Quinze anos de carreira, 12 títulos entre clubes e seleção, 4 equipes defendidas, uma Bola de Ouro e um título de Copa do Mundo com a Seleção Brasileira. Este é currículo de Ricardo Izecson dos Santos Leite, ou apenas Kaká. Apesar da introdução, o brasileiro de 41 anos dispensa apresentações. Ídolo por onde passou, Kaká acumulou conquistas e experiências pelos três continentes onde jogou futebol. Cinco anos após anunciar a sua aposentadoria dos gramados, o ex-meio campista do São Paulo, Milan, Real Madrid e Orlando City, da MLS, agora viver os dias como um aluno dedicado, e se prepara para virar dirigente ou, quem sabe, dono de um clube.
Na sua carreira profissional, Kaká viveu os seus últimos anos como jogador atuando pelos gramados norte americanos, enquanto defendia a camisa do Orlando City. Em três temporadas com o time da Flórida, Kaká atuou em 77 jogos e marcou 25 gols antes de decidir pendurar as chuteiras. Por lá, o objetivo do jogador era claro: aproveitar os seus últimos anos como jogador profissional e ajudar a desenvolver a principal liga de futebol dos Estados Unidos. No fim, as duas coisas foram bem sucedidas. Hoje, cinco anos após deixar os gramados, o Brasil crê no crescimento da MLS, que agora pode ver de perto astros como Messi, Suárez e outros grandes nomes que marcaram época no futebol europeu.
Em entrevista exclusiva para o Quinto Quarto, o último brasileiro a vencer o prêmio de melhor jogador de futebol do mundo, conversou sobre o momento da MLS e dos esportes nos Estados Unidos, do convite que recebeu da Seleção Brasileira, da família, do futuro dentro do esporte e ainda revelou a possibilidade de se tornar dono de um clube de futebol.
Nesta entrevista exclusiva com Kaká, você também vai ler sobre:
- O que Kaká está fazendo depois da aposentadoria;
- O que acha do momento da MLS e como vê o futuro da liga;
- Propostas de clubes e da CBF para cargos de dirigente;
- Possibilidade de ser dono de um time;
- Torcida no Super Bowl LVIII.
Confira a entrevista exclusiva de Kaká no Quinto Quarto:
Quinto Quarto: Para atualizar seus fãs. O que o Kaká está fazendo profissionalmente nesse momento?
Kaká: Desde que parei de jogar eu quis estudar um pouco mais o futebol, entender um pouco mais de outras áreas através do futebol. Por isso, fiz alguns cursos de gestão e de treinador. Além disso, faço uma série de eventos com FIFA e UEFA. Vendo como funcionam as Federações, associações, liga. É um período de preparação e estudos. E tem também os eventos dos Legends, com jogos comemorativos e eventos pelo mundo todo. Na parte pessoal, hoje tenho 4 filhos, e tenho aproveitado esse tempo para ficar perto da família.
E nessa rotina você ainda consegue acompanhar a MLS e o Orlando City? É um grande momento para o futebol nos Estados Unidos com Copa América e Copa do Mundo nesses próximos anos.
Kaká: É um grande momento. Eu procuro estar sempre acompanhando. Especialmente os clubes onde joguei. Estou sempre em contato com esse novo grupo que assumiu o clube após a saída do Flavio (Augusto da Silva, antigo proprietário), para seguir com esse link e a relação com clube.
Falando sobre essas estrelas que estão chegando na MLS, como Messi e Suárez. Você foi um dos primeiros a vir pra cá. Finalmente os Estados Unidos aparecem como uma grande possibilidade para esses jogadores acima de média?
Kaká: O trabalho que os Estados Unidos estão fazendo é de longo prazo e com uma base muito bem fundamentada. Todos os clubes, independente da grande estrela, tem estádio, tem CT, base de fãs, o envolvimento da cidade. Quando vem o grande nome, ele vira a cereja do bolo. Foram várias fases da MLS, com a chegada do Beckham, depois a minha geração, comigo, Pirlo, Lampard, Villa, Gerrard. E vem agora essa nova onda com o Messi, atual Bola de Ouro jogando na MLS. Então, essa construção faz com que a liga tenha essa possibilidade. Eu acredito que sim.
Depois dessa passagem de Messi, Busquets, Suárez e Alba, entre outros, virão outros nomes de peso. Mas eu também acho que a MLS vai controlar esse crescimento. Principalmente com relação aos salários. Hoje, se um bom jogador tiver que decidir entre um clube médio na Europa ou ir jogar nos Estados Unidos, pela questão financeira, ele prefere ficar na Europa. Eu acho que em algum momento essa questão pode mudar e aí o nível técnico vai aumentar ainda mais.
Chegou a ter uma especulação recente de que você poderia assumir um cargo na diretoria do Orlando City. Essa conversa aconteceu?
Kaká: Eu tive algumas conversas sim. Tivemos conversas de aproximação para ver como poderíamos ter essa troca de experiencia. Ainda existem algumas conversas, mas bem por cima. Não entramos em detalhes sobre nada ainda. Foi mais uma aproximação para os dois lados se conhecerem.
Seu nome também foi muito comentado na CBF, para assumir um cargo na Seleção Brasileira. Por que não aconteceu?
Kaká: Recebi o convite realmente. Acabei não aceitando por questões pessoais, familiares. Fiquei muito grato, mas não era o momento. E ainda não é. Quero aproveitar um pouco mais esse tempo familiar. Eu sei o quanto demanda o futebol para se fazer um trabalho bem feito. E, no momento, foi essa escolha que eu fiz.
Você foi convidado para voltar como um dirigente praticamente por todos os locais onde jogou. São Paulo, Milan, Orlando City, Seleção Brasileira. Sua resposta foi a mesma para todos?
Kaká: Exatamente. Fiquei muito feliz por todos esses convites. Seja para ser diretor ou embaixador do clube. Mas, entendi que precisava mais desse tempo com minha família. Com meus filhos e com minha esposa. Acredito que isso vá acontecer em algum momento, mas por enquanto minha decisão foi de não voltar ainda.
De jogador a dirigente: Kaká comenta possibilidade de virar dono de clube
Você coloca algum prazo para isso acontecer? E quando acontecer, você tem alguma preferência: Brasil, Itália, Estados Unidos.
Kaká: Não. Não coloco prazo. Até para não me pressionar. Quero deixar as coisas acontecerem. Estou me aprimorando, conversando com muita gente, entendendo como a indústria funciona. E também não tenho prioridade de onde começar. Provavelmente será em algum dos lugares onde eu joguei, mas não tenho a preferência por Brasil, Itália ou Estados Unidos.
E sobre ser dono de um clube? Nos estamos vendo alguns jogadores indo pra esse caminho, como o Ronaldo, o David Beckham. Você pensa nessa possibilidade?
Kaká: É uma das coisas que eu penso sim. Ter um time. Assim você acaba participando um pouco mais diretamente das decisões estratégicas, decisões de negócios, participar do todo. Gosto muito dessa ideia de uma gestão geral. É algo que eu gostaria, mas ainda não encontrei uma oportunidade nesse sentido. Não apareceu um projeto para que eu participe como sócio que eu tenha visto a chance de um trabalho a longo prazo. Até porque, nesse meu período de estudos, eu vi o tanto que há de riscos, principalmente financeiro, dentro dessas questões. Por isso vou sempre com muita cautela. Sei da dificuldade que foi pra eu conseguir minha saúde financeira e não vou entrar de uma forma equivocada.
Imagina se o São Paulo abre a possibilidade para criar uma SAF? Acho que o torcedor gostaria de vê-lo nessa.
KK: Já pensou? Eu acho que a SAF é um caminho interessante para os clubes do futebol brasileiro. A grande vantagem da SAF, além da questão de você ter outras formas de receitas e de investimentos, é você poder controlar uma gestão. Então, pra mim, essa é uma grande vantagem. Não significa que a gestão vai ser boa em todos os casos. Mas o fato de você poder escolher os profissionais dentro de uma SAF, diferente do modelo associativo, onde muitas vezes são cargos políticos e com outros interesses, eu acho que realmente é uma grande vantagem da SAF. E, por isso, eu acho que a maioria dos grandes clubes brasileiros vai demorar um pouco mais pra ter essa mudança.
Pra quem Kaká vai torcer no Super Bowl?
Saindo um pouco do futebol (soccer). Sei que você acompanha bastante as ligas nos Estados Unidos. Teremos Super Bowl na próxima semana. E aí, quem leva: 49ers ou Chiefs?
KK: Eu acompanho bastante. Desde antes de morar nos Estados Unidos eu já acompanhava e depois que mudei pra lá, mais ainda. Aprendi a gostar muito da NFL. No último domingo, fiquei até tarde da noite assistindo 49ers e Lions, um jogão. E agora essa final que se repete entre 49ers e Chiefs. Acredito que os Chiefs sejam os favoritos, embora essa final de conferência tenha dado muita força aos 49ers. Gosto muito do Mahomes, acho que ele é um quarterback diferenciado. Não vou torcer pra ninguém, vou assistir porque gosto do jogo, acho divertido, estratégico, acho espetacular.