Caos, timidez e humildade: os 10 primeiros dias de Messi em Miami

Paola Zanon | 24/07/2023 - 13:30

A chegada de Lionel Messi à MLS causou uma comoção completa e levou o Inter Miami a enfrentar um caos diante das burocracias necessárias e timidez do astro, mas a humildade do argentino com a equipe e o gol de estreia fizeram tudo valer a pena.

Os 10 primeiros dias do campeão mundial em Miami separaram a chegada do ídolo aos Estados Unidos do gol feito em 21 de julho contra o Cruz Azul durante sua estreia.

O tempo foi dividido entre a dificuldade que Jorge Mas, David Beckham e os executivos da franquia enfrentaram para viabilizar tudo a tempo da estreia e a tentativa do próprio Messi em se encaixar na equipe.

De acordo com o The Athletic, o atacante chegou silencioso no grupo de WhatsApp do time e só foi notado quando ofereceu a Leonardo Campana ingressos extras para seu jogo de estreia diante do pedido desesperado de seu companheiro de equipe.

O primeiro treino de Messi aconteceu em 16 de julho. Neste dia, ele foi o primeiro jogador do Inter a chegar ao centro de treinamento, onde fotógrafos e fãs já o esperavam — o único jogador do time a chegar neste mesmo horário foi o meio-campista Benjamin Cremaschi, de 18 anos.

A pontualidade do sete vezes melhor do mundo serviu como um exemplo para os demais companheiros, que no dia seguinte, chegaram tão cedo quanto ele para o treinamento.

Para Mas, dono da franquia, Leo tem trabalhado para assumir uma posição de liderança, como outros jogadores designados tão famosos quanto já fizeram antes em suas passagens pela MLS. Kaká, por exemplo, foi um líder no Orlando City e influenciou jogadores mais novos a chegarem mais cedo e saírem tarde dos treinos só para terem a oportunidade de estarem ao lado dele.

Messi: um líder humilde

Leo Messi sabia das grandes mudanças que enfrentaria ao sair da Europa e ir para os Estados Unidos. Para facilitar a adaptação, então, chegou ao vestiário com humildade, mostrando que está levando muito a sério seu novo desafio.

Jogadores que nunca tiveram um contrato superior a US$ 100 mil (R$ 478 mil, na cotação atual) não esconderam a admiração que sentem e, até mesmo, o receio em estar perto de um dos maiores jogadores de futebol da história e fazer algo que o desagrade.

Messi destaca a camisa de Ian Fray. Foto: Reprodução/Instagram @ianfray
Messi destaca a camisa de Ian Fray. Foto: Reprodução/Instagram @ianfray

Messi, no entanto, tem agido como “apenas mais um” no vestiário, agindo de forma amigável com funcionários de todos os níveis e contando com a companhia de Sérgio Busquets para trabalhar com os jogadores mais jovens após os treinos regulares.

A dinâmica dos dias de jogos também sofreu mudanças por causa do argentino. Antes, os jogadores seguiam a pé do estacionamento para os vestiários acompanhados pela torcida. A presença de Leo, no entanto, inviabilizou essa tradição, e agora os jogadores precisam fazer esse trajeto de ônibus.

O aquecimento de Messi e Busquets foi feito em um local fechado, com escolta de alguns seguranças. No intervalo do jogo, os atletas fizeram o aquecimento em campo, também com a presença dos guarda-costas —ainda mais depois que três pessoas tentaram invadir o campo.

As atitudes do campeão argentino no pós-jogo também impressionaram a todos: O camisa 10 dedicou seu gol de falta a Ian Fray, que socou o gramado ao cair e ser retirado do jogo.

— Quero dedicar este jogo ao Ian, que estava sofrendo no vestiário por causa da lesão. Ele já sofreu duas lesões graves e agora deu o azar de sofrer outra lesão. Acreditamos que seja grave novamente, e quero mandar muita força para ele. Ele definitivamente vai se recuperar e voltar para nós novamente, espero que o mais rápido possível —

Fray ficou emocionado com o apoio que recebeu do ex-jogador do Barcelona e compartilhou em suas redes sociais uma foto do time em que Leo aparece segurando sua camisa de número 24.

O caos do Inter Miami

Enquanto tudo parece um filme no vestiário, os bastidores dos 10 primeiros dias de Messi em Miami não correram tão bem assim, a começar pelas diferenças entre o futebol europeu e a MLS.

Nos Estados Unidos, o contrato não é diretamente com o time, mas sim com a liga. Foram necessárias dezenas de advogados para viabilizar as negociações, assim como o visto de moradia para o argentino e sua família. A Apple, que foi responsável pela parte financeira, também se envolveu nas longas reuniões.

— Que ele se sinta em casa, desde a moradia até a escola dos filhos. Cada detalhe. Não há absolutamente nada que não tenhamos pensado ou preparado para a chegada de Leo Messi e o início desta nova era—, garantiu Mas.

Além de tudo isso, os executivos também precisaram trabalhar nos contratos do técnico Tata Martino e de Sérgio Busquets, que foram pedidos pessoais do próprio Messi. Todas as burocracias fizeram com que a data do anúncio oficial da chegada do astro fosse adiada inúmeras vezes —isso era para ter acontecido em 3 de julho, mas só foi possível anunciar a chegada do jogador 12 dias mais tarde.

O Inter Miami também precisou reformular os protocolos de segurança e se deparou com uma situação boa, mas até então, inusitada para o time: as duas mil camisas de Messi disponíveis no dia da estreia já se esgotaram, e os novos pedidos só chegarão em outubro.

Para coroar a energia caótica, uma tempestade tomou conta da cidade no dia do evento marcado para apresentar Messi, que teve um atraso de duas horas e uma confusão com torcedores que queriam fugir da chuva e entrar no estádio.

David Beckham ficou encharcado e precisou descer aos gramados para não escorregar na passarela preparada para os executivos e os novos jogadores.

— No momento em que cheguei ao estádio e vi o vento, a chuva e tudo mais, pensei: ‘Claro. Claro! É apenas mais um obstáculo’. Quando soubemos que ele era real, foi um momento de orgulho. Eu entrei no estádio, vi as pessoas e fiquei muito emocionado. Minha esposa e filhos estavam ao meu lado e diziam: ‘Papai, olhe todas essas pessoas’, e minha esposa disse: ‘É incrível o que um homem pode fazer’, esse é o poder de Lionel Messi—, declarou o ex-jogador inglês, emocionado, apesar de todo o caos.

Escrito por Paola Zanon
Paola Zanon é jornalista formada pela Cásper Líbero, repórter e redatora com passagens pelo Notícias da TV, R7 e UOL Esporte. A carreira no jornalismo esportivo começou com a cobertura dos Jogos Pan-Americanos de 2019 pelo R7 até chegar ao Quinto Quarto em fevereiro de 2023. São-paulina de coração e apaixonada por basquete, futebol e viagens.
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