Opinião: fã da NBA e da NFL, vamos dar uma chance para o beisebol e a MLB

Julio | 26/03/2018 - 03:06

A coluna de opinião desta segunda é basicamente um pedido. Nós já temos vidas nababescas no topo de nossa cobertura no prédio da Fundação Cásper Líbero. Mas queremos mais. E para querer mais, precisamos empurrar o beisebol goela abaixo. Fã da NFL e da NBA, dê uma chance, junto comigo, para a MLB.

Tirando as 3 mentiras que falei no parágrafo acima, eu acho que vale a pena escrever estas porcas e parcas linhas para tentar te convencer que a Major League Baseball é algo bastante legal, mesmo que difícil de entender.

E para me colocar na mesma posição, eu também não sou o maior fã do beisebol. Isso vai ficar claro no meu texto, que está longe de ser algo especializado. Mas nesta temporada eu vou tentar me abrir de corpo e alma, comer as coisas mais gordurosas durante a partida, apostar que nem um demente e reclamar do André Garda por seus palpites furados que me fazem perder dinheiro no Quinto Quarto Expresso. Só não vou ser mais clichê porque não vou torcer para o New York Yankees.

Primeiro de tudo, o jogo

Não tem como começar um texto destes sem falar do jogo. O problema do beisebol, assim como do golfe, é que aos olhos de um leigo, ele parece a coisa mais tediosa da história da humanidade. E essa percepção não deixa de ser verdade. É por essas e outras que esportes como o MMA ou corridas como a Nascar têm uma vantagem quando são transmitidos para o mundo: é muito mais legal ver um cara dar um chute no nariz do outro, ou um carro capotando treze vezes no ar, do que um pitcher deixando de arremessar para ir conversar com o catcher.

Por exemplo, no momento que você gosta do futebol americano, 90% do caminho está feito. Um jogo da NFL para depois de cada jogada e mais 700 vezes durante as três horas de transmissão. A razão para isso é que a estratégia é tão importante que ela precisa ser passada, detalhada e codificada a cada micro-momento (uma jogada), algo que não acontece no nosso futebol por exemplo.

O beisebol é igual. Arremessador canhoto x rebatedor destro, número de arremessos, bunts, os shifts que o outfield e o infield faz, a hora do rebatedor “atacar”, os diferentes arremessos que só um braço iluminado pode fazer. A estratégia no baseball é basicamente ímpar nos esportes em geral. É o que eu sempre digo: os esportes que você tem tempo para parar e pensar são os mais estratégicos e os que mais exigem da sua mente.

Segundo: os números

Não digo no sentido que um matemático vai ter um orgasmo ao ver as estatísticas em uma transmissão. Mas é inegável que o beisebol é o pai de todo esse movimento estatístico que agora começa a chegar no futebol e já está em peso na NFL e na NBA. Na bocha nós ainda confiamos na experiência e em quem não vai quebrar a bacia jogando.

Só assistindo o filme Moneyball – aquele do Brad Pitt e o cara de Superbad – você nota como essa cultura de se apoiar em números para criar um elenco e botar um time em campo era algo fora da caixa. E não estamos falando em 1960, mas sim no começo do século atual mesmo.

Uma transmissão de baseball pode te fazer pensar que você é um idiota a qualquer momento que uma arte é colocada na tela. Eu ainda estou aprendendo o que é ERA quando alguém vai jogar FIP na minha cara, que é basicamente um ERA que não se importa com a defesa. Eu nem vou colocar a fórmula porque eu quero que você continue lendo e não se mate antes.

Mas enfim, toda essa mudança fizeram os times valorizar o talento que tinha que ser valorizado, tirar a gordura e oferecer contratos que melhor correspondem com a realidade, no caso, o desempenho. Ou seja, se o Santos tivesse visto Brad Pitt e Jonah Hill, não teria oferecido 300 mil reais por mês para Leandro Donizete em um contrato de três anos.

Terceiro: a história 

Neste fim de semana eu tive o prazer de ver a final da Copa do Mundo de 1970 entre Brasil e Itália, o ponto mais alto do futebol brasileiro na sua história. No dia seguinte, no mesmo canal (ESPN), vi o ponto mais baixo, Brasil e Alemanha em 2014.

Além da ligação tupiniquim, o praticado era outro esporte. Não importa aqui se era melhor ou pior, podemos até discutir isso outro dia, mas era algo completamente diferente. No jogo de 1970, o Gerson pegava a bola quase na sua área e ia até o terço final do campo rival sem uma viva alma chegar perto. Em 2014, o Khedira pegou a bola e… ok, não vamos lembrar.

Se você ver as finais entre Los Angeles Lakers e Philadelphia 76ers em 2001 e depois colocar as do ano passado entre Warriors e Cavaliers, mesma diferença. Não precisa nem ter 40 anos de diferença. E o Super Bowl XX comparado com o Super Bowl 50? Idem.

O beisebol é o esporte que menos mudou. Claro, os atletas ficaram mais ATLETAS, mas ainda tem os gordinhos que rebatem que nem condenados. Bartolo Colon ainda pode jogar nesta temporada (free agent no momento). O jogo em si, se você colocar todos os Yankees e todos os jogadores dos Red Sox em uniformes retrô no Fenway Park, você pode fazer uma recriação de 1978 em campo. A questão da estratégia mudou o entendimento do jogo, mas o jogo em si não mudou tanto.

Isso é ruim no sentido que o público mudou e a MLB vai ter que fazer algumas adaptações, como o relógio para o arremesso. Mas é ótimo porque dá perfeitamente para estabelecer parâmetros e fazer comparações porque a balança é basicamente a mesma. Não dá para comparar Pelé e Messi sem ter que fazer um contorcionismo do cacete para argumentar. Agora, um home run do Babe Ruth vale tanto hoje quanto valia em 1926 e tem basicamente a mesma dificuldade.

E também há que ser considerado que o baseball profissional remonta a 1869 nos Estados Unidos, enquanto o futebol americano profissional e o basquete profissional vieram muito depois e tiveram que lutar por décadas para se estabilizar. A história de Jackie Robinson, a rivalidade entre Yankees e Red Sox, as grandes filas, os estádios lendários, enfim, dá para dar um passeio pelos últimos 100 anos de um país nos ombros do esporte.

Conclusão

Não adianta chegar para ver um jogo de beisebol como você chega para ver uma corrida da Fórmula 1, uma partida do Campeonato Paulista ou o programa do Gugu. Não é o mesmo tipo de esporte e entretenimento. O baseball é uma questão de experiência, de todo um contexto, e por isso a diferença entre estádio e televisão deve ser a mais pronunciada entre todos os esportes.

Ao ver um jogo de beisebol, leve em conta a história, a estratégia intrínseca ao jogo e outras coisas que podem complementar isso: coma uma boa comida gordurosa, tome uma bela bebida, tenha uma doença coronária, faça uma aposta esportiva e preste atenção nos detalhes.

Para usar uma referência “amorosa”, é sobre a conquista e todo o processo, não o momento do vamo ver.

Escrito por Julio
Specialized in NBA and NFL, left Quinto Quarto in March 2021.