Camisa 10 do DC United, Gabriel Pirani fala sobre MLS, Messi e retorno ao Brasil

Estevan Ciccone | 10/03/2024 - 11:30

Não é de hoje que a MLS tenta mudar a sua imagem no futebol mundial. Antes vista como a “liga dos aposentados”, hoje o principal produto de futebol dos Estados Unidos vive outros tempos. E esta sina ficou totalmente para trás depois que o Inter Miami chocou o mundo ao anunciar a contratação de Lionel Messi, eleito o melhor jogador do mundo em 2023 e, certamente, titular em qualquer equipe do futebol europeu.

Outro grande nome do futebol argentino, desta vez uma promessa, Thiago Almada fez, em 2022, o que muitos poderiam pensar ser uma loucura: deixou de lado as inúmeras propostas do futebol europeu para atuar nos gramados norte-americanos. Aos 20 anos, o meia-atacante campeão da Copa do Mundo com a Argentina, assinou com o Atlanta United por 16 milhões de dólares, cerca de R$ 82 milhões na cotação da época, valor recorde na história da MLS.

Caso parecido com o de Gabriel Pirani, que aos 21 anos deixou o Fluminense, onde jogava por empréstimo cedido pelo Santos, para assinar com o DC United. Deixou um grande time e partiu para a MLS, uma das ligas mais promissoras do mundo, que mudou seu estilo, segue de olho nos craques mais experientes, mas, cada vez mais, busca jovens atletas para elevar o nível de competitividade.

Em entrevista exclusiva ao Quinto Quarto, o ex-jogador de Santos, Cuiabá e Fluminense, Pirani, hoje no DC United, comentou sobre a sua adaptação no futebol dos Estados Unidos, a cultura do país, jogo contra Messi e objetivos da equipe na temporada.

Nesta entrevista exclusiva com Gabriel Pirani, você também vai ler sobre:

  • Adaptação na MLS;
  • Conversa com jovens brasileiros que querem ir para a MLS;
  • Trocar o Brasil pela MLS;
  • Ser treinado por Wayne Rooney
  • Encontro com Messi e objetivos para a temporada do DC United;
  • Volta ao Brasil?

Confira a entrevista exclusiva de Gabriel Pirani, da MLS, no Quinto Quarto:

Quinto Quarto: Você chegou na MLS no final do ano passado. Como está sendo essa adaptação ao futebol nos Estados Unidos?

Gabriel Pirani: Eu ainda estou passando por um processo de adaptação. Ainda mais por que eu perdi grande parte da pré-temporada, por estar com a seleção sub 23. São ideias novas, novos companheiros, uma outra metodologia de trabalho. Eu cheguei, depois de três dias tivemos um amistoso. Na semana seguinte já foi a preparação para nossa estreia. Então foi pouco tempo. Eu ainda estou conhecendo melhor meus companheiros e a comissão técnica e eles a mesma coisa comigo.

QQ: O que é o mais difícil nessa adaptação? O estilo de jogo ou o clima em alguns locais nos Estados Unidos?

Pirani: Quando eu cheguei eu peguei o finalzinho do frio. Antes de eu chegar estava bem mais frio. Então isso não pegou tanto. Eu diria que a questão é mais conhecer o novo método de trabalho mesmo. É diferente. Eu estava na seleção e era um estilo de jogo diferente. Aqui eu tenho que me entrosar com os novos companheiros, entender o estilo deles, como cada um gosta de receber a bola… são os detalhes que acabam fazendo a diferença. Isso é o que pesa mais. O pouco tempo que eu tive de trabalho com o time.

Gabriel Pirani, MLS
Camisa 10 do DC United, Gabriel Pirani é uma das esperanças da equipe para a temporada. Foto: Icon Sport

QQ: Você é o único brasileiro do time. O quanto isso atrapalha na adaptação? Por outro lado ajuda a acelerar o aprendizado na língua local. Você se comunica bem em inglês?

Pirani: Eu entendo muito melhor do que eu entendia no ano passado, por conta das aulas que estou fazendo. O Pedro Santos, que é português, me ajuda bastante. O Dajo (Cristian Dajome, colombiano) e o Martin (Martin Rodriguez, chileno) também estão sempre comigo. Além de todo o time e staff. Os americanos foram bastante acolhedores comigo. Isso facilita bastante. Mas eu quero aprender bem o inglês por que sei que isso vai ser importante pra minha carreira e pra minha vida também.

