A cerca de três meses dos Jogos Olímpicos de Paris, dois franceses aparecem entre os três nomes que disputam o prêmio de melhor defensor da NBA. Rudy Gobert, ganhador em 2018, 2019 e 2021, é o favorito na corrida contra o jovem fenômeno Victor Wembanyama e o norte-americano Bam Adebayo.
Gobert não é o favorito dos fãs nem dos jogadores. No Draft do All-Star de 2021, não foi escolhido e sobrou para o time de Kevin Durant. No ano seguinte, foi o último selecionado. Em pesquisa anônima divulgada pelo site The Athletic nesta semana, seus companheiros de liga o elegeram como o mais superestimado. Quando o questionamento foi sobre o melhor defensor, o nome do pivô do Minnesota Timberwolves foi apenas o sexto mais lembrado.
Ele também não é o mais querido pelas lendas do passado. Em 2021, quando Rudy Gobert renovou o contrato por cinco anos e U$205 milhões com o Utah Jazz, Shaquille O’Neal ironizou dizendo que o francês deveria servir de inspiração para as crianças, pois “ganhava U$200 fazendo 11 pontos por jogo”. O tetracampeão da NBA ainda postou nas redes sociais uma montagem em que aparecia enterrando sobre Gobert. “Eu faria 45 pontos, 16 rebotes e perderia 10 lances-livres nos três primeiros quartos”, escreveu na legenda.
Rudy Gobert é o melhor defensor da NBA
Como pode alguém tão pouco admirado por atletas e público ser tantas vezes premiado na liga mais difícil do mundo? A verdade é que os motivos são muitos, mas a resposta simples é que Rudy Gobert é o defensor mais eficiente da NBA. Ainda que o número de bloqueios de Wembanyama impressione, com média de 3.6 por jogo e 24 partidas com ao menos cinco tocos, ninguém perturba mais o ataque adversário do que o veterano de 31 anos.
Gobert foi o líder da temporada tanto em Defensive Rating, métrica que calcula o impacto sem a bola de um jogador versus a produção do oponente contra ele, quanto em Defensive Win Shares, que estipula a contribuição defensiva de uma atleta para o número de vitórias da sua equipe. Terminou com a segunda maior média de rebotes, 12.9, além de ser o sexto melhor em tocos, com 2.1 por noite. No ranking daqueles que mais contestam arremessos de dentro do garrafão, ficou em quarto, com 9.3 lances assim.
Some este desempenho individual – se é que alguma estatística defensiva pode ser considera individual – à performance dos Timberwolves no lado de trás da quadra. O time terminou a fase classificatória com 108.4 pontos sofridos a cada 100 posses, melhor marca da NBA. Em 2022, último ano da franquia sem Gobert, Minnesota ficou com a 13ª posição deste ranking, com 111.0. Nas listas de pontos sofridos no garrafão e pontos cedidