NBA: MVP das Finais do Oeste, Luka Doncic já é o melhor do mundo?

Eduardo Barão | 01/06/2024 - 11:50

A NBA é uma liga de narrativas. O basquete é jogado, mas as narrativas imperam: são o que movem as discussões nos programas esportivos, nas redes sociais e tornam a liga mais do que apenas esporte. Liderando o Dallas Mavericks nas Finais da Conferência Oeste, Luka Doncic está muito próximo de pavimentar sua narrativa como melhor jogador do mundo. Faltam só quatro vitórias.

Tomar controle da própria narrativa, no entanto, não é fácil para um jogador. Não bastam os números, as aparições em All Star Game e os highlights. Pergunte a LeBron James, que teve a capacidade de ser decisivo questionada por anos antes de conquistar o primeiro título. Ou para o adversário de Luka nessas Finals, Jayson Tatum, cuja sequência de três anos no 1st Team All-NBA ainda não apaga da memória de muitos das más atuações nas Finals de 2022.

Muitas coisas ficam fora de seu controle, como o elenco ao redor e a força dos adversários. Pela primeira vez na carreira parece que Luka Doncic recebeu a melhor oportunidade de tomar as rédeas. E está mudando a imagem de ser um craque que não vence para a de um líder de um time vitorioso.

Heliocêntrico. Essa é a palavra usada para descrever o estilo de jogo de Luka Doncic. Ele não pede a bola, sua força gravitacional a puxa até ele. Os outros colegas de time, no ataque, o orbitam e nunca entram em seu caminho. Apenas se movimentam para receber, quem sabe, um passe bom para chutar de três.

Críticos de Luka apontam para a falta de sucesso dos Mavericks na temporada regular como prova das limitações desta forma de jogar. Doncic acumula pontos e triplos-duplos, enquanto o Mavericks não chegou entre os top 3 do Oeste em nenhum ano com ele. Fãs apontam que ninguém ganha jogos sozinhos, apesar de o Luka quase fazer isso.

Irving, PJ, Jones e Gafford compõem o ‘sistema solar’ de Luka Doncic

Começa com a formação do elenco do Mavericks. Após não renovar com Jalen Brunson depois da ótima campanha em 2022 que terminou com uma ida às finais de conferência, Dallas retornou à falta de identidade que afetava o time antes daquela temporada. Decidiram se mexer, trazendo Kyrie Irving e o time piorou. A falta de coesão ofensiva era exacerbada pela falta de alicerces defensivos. Os Mavs não foram para os playoffs em 2023.

A diretoria de Dallas sabia que precisava ser agressiva para manter sua estrela satisfeita. O trauma da saída de Kevin Durant do Thunder ainda ecoa na NBA e nenhum general manager quer que aquilo se repita em seu time. Trouxeram PJ Washington e Daniel Gafford. Derrick Jones Jr. foi colocado no time titular. Com os esquemas de Jason Kidd, o sistema solar de Luka Doncic começou a fazer sentido.

Agora, ele tem opções. Ele tem um finalizador nato ao seu lado, em Irving; ele tem opções de passe para cestas de três nos cantos, com Washington e Jones Jr; Gafford e o novato Dereck Lively II são ameaças de lob que irritam constantemente os pivôs adversários.

E mais do que isso, ele ainda tem ele mesmo. Luka Doncic é tudo o que prometia saindo do Real Madrid como MVP da Euroliga. É um jogador já 5 vezes 1st-Team All-NBA. Não foi eleito MVP ainda, mas é questão de tempo. Agora, tem uma caminhada épica de playoffs para chamar de sua.

“Quando cheguei em Dallas, ninguém nos conhecia. Tem sido divertido. Espero que possamos elevar o patamar e conquistar o anel para essa franquia”. Esta frase foi dita por Dirk Nowitzki após fechar as finais de Conferência de 2006, mas poderia ter saído da boca de Luka Doncic nesta semana. O esloveno de 25 anos igualou o feito que a lenda alemã Nowitzki conseguiu aos 28 ao levar o Dallas Mavericks para as finais da NBA.

Luka Doncic e Dirk Nowitzki
Luka Doncic e Dirk Nowitzki dividiram as quadras pelos Mavericks em 2019, primeira temporada de Doncic na NBA e ano de aposentadoria do alemão. Foto: Icon Sport

Naquele ano, Dirk queria acabar com a fama de “molenga” que tinha. Fracassou nas finais contra Miami e as críticas o seguiram mesmo após conquistar o MVP no ano seguinte. Em 2011, conseguiu se vingar e firmou sua narrativa: o maior europeu da história da NBA, dono de um arremesso de meia-distância tão plástico que foi eternizado como estátua na frente do ginásio do Mavericks.

Agora é a hora de Luka. No caminho, o seu maior desafio até agora: o Boston Celtics de 64 vitórias na temporada regular, 12-2 nos playoffs e um elenco completo. Kristaps Porzingis, a principal contratação do Celtics na temporada, foi um que não se deu bem no sistema solar de Luka Doncic e pode ser a carta na manga de Boston para levar o título.

Luka Doncic está muito perto de tomar controle da própria narrativa da carreira. De se colocar entre as lendas do esporte e de traçar uma trajetória vitoriosa. Falta vencer o melhor time da NBA em 2024. Afinal, todo herói de uma história precisa derrubar um Golias.

Escrito por Eduardo Barão
Eduardo Barão é jornalista, radialista, escritor e palestrante brasileiro, com mais de 20 anos de experiência. Atualmente, é correspondente internacional do Grupo Bandeirantes de Comunicação nos Estados Unidos. Apaixonado por esporte, cobriu nos ginásios as últimas finais da NBA.