Eu converso com muitos brasileiros que me perguntam como funcionam as coisas aqui. Tem muitos jovens que estão querendo vir pra cá.

QQ: Você tem contato com os outros brasileiros da liga? E tem muito brasileiro que te procura e tem interesse em jogar na MLS?

Pirani:  Eu falei muito, recentemente, com o Gabriel Pec, que está no LA Galaxy. Ele me perguntou bastante coisa sobre a liga. Eu converso com muitos brasileiros que me perguntam como funcionam as coisas aqui. Tem muitos jovens que estão querendo vir pra cá. A liga cresceu muito, tem grandes jogadores e dá espaço e tempo para os mais novos.

QQ: O que fez você chegar na MLS? Como foi sair de um grande clube do Brasil e vir para os Estados Unidos?

Pirani: Eu estava muito feliz no Fluminense. Eu vinha jogando, com bastante minutagem, um técnico que conhecia meu trabalho. Eu não esperava, sinceramente, sair naquele momento. Eu sai do Santos no inicio do ano e no meio, mais pro final do ano, acabei vindo pra cá. Pesou pra eu vir também o fato de o (Wayne) Rooney ser o técnico aqui naquele momento. E eu sentia que eu poderia ter um protagonismo um pouco maior aqui. Eu vinha bem no Fluminense, jogando, marcando gols, e sou muito grato ao clube e torcerei sempre pelo Fluminense. Mas eu entendi que aqui eu poderia ter mais sequência e protagonismo.

Gabriel Pirani, MLS
Jovem promessa do DC United, Gabriel Pirani vive expectativa para a temporada 2024. Foto: Icon Sport

QQ: E como foi essa experiencia de trabalhar com o Wayne Rooney?

Pirani: Foi por pouco tempo, mas foi bom. Ele deixava o ambiente muito bom. Acho que só de você estar convivendo com alguém desse nível, um ídolo, já é muito importante. Foi muito boa a chance de conviver com ele.

QQ:  Por falar em ídolo, no próximo sábado (dia 16/03) o DC United vai enfrentar o Inter Miami. Chance para dois camisas 10 se encontraram em campo: Gabriel Pirani e Lionel Messi. Que momento, hein?

Pirani: Primeiro, vai ser um privilégio dividir o campo com ele. Não sou só eu que acompanho e aprecio o futebol dele. Vou ver ao vivo o que eu sempre o vi fazendo pela TV. Mas, claro, sempre buscando o melhor resultado para o meu time.

Eu estava muito feliz no Fluminense. Eu vinha jogando, com bastante minutagem, um técnico que conhecia meu trabalho. Eu não esperava sair naquele momento.

QQ: Depois de uma temporada que não foi boa no ano passado, qual a expectativa pro DC United em 2024?

Pirani: Nosso time esta mais competitivo do que era no ano passado. Como eu cheguei no final do ano passado, eu peguei o carro andando. Não que esse ano eu tenha conseguido fazer toda a preparação com o time, mas estou pegando as primeiras partidas. O time esta com outra mentalidade e acreditando que pode chegar aos playoffs. E ai será outro campeonato.

QQ: E como você esta acompanhando o futebol brasileiro? Tem objetivo de voltar um dia?

Pirani: Eu acompanho sempre. Fiquei muito triste com o que aconteceu com o Santos. É o time que me revelou, que mudou minha vida, a vida da minha família, a cidade onde tenho residência no Brasil, então eu sigo acompanhando e torcendo pelo Santos. E eu tenho também um carinho muito grande e uma torcida pelo Fluminense. Pelo o que vivi lá, por como eu fui recebido, onde eu ganhei meu primeiro título. Fiz parte da campanha da Liberadores também, joguei todas as partidas da primeira fase. Sobre voltar, ainda é cedo pra falar. Eu acabei de chegar, estou focado aqui e deixo o futuro pra Deus.

Escrito por Estevan Ciccone
Estevan Ciccone trabalhou por mais de 20 anos no Grupo Band, onde foi estagiario, produtor, editor, coordenador, blogueiro, reporter, apresentador, comentarista e correspondente internacional. Ja cobriu Copas do Mundo, Jogos Olimpicos, Jogos Panamericanos, Formula 1, NFL e Finais de NBA. Passou tambem por TV Record, Revista Placar e Dazn. Atualmente na NBA Brasil e, agora, no Quinto Quarto.