— (Luka Doncic e Kyrie Irving) são a melhor dupla do Oeste.
A frase acima foi dita por Kevin Garnett, no podcast KG Certified, quando o Dallas Mavericks adquiriu o experiente armador do Brooklyn Nets, no início de fevereiro.
A reação, longe de ser uma empolgação individual, exprimia um sentimento quente ao redor da liga naquele momento: a notícia da poderosa união amedrontou os concorrentes. Nas palavras de Jayson Tatum, do Boston Celtics, “será assustador dois dos melhores pontuadores do jogo no mesmo time”.
Um mês se passou, e a promissora parceria realmente mostrou muita coisa boa. Menos resultados. Nos nove jogos em que dividiram a quadra, Doncic e Kyrie conseguiram somente três vitórias.
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Dallas é, para Kyrie, o que podemos chamar de um “novo recomeço”. O termo esbarra no pleonasmo, mas é necessário para descrever a mais recente — talvez derradeira? — empreitada do astro.
Forte candidato ao título de jogador mais problemático da NBA, o novo armador dos Mavericks detém um cartel de polêmicas capaz de invejar até o mais transgressor dos esportistas.
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Entre ausências forçadas por recusar a vacinação contra a COVID-19 e debates contundentes sobre a circunferência da Terra, Kyrie Irving se tornou uma dualidade complexa: ao mesmo tempo em que é reconhecidamente um dos mais habilidosos ball handlers já vistos, a liga já sente dificuldade em confiar nele.
O Dallas Mavericks, porém, estava desesperado.
Finalista da Conferência Oeste há menos de um ano, o time do Texas percebeu que exigia demais de sua principal estrela. Luka Doncic se afirmava, noite após noite, um colecionador de atuações e estatísticas grandiosas — até fevereiro, ele já havia anotado 50 ou mais pontos em quatro jogos da temporada.
Luka Doncic depois de anotar:
60 Pontos
21 Rebotes
10 Assistências"Eu tô cansado demais, preciso de uma cerveja pra me recuperar"
MITO, LENDA, GOAT
pic.twitter.com/Mkry16FcxA— NBA do Povo ??? (@NBAdoPovo) December 28, 2022
Mas era visível que o esloveno precisava de ajuda. Então, em um esforço otimista para enxergar a genialidade acima da loucura, os Mavs viram em Kyrie a perspectiva de um futuro mais promissor. E bancaram a aposta.
Seu desempenho pessoal até aqui não deixa a desejar. São 27,5 pontos e 6,6 assistências de média desde que trocou Brooklyn por Dallas. Enquanto isso, o relacionamento com Doncic dá sinais de que pode se tornar um animador bromance.
Luka and Kyrie already building that chemistry off the court ? (via benkirschner/IG) pic.twitter.com/tnEfDPqRx7
— Overtime (@overtime) February 20, 2023
As polêmicas da carreira de Kyrie Irving
Na lista de parceiros memoráveis de Kyrie, Doncic divide espaço com alguns nomes de respeito. Antes de 2023, houve o hype pelas duplas de Irving com LeBron James, Jayson Tatum e Kevin Durant.
Todas elas começaram muito promissoras e terminaram com Irving, invariavelmente, abandonando o barco.
Em Cleveland, onde conquistou o título na temporada 2015-16, pediu uma troca que o permitisse ser mais protagonista. Pegou um avião para Boston enquanto torcedores dos Cavs queimavam camisetas com seu nome.
A passagem pelo TD Garden, que começou em 2017, foi breve, mas impactante. O então camisa 11 chegou a prometer que renovaria o contrato e até sonhou em ter seu número aposentado pela franquia. Tudo isso, porém, ficou mesmo no mundo dos sonhos. Depois de dois anos, preferiu mudar de ares e seguiu para Nova York, enquanto torcedores dos Celtics também queimavam camisetas com seu nome.
Sad Cavs fans are out here already Burning Kyrie Irving jerseys. ???? pic.twitter.com/zvnBDZq3yb
— TPS (@TotalProSports) July 31, 2017
Um momento inusitado dessa história aconteceu em 2018, quando a equipe encarou os Cavaliers no Jogo 7 das finais do Leste, valendo vaga na grande decisão da NBA. Lesionado, Kyrie estava fora da escalação, mas nem sequer apareceu para apoiar seus companheiros no encontro, em Boston. O motivo: uma cirurgia para corrigir seu desvio de septo.
Um péssimo desempenho que contribuiu para a eliminação na série contra os Bucks nos playoffs de 2019 marcou o fim da trajetória em Massachusetts. Próxima parada: Brooklyn.
Com LeBron e Tatum no passado, todos os olhos miravam a nova grande parceria do basquete em Nova York: Irving e Kevin Durant. E não, o final dessa história não tem surpresa alguma. No total, em três temporadas e meia, ele foi desfalque 135 vezes.
Depois de declarações fortes, algumas lesões, outras tantas polêmicas e um desacordo sobre renovação contratual, veio o pedido de troca. E os Nets enviaram o armador para Dallas, o que nos traz até o capítulo atual dessa novela extremamente atribulada.

No caminho até aqui, Kyrie fez questão de mesclar momentos preciosos e decisões infelizes na grande montanha-russa que tem sido sua carreira.
Houve a vez em que ele optou por não tomar a vacina contra a COVID-19. Na época, uma lei da cidade de Nova York barrava a entrada de pessoas sem comprovante de vacinação em locais fechados.
Visto que seu time tinha sede em Nova York e os jogos da NBA não acontecem ao ar livre, a prosa não poderia acabar bem. Resultado: o armador ficou impedido de atuar nos jogos do seu time em casa.
Não só as atitudes se mostravam frequentemente controversas, mas as declarações do astro, também, seguiam o mesmo curso. De falas sobre sua crença de que a Terra não é redonda — pelas quais, é verdade, ele se desculpou posteriormente — até uma postagem com teor anti-semita no Twitter, o acervo de crises sob seu nome é bastante extenso.
Kyrie, Doncic e os Mavs
“Ok, mas como isso afeta os Mavericks?”, pode perguntar o inocente torcedor ou torcedora.
Bom, para início de conversa, Kyrie Irving está com 30 anos de idade e não mostra sinais de declínio dentro de quadra. Com a bola nas mãos, o armador segue uma ameaça às defesas adversárias e um jogador de amplo recurso técnico.
KYRIE USANDO SEU REPERTÓRIO DE DRIBLES!!! ???#MFFLpic.twitter.com/zlowXzwbYB
— Camisa 23 (@camisa_23) March 8, 2023
E é exatamente aí que reside a esperança do técnico Jason Kidd e de toda a organização. A chegada da controversa estrela de Nova York foi um afago à própria estrela eslovena, cujo descontentamento com a equipe já era tema de rumores cada vez mais quentes nas mesas de bar de Dallas e nos círculos internos da liga.
Luka Doncic, assim, ganhou um companheiro para dividir as responsabilidades, a atenção dos defensores e, ocasionalmente, algumas risadas na lateral da quadra.
Então o plano deu certo, a profecia de Kevin Garnett se concretizou e a NBA agora tem um novo favorito ao Larry O’Brien?
Não exatamente. Mas a chegada de Kyrie ao Texas tem apenas um mês e, embora não tenha, até o momento, alavancado os Mavs na classificação, ainda merece mais tempo para ser avaliada como um absoluto sucesso ou um retumbante desastre — ou qualquer coisa no meio disso.