A marca de Wembanyama que ninguém na NBA conseguiu nos últimos 30 anos

Antônio Henrique Pires Collar | 13/02/2024 - 18:20

Não se deixe enganar pela tabela de classificação, a temporada de estreia de Victor Wembanyama na NBA tem sido tudo aquilo que se esperava. Na segunda-feira (12), o fenômeno francês mostrou novamente seu lado dominante na vitória por 122 a 99 do San Antonio Spurs sobre o Toronto Raptors: 27 pontos, 14 pontos e impressionantes 10 bloqueios.

A marca não chega a ser uma novidade na história da liga, mas fala muito sobre as transformações do basquete nas últimas décadas e o possível impacto de Wemby no futuro. Ele se tornou o 15º novato a terminar com ao menos 10 tocos, mas somente o segundo a fazê-lo neste século. Isso não acontecia há 20 anos, quando Josh Smith, do Atlanta Hawks, atingiu o mesmo número. O recorde é de Manute Bol, com 15, em 1986.

Apesar dos 20.4 pontos e 10.1 rebotes de média, bloquear arremessos adversários tem sido um dos cartazes do grandalhão de 224cm. Ele lidera a competição em tocos, 3.2 por jogo, mais do que qualquer outro rookie nos últimos 30 anos. Prestes a completar 50 partidas como profissional nos Estados Unidos, a sensação europeia liquidou todas as dúvidas que havia sobre a adaptação física ao estilo norte-americano.

Para isso, Wemby revelou ter ganhado cerca de cinco quilos de massa muscular entre junho e outubro, parte do projeto de desenvolvimento com os especialistas dos Spurs. A força física vai ser importante para que o garoto continue subindo de nível, mas a versão de estreia de Wembanyama confirma muitas das expectativas criadas quando foi descoberto no basquete francês.

Para os torcedores de San Antonio, os números são animadores e remetem tanto ao passado quanto ao futuro da franquia. Entre os 20 calouros com mais tocos por jogo nos últimos 30 anos, apenas um nome da lista teve médias de pontos e rebotes superiores às do 1: Tim Duncan, cinco vezes campeão pelo time do Texas e maior ídolo na história dos Spurs. A diferença é pequena, 21. pontos e 11.9 rebotes para Duncan, além de 2.5 bloqueios.

O rival histórico de Wembanyama

Se hoje a principal rivalidade da NBA é entre Nikola Jokic e Joel Embiid, dois pivôs de bastante domínio físico, o futuro da liga parece inevitavalmente apontar para as disputas entre Victor Wembanyama e Chet Holgrem. O jogador do Oklahoma City Thunder também é uma máquina de bloqueios e, no ranking de novatos nos últimos 30 anos, fica entre Wemby e Duncan: é o segundo colocado, atrás do seu concorrente ao prêmio de rookie da temporada, mas logo à frente da lenda dos anos 2000.

Atletas com as características semelhantes às de Holgrem e Wemby já tinham surgido nos últimos anos, é verdade. Bol Bol, filho do lendário Manute, é frequentemente apontado por Shaquille O’Neal como uma “versão anterior” da estrela francesa, por exemplo. A análise de Shaq não chega a ser loucura, já que Bol tem altura parecida, 221cm, e um estilo de jogo que também chamou atenção pela desenvoltura pouco comum em jogadores tão altos. Fora isso, a distância é oceânica.

Voltando aos rivais, portanto. Apesar de ter sido draftado em 2022, Chet Holgrem perdeu seu primeiro ano como profissional por conta de uma lesão. Em 2024, é peça-chave na surpreendente campanha de OKC, segundo colocado dentro da Conferência Oeste. Ele contribuiu também com 16.8 pontos e 7.5 rebotes. Ele não chega a ser um gigante do porte de Wembanyama, mas também figura entre os mais altos da NBA, com 216cm.

Além da altura, os dois sempre chamaram atenção pela estrutura física bastante magra, característica historicamente vista como negativa para jogadores de garrafão. Chet, inclusive, teve de lidar com a desconfiança gerada após perder a temporada passada por conta de um problema ocasionado em uma partida amistosa durante a offseason.

Hoje, mesmo em cenários completamente opostos, os dois são pilares tanto no ataque quanto na defesa dos seus times e, mesmo como novatos, devem terminar a temporada entre os nomes que mais bloquearam arremessos na competição. Hoje, Wemby é o primeiro (153) e Holgrem o terceiro (138).

Se há 15 anos era difícil imaginar atletas com a altura e o peso de Wembanyama e Holgrem dominando uma liga de homens tão fortes quanto a NBA, talvez a mensagem passada pelos calouros seja a de que o futuro do basquete deve passar por jogadores que de tão raros costumam a ser chamados de unicórnios.

Escrito por Antônio Henrique Pires Collar
Formado em jornalismo pela PUCRS e em Basketball Analytics pela Sports Management Worldwide. Com passagem de 6 anos e meio pela editoria de Esportes do jornal Zero Hora e do portal GZH, de Porto Alegre.