Uiii, título forte. Mas é verdade. Você acha que sou herege por falar que James Harden e o basquete do começo dos anos 2000 combinam demais? Então continue neste texto que eu vou explicar por que raios estou falando isso.
Já falei neste belo site chamado Quinto Quarto como eu não conseguia entender o ódio com os Warriors e especialmente Stephen Curry. No caso de Harden, dá para compreender: ele arremessa demais de três, foi decepcionante algumas vezes nos playoffs, cava faltas a todo momento, reclama de tudo…
Mas aqui falo especialmente para os saudosistas. Seja você kobista, tem orgasmos com vídeos de Tracy McGrady, defende que Carmelo Anthony ainda tem lugar na NBA ou até é iversonista: o camisa 13 dos Rockets é o representante desses caras na NBA atual. E é nesse ponto que eu começo.
O que você está fazendo?
É só nós postarmos que o Troféu Brian Scalabrine foi para James Harden por alguma pontuação maluca que só ele é capaz de fazer com tanta frequência, complementando com várias assistências, que nós já esperamos a reclamação.
Harden é a superestrela mais odiada da NBA no momento e as razões que demos acima explicam isso.
Mas eu realmente não entendo quando os saudosistas começam a atacá-lo sendo que seu jogo ofensivo é exatamente igual ao de Allen Iverson e Kobe Bryant, por exemplo.
Pense bem: se o Kobe de 2003 jogasse em 2019, você acha que ele arremessaria 1,7 bolas de três por jogo – e mais de 18 bolas de dois – ou isso seria dividido melhor?
Iverson em 2019 não quebraria seu corpo partindo para a cesta 20 vezes por jogo. Ele usaria o crossover dele para ter a separação necessária para arremessar de três.
E não seria uma grande adaptação: ele só teria que dar dois passos atrás em relação aos trocentos tiros de 2 longos que ele teve nos seus anos na NBA.
Harden pegou tudo isso, entendeu que arremessar de 6,5 m de distância e de 7,3 m tem basicamente a mesma dificuldade (mas um vale 3 e o outro 2) e maximizou seu lucro.
O fato de um atuar na era da bola de três não é o que muda a ideia de jogo de todos os nomes que citei. É só uma correção de uma ineficiência.
Todos eles eram os pontos focais de seus ataques e praticavam o chamado hero ball. O plano de jogo é bastante simples: tira todo mundo da frente e faz o craque ter um confronto 1×1 o máximo de tempo possível.
É claro que isso é problemático: se você encara um marcador bom, você será limitado. Se sua velocidade não está 100%, sua capacidade de com um drible ultrapassar o marcador e partir para a cesta não existe. Se a sua mão não está quente, seu arremesso não irá cair.
Não à toa Michael Jordan e Kobe não venceram nos anos em que eles mais precisavam atuar “sozinhos”. No ano em que Kobe Bryant teve 35,4 pontos em absurdos 27 arremessos por jogo, seus Lakers foram eliminados na primeira rodada dos playoffs.
No ano em que Michael Jordan teve 37 (!!) pontos de média em 27,8 arremessos por partida, seus Bulls tiveram 40 vitórias na temporada regular e caíram na primeira rodada dos playoffs, varridos pelos Celtics.
Eu sei o que você vai falar: o time de ambos não era bom.
Mas eu te digo outra coisa: quando Jordan e Kobe jogaram sem amarras eles não venceram. Quando jogaram dentro de um sistema inovador e metódico (ataque dos triângulos), venceram seus 11 títulos.
D'Antoni ainda não fez seu sistema, seja o dos Suns ou dos Rockets, ser bem-sucedido.
James Harden tem mais problemas que você imagina
James Harden teve a mesma sorte que Kobe Bryant ao chegar na liga: seu time era bom (e tinha potencial para ser excelente). Kobe aproveitou Shaquille O'Neal para crescer em todos os sentidos, até ambos se engalfinharem.
Harden foi para uma final da NBA rapidamente com Russ e KD.
Kobe tirou três títulos nesse começo de carreira, mas também porque jogou com um talento enorme, um personagem tão dominante que as regras tiveram que mudar para conter ele. Harden tinha Durant e Westbrook crescendo juntos e encararam o já pronto e fumegante LeBron James, buscando seu primeiro título.
Antes que James Harden pudesse voltar para as finais da NBA, ele foi trocado.
Harden foi a primeira peça realmente acima da média daqueles Rockets. Isso fica evidente quando na sua primeira temporada ele foi o líder em minutos seguido de Chandler Parsons, Jeremy Lin, Omer Asik e Patrick Patterson. Para a próxima temporada tivemos a ascensão de Patrick Beverley e a chegada de Dwight Howard.
O pivô era para ser o fiel escudeiro do camisa 13, mas já sabemos como a história termina. A tragédia não é Dwight não ter a cabeça e disciplina para ser campeão, como o próprio Kobe descobriu, mas a liga estar mudando a sua volta e ele se transformar de personagem dominante em dinossauro rapidamente.
A era Dwight durou três anos, sendo que no segundo o time já começava a tomar a forma que os levaria a seu auge. Trevor Ariza ganhou importância e o time começou a arremessar mais de três. Dwight saiu, o time começou a fazer chover do perímetro, chegou Chris Paul, saiu Chris Paul e aqui estamos nós.
É muito fácil destruir James Harden nos playoffs e ele realmente teve atuações decepcionantes, mas seus Rockets pararam três anos nas mãos do Golden State Warriors, um dos melhores times que já existiram na história da liga.
Por que Harden não joga bem nos playoffs?
Vamos além de “ah, ele é pipoqueiro” porque isso não explica nada. Eu tenho algumas justificativas.
O hero ball é mais fácil de ser marcado: os Warriors foram dominantes porque tinham um sistema e suas peças incríveis só melhoravam nesse sistema. Não é que os Rockets sejam “bola no Harden e pronto”, mas com certeza eles são muito mais dependentes de seu brilho.
Segundo, James Harden é uma das estrelas que menos se poupa. Desde que chegou a Houston ele jogou 78, 73, 81, 82, 81, 72, 78 e em todas as temporadas com médias superiores a 35 minutos por jogo. Mais um exemplo de como ele é o sucessor da turma dos anos 90 e 2000. Ele chega nos playoffs com todo esse peso e ainda tendo que decidir mais que, por exemplo, Stephen Curry.
E terceiro, ele caiu para times superiores em talento ou com ideias melhor pensadas para o momento atual do basquete.
Não é de outro mundo perder para os Warriors ou ser eliminado por uma equipe de Gregg Popovich. Ele teve médias de 28,5, 28,6 e 31,5 pontos nas três últimas pós-temporadas. Ele ainda rende, não é que tem um colapso nervoso.
Seus colegas de equipe também caíram de rendimento na pós-temporada, o que dá sinais que na verdade são claros: Mike D'Antoni e seus sistemas, desde os anos de Suns, são limitados há mais de uma década.
Na pós-temporada não há distrações: você pode estudar uma equipe e ver todas as tendências dela ao vivo e no estudo dos vídeos por dias a fio.
Vamos resumir então porque você está sendo hipócrita ao ser saudosista e não gostar de James Harden
Ele é o maior exemplo hoje de estrela que domina ações, bota a bola embaixo do braço e vence partidas. Tanto que está com absurdos 39,5 pontos de média na temporada, com 7,8 assistências e mais de 5 rebotes por jogo.
Ele não se poupa, tendo jogado mais de 90% dos jogos de temporada regular (94,9%) desde que chegou nos Rockets.
“Ah, mas ele cava faltas”. Tudo que ele faz nesse sentido, Dwayne Wade ganhou um PhD antes. Você duvida? Olha os vídeos das finais de 2006. É chato? Sim, mas não é nenhum vírus que veio na barba do cara e está infectando a NBA pela primeira vez.
E se você falar que James Harden precisa de muitos arremessos para impactar no jogo e ao mesmo tempo tem um orgasmo ao ver as estrelas dos anos 2000, já te aviso: a temporada completa que Harden mais arremessou não pegaria Top 3 na lista de temporadas que Allen Iverson mais arremessou.
A NBA mudou absurdamente nos últimos anos, criando unicórnios e coisas pouco ou nunca vistas antes. Se uma pessoa de 2002, que curte basquete, entrasse em uma máquina do tempo e fosse adiantado para os playoffs de 2018, ele entenderia pouca coisa. Mas o camisa 13 de Houston seria uma delas.
As únicas pessoas que podem criticar James Harden são:
- Os defensores do basquete coletivo que alcança o Nirvana, como os Spurs de 2014, os Warriors de 2014/15 e alguns outros;
- Quem odeia cavadores de falta e jogadores que vão muito para a linha do lance livre;
- Se você curte e tem saudades dos pivôs antigos e odeia jogadores de perímetro (sim, existem pessoas assim);
- Se você valoriza muito defesa: aqui não tenho como contra-argumentar. A menos que você goste de Melo.
Se você ama Kobe Bryant, que arremessou 6 bolas certas em 24 em um jogo 7 de final da NBA, com duas assistências, e mesmo assim ganhou o MVP das finais, compre sua camisa 13 dos Rockets agora!!
PS: não sou anti-Kobe, mas odeio como os seus fãs parecem ter visto uma carreira diferente do que aconteceu. Sobre o jogo que citei acima, estava vendo vídeos e lendo artigos e me deparei com este que é a crítica mais venenosa que vi na minha vida, seja de Kobe ou qualquer outro bom jogador.