Chega de puritanismo! Chegou a hora do rebatedor designado universal

André Garda | 10/04/2019 - 08:00

David Ortiz, rebatedor designado do Red Sox
(Crédito: Instagram/reprodução)

Sou um cara tradicional em termos de beisebol e já defendi a diferença de regras da utilização do rebatedor designado (DH). Mas, hoje, venho com uma nova visão.

É uma questão de quando e não se a Major League Baseball irá mudar a regra da Liga Nacional e vou expor isso em instantes para vocês – que podem me chamar de traidor sim!

Antes disso, deixo aqui minha lamentação porque não poderemos ver mais cenas como essa:

O primeiro ponto é: que se dane a velha guarda. De acordo com pesquisa divulgada há dois anos, a média de idade dos fãs de beisebol é de 57, a maior marca entre os esportes americanos. Junto com isso: apenas 7% dos que acompanham o esporte têm menos de 18 anos.

Ponto para Rob Manfred. O comissário quer deixar o jogo mais dinâmico para atender esse público jovem e, sem esse público, esqueça. O beisebol morre. Então, não estou louco não.

Seguindo nessa toada, eu já falei e a lenda Joe Torre também: o problema do beisebol é a falta de bolas em jogo.

Na última temporada, os arremessadores tiveram aproveitamento no bastão de 11,5% (.115), on-base percentage de .144 e slugging de .149 em 4.524 at-bats. Números pífios.

Vale destacar: para cada Madison Bumgarner ou Max Scherzer, temos infinitos arremessadores ruins rebatendo. Isso que esses nomes mencionados também não são sinônimos de primor no bastão.

Se você é o nerdão do beisebol, então pega esse dado do ‘FiveThirtyEight‘.

Os pitchers tiveram weighted runs created plus (wRC+), que mede o peso na colaboração para criar corridas, de -25, enquanto os atletas na posição de rebatedor designado terminaram o ano passado com 109. Os arremessadores foram 125% pior que os rebatedores médios da MLB.

(Crédito: FiveThirtyEight)

Junta-se a isso o fato de que a Liga Nacional já tem sua espécie de rebatedor designado. Cada vez mais, os managers estão utilizando os pinch hitters, o que reduz o número de at-bats dos lançadores.

Fato comprovado, também pelo ‘FiveThirtyEight’, que mostrou que em 1973 (quando o DH começou a ser usado), os pitchers iam ao bastão 2,8 vezes por jogo e esse número caiu para 1,98 em 2019.

Aqui vem algo que acho essencial nesta discussão. Cada vez mais temos partidas interligas, o que expõe arremessadores ainda menos preparados (os da National League não treinam muito também) para rebater e correr as bases.

Com isso, vemos lesões toscas. Boladas são fatais. Correr em base é um risco iminente a cada segundo. E o risco é muito alto para a pouca emoção criada em um duelo entre pitchers.

Por fim, e aqui acho que é o motivo da Associação dos Jogadores defender a adoção do rebatedor designado, essa posição estende a carreira dos jogadores. Edwin Encarnación, Nelson Cruz, entre outros, seguem atuando muito por causa dessa posição.

E o bastão é recompensado nesse esporte, o que pode aumentar os salários e a longevidade de alguns jogadores mesmo com a free agency tendo esfriado nos últimos dois anos.

Cito também que cada vez mais atletas como David Ortiz e Edgar Martinez no fim da carreira (não defendiam mais) são unicórnios.

Prova disso é que apenas dois DHs foram ao bastão vezes o suficiente para brigarem pelo título de melhores rebatedores (average).

Assim, alguns nomes piores na defesa se beneficiarão (caso claro de Kyle Schwarber), e talvez o rodízio seja mais fácil. No entanto, podemos não ver especialistas e sim atletas que rodam como DH.

Amarrando tudo: arremessadores não sabem rebater. Precisamos de mais bola em jogo e o rebatedor designado pode ajudar nisso. A vida útil de alguns atletas pode aumentar com isso, assim como alguns salários.

Chegou a hora da modernidade e o beisebol precisa aceitar as mudanças apesar de sacrificar esse lado tático e o número de corridas e average entre as ligas ter sua diferença reduzida (4,59 corridas por jogo e .249 da Liga Americana contra 4,46 corridas por jogo e .247 da Liga Nacional com diferença de 414 at-bats).

Próximo passo depois do rebatedor designado? O fim da enrolação entre arremessos.

(Crédito: FiveThirtyEight)
Escrito por André Garda
Amante de esportes em geral e ex-jogador de beisebol. Apesar de preferir o passatempo americano e torcer pelo New York Yankees, me redimo ao acompanhar o sofrido Miami Dolphins na NFL e fico sem time da NBA.