Só negócio? Como os jogadores encaram as trocas no mercado da NBA

Paola Zanon | 09/02/2024 - 16:17

Quem acompanha a NBA há algum tempo já sabe que o mercado da liga funciona de uma forma muito diferente do mercado do futebol brasileiro —e até do mundial.

Isso porque, no futebol, a vontade dos jogadores geralmente é levada em consideração, e grandes nomes como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi têm o direito de escolher seu próprio destino. O argentino, por exemplo, decidiu se aventurar no Inter Miami, da MLS.

As coisas na liga de basquete são um pouco mais claras quando os atletas realmente querem trocar de equipe, mas nem sempre tudo sai do jeito deles. Damian Lillard, por exemplo, queria deixar o Portland Trail Blazers pelo Miami Heat, mas foi parar no Milwaukee Bucks.

James Harden, por sua vez, conseguiu o que queria ao ser negociado do Philadelphia 76ers para o Los Angeles Clippers. Essa troca, inclusive, envolveu também P. J. Tucker, que pediu para sair da franquia californiana por não ter muitos minutos de quadra, mas não foi atendido e seguirá por lá até o fim da atual temporada.

Mas na NBA, geralmente, não é bem assim que funciona; na maioria das vezes, os jogadores sequer ficam sabendo que serão ou já estão envolvidos em alguma negociação, principalmente quando eles não têm planos de deixar o próprio time.

A reação de Patrick Beverley, que descobriu ao vivo que estava sendo trocado dos Sixers para os Bucks, foi um bom exemplo de como o mercado da NBA funciona. Dias antes, o gerente geral da franquia, Daryl Morey, havia garantido ao jogador que ele não seria negociado. Nesse caso, felizmente, o jogador até que reagiu com bom humor.

Trocas da NBA magoam jogadores

Jalen Brunson e R. J. Barrett antes da troca para o Toronto Raptors. Foto: Icon sport
Jalen Brunson e R. J. Barrett antes da troca para o Toronto Raptors. Foto: Icon sport

A maioria das reações diante das trocas da NBA não são como as de Pat Bev, muito pelo contrário. Os jogadores costumam se chatear bastante ao descobrir que seus nomes estão envolvidos em negociações ou até mesmo que já foram trocados, assim como seus companheiros de equipe.

Jalen Brunson, do New York Knicks, revelou recentemente como foram os bastidores da troca de R. J. Barrett para o Toronto Raptors semanas antes da trade deadline e como todos eles se sentiram.

— Quando as trocas acontecem, eu não penso sobre o lado do negócio, eu penso sobre o pessoal. Estávamos em Indiana, eu estava tomando café da manhã, R.J. chega e fala: ‘E aí, mano? Estou indo para Toronto’—, relembrou o armador, no podcast Room Mates Show.

Na hora, Brunson pensou que Barrett estava indo para o Canadá por causa de algum problema pessoal, já que sua família é de lá, mas já se tratava da troca. R.J., inclusive, sequer chegou a participar do jogo contra os Pacers.

— Ele me abraçou, se despediu dos outros e saiu. E dois minutos depois, saiu a notícia [da troca]. Isso me deixou triste. São negócios, não dá pra se apegar muito, mas é difícil quando você cria amizades e gosta de jogar com todo mundo, tem esse companheirismo—, desabafou o armador dos Knicks.

Jrue Holiday, na época de Milwaukee Bucks. Foto: Icon sport
Jrue Holiday, na época de Milwaukee Bucks. Foto: Icon sport

Quem também não reagiu nada bem ao descobrir que havia sido trocado foi Jrue Holiday, envolvido na negociação que levou Lillard aos Bucks. O ala-armador foi para o Boston Celtics depois de três temporadas em Milwaukee.

Apesar de não ter falado muito sobre a troca, Holiday apoiou sua esposa quando ela fez um desabafo nas redes sociais dizendo que não se tratava apenas de negócios da NBA, já que a família toda estava estabelecida na cidade, inclusive as crianças.

— Meu marido tirou uma soneca e acordou com a notícia de que havia sido trocado, sem nenhum aviso prévio, nem mesmo uma conversa de que isso poderia ser uma possibilidade. Apenas está feito. Agora siga em frente, porque ‘isso não é pessoal, são negócios’. Isso é mais do que negócio. Não porque estamos ofendidos, mas porque somos seres humanos—, contou Laurel Holiday.

Ainda entre as negociações mais recentes da NBA, quem sofreu bastante foi Marcus Smart, que estava nos Celtics desde o início de sua carreira, em 2014, e foi enviado para o Memphis Grizzlies para que Kristaps Porzingis pudesse ir para Boston.

Marcus Smart quando jogava pelo Boston Celtics. Foto: Icon sport
Marcus Smart quando jogava pelo Boston Celtics. Foto: Icon sport

O armador era torcedor dos Celtics, assim como sua avó, e tinha até o cabelo pintado de verde, principal cor da franquia. Smart chorou ao descobrir que o negócio já estava feito e não tinha mais volta.

— Eu chorei porque tive uma relação especial com os caras. Eu cresci com o Jaylen (Brown) e o Jayson (tatum). Até o Al (Horford). Esses caras estavam lá quando minha mãe faleceu. Eles passaram por momentos difíceis comigo. Então foi difícil. E eu estive lá minha vida toda — relatou ele, na época.

Por mais cruéis que pareçam as negociações do mercado da NBA, elas acabam deixando algo bom: a saudade. Em seu primeiro jogo no TD Garden depois da troca, Smart se emocionou ao receber homenagens do time, foi ovacionado pela torcida do Boston e recebido por seus ex-companheiros de equipe com muito carinho.

Escrito por Paola Zanon
Paola Zanon é jornalista formada pela Cásper Líbero, repórter e redatora com passagens pelo Notícias da TV, R7 e UOL Esporte. A carreira no jornalismo esportivo começou com a cobertura dos Jogos Pan-Americanos de 2019 pelo R7 até chegar ao Quinto Quarto em fevereiro de 2023. São-paulina de coração e apaixonada por basquete, futebol e viagens.