NBA: por que Gui Santos joga tão pouco no Golden State Warriors?

Antônio Henrique Pires Collar | 06/02/2024 - 09:33

Os brasileiros fãs de NBA foram dormir contentes com a boa atuação de Gui Santos, do Golden State Warriors, na vitória sobre o Brooklyn Nets. O ala de 21 anos, formado no Minas Tênis Clube, saiu do banco de reservas nesta segunda-feira (5) e terminou a partida com 9 pontos, 5 rebotes, 2 bloqueios e 1 roubo de bola em 17 minutos em quadra. Todas as marcas foram as melhores de sua carreira desde que chegou aos Estados Unidos.

Ao mesmo tempo em que o desempenho gerou elogios de Stephen Curry e Steve Kerr, levantou o questionamento: por que Gui Santos joga tão pouco tempo pelos Warriors? Ontem foi apenas o nono jogo dele na temporada, todos saindo do banco, e apenas o segundo em que esteve presente por pelo menos 15 minutos.

A resposta está na falta de experiência. Apesar de já ter rodagem como profissional antes de chegar na à liga, ou mesmo de ter disputado a última Copa do Mundo de basquete, falta a Gui tempo de NBA. Depois de ter sido a 55ª escolha do Draft de 2022, o brasileiro passou a ser introduzido aos poucos à rotina da equipe. No ano passado, disputou 26 partidas (8 como titular) pelo Santa Cruz Warriors, afiliado do Golden State na G-League. Teve uma performance razoável, de 12.7 pontos e 5.9 rebotes em 50% dos aproveitamentos nos arrremessos.

Se os números não brilham aos olhos, o trabalho do dia a dia foi reconhecido pela diretoria da Califórnia, que em novembro anunciou a extensão contratual do garoto por mais três anos e que pode chegar a mais de U$5 milhões (R$25 milhões, na cotação atual) a depender de gatilhos que podem ser ativados.

Ainda que na NBA nada seja garantido para um atleta do status de Gui Santos, ele parece estar trilhando o caminho natural para um jogador de fora do país e que chega sem a badalação das jovens estrelas como Victor Wembanyama e companhia. Depois de batalhar na G-League e ter seu vínculo renovado, passou a cavar um espaço na rotação do time principal. Ontem chegou ao terceiro jogo seguido sendo aproveitado por Kerr pela primeira vez na carreira.

Como Gui Santos pode ajudar os Warriors?

A fase atual da equipe pode ser boa para o brasileiro. Com a temporada ruim dos Warriors, apenas o 12º colocado, a comissão técnica tem quebrado a cabeça para tentar encontrar soluções. Jovens como Brandin Podziemski têm oscilado entre o quinteto inicial e o banco de reservas, enquanto nomes como Lester Quinones passaram a ser chamados com mais frequência pelo treinador,

A alta minutagem de Gui ontem se deu em muito pela ausência de Andrew Wiggins, que foi preservado por conta de um problema no tornozelo. No último quarto de partida, ele foi usado ao lado de Draymond Green no garrafão, na função de ala-pivô. Com Green e Gui, Steve Kerr passou a ter um time mais baixo, mas com bastante mobilidade na defesa e uma transição rápida para o ataque, aproveitando os três bons arremessadores (Curry, Podziemski e Moses Moody).

Apesar dos nove pontos anotados, pontuar não deve ser a missão de Gui Santos no Golden State. Esta nem é uma das suas principais características, inclusive. A bola de 3 pontos ainda é uma das suas fragilidades, como mostram seus números pelo Santa Cruz (33.3% de aproveitamento em 2022-23, 26.1% em 2023-24). Hoje, a melhor forma de aproveitar a minutagem recebida é levando mais intensidade para jogo.

A fórmula usada no Barclays Center é a ideal para continuar ganhando pontos com o técnico. Com 203cm, Gui pode ser usado tanto como ala quanto como ala-pivô. Pode ter problema para conter homens mais fortes na defesa, mas compensa com uma boa mobilidade lateral e uma boa leitura. Além disso, é o tipo de jogador que consegue iniciar o contra-ataque após o rebote, o que há anos funciona com Green e facilita a vida de Curry, que não precisa correr a quadra com a bola.

Em resumo, hoje o papel do brasileiro é fazer o “trabalho sujo”. Brigar por rebotes, bloqueios, interceptações. São funções menos empolgantes do que vê-lo arremessar 15 vezes por noite, mas quando bem executadas têm um impacto enorme mesmo com pouco tempo, como vimos contra o Brooklyn Nets.

Escrito por Antônio Henrique Pires Collar
Formado em jornalismo pela PUCRS e em Basketball Analytics pela Sports Management Worldwide. Com passagem de 6 anos e meio pela editoria de Esportes do jornal Zero Hora e do portal GZH, de Porto Alegre.
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