, Heat, Bucks e Nets.
Mas é isso. Pegar playoffs em Washington já é o suficiente porque não há um caminho para a equipe ser, por exemplo, o Miami Heat e chegar nas finais. Scottie Brooks não é Erik Spoelstra, mesmo tendo de novo Westbrook depois de anos juntos em Oklahoma City. Bradley Beal é excelente, mas o elenco não chega nem perto do Heat. Muito menos a cultura.
Se o time não será incrível, a mentalidade de Russell Westbrook em quadra não combina com times vencedores em 2020 na melhor liga de basquete do mundo. Ele foi MVP há três anos em uma equipe que permitia que ele fizesse tudo: arremessasse sem ter que pensar, pegasse rebotes basicamente roubando a bola de Steven Adams e ganhando apenas 45 jogos antes de ser eliminado facilmente nos playoffs do sanguinário Oeste.
Westbrook não poderá fazer isso de novo a menos que ele queira deixar Bradley Beal possesso. Então sua função será similar à da temporada passada, quando tinha James Harden a seu lado. Mas vamos lembrar: ele estava jogando muito mal em uma equipe conhecida por tirar o melhor dos atletas. Westbrook melhorou mesmo quando Daryl Morey, talvez o melhor dirigente da NBA na última década, sem dúvidas um dos mais conceituados, começou o experimento “vamos jogar sem pivô e fazer esta bagunça virar um caos”.
Em Washington voltaremos ao papai e mamãe. Teremos Robin Lopez embaixo da cesta, formações mais tradicionais e Scottie Brooks longe de ser um gênio tático. Ele desenvolve bem jogadores. Fez Westbrook ser um armador sendo que todos duvidavam que ele podia ser algo além de um louco que explodia em direção à cesta e tirava arremessos de Kevin Durant.
Um ponto positivo do armador é que essa explosão e intensidade ainda existem. Mas ele não vai poder ser esse jogador aos 35 anos, que é quando seu contrato terá sua última temporada pagando 47 milhões de dólares. Essa última frase doeu só de escrever, imagina para quem vai assinar o cheque.
O Houston Rockets se livrou de Chris Paul e deu escolhas de draft para o Thunder ainda porque não gostava do contrato do veterano e porque Harden e ele já não se davam muito bem. Mas Paul é um jogador que sempre foi cerebral, que tem arremesso de longa distância, que pode se adaptar a vários estilos de jogo.
Quem tem Russell Westbrook jogará no estilo dele. Ele não vai acertar 37%, 38% dos arremessos de três e virar John Stockton agora.
Para terminar de falar sobre a troca, eu não acho que para John Wall a troca seja boa, mas não é ruim. Não sabemos se James Harden ficará ou não, mas mesmo que fique os Rockets devem cair em relação aos últimos anos. O time de Houston ainda vai ter que ceder escolhas de primeira rodada para o Thunder e começa uma nova era sem Morey e Mike D’Antoni. Mas Wall já tentou de tudo em Washington e um novo cenário é sempre positivo. Mesmo que não venha acompanhado de 48 vitórias.
Aliás, citando Harden, este fracassou com três All-Stars – Howard, Paul e Westbrook – e até para quem defende ele com forças (como este que vos fala), começa a sucumbir à pressão de quem o odeia (são muitos).
Mas mesmo que Harden não ganhe um título e nunca coloque uma coroa em sua carreira de pontuador espetacular, ele é um jogador que raramente fica fora de partidas (78, 72, 82 e 81 partidas nas últimas quatro temporadas não-pandêmicas) e pode perfeitamente ser um veterano que chega em uma equipe para arremessar de três, conseguir cestas e ter menos a bola do que tinha em Houston.
Westbrook, assim como Allen Iverson, Kobe Bryant e alguns outros atletas espetaculares, é mais intransigente em sua arte. E por isso seu fim não deverá ser em um time vencedor a menos que algo mude drasticamente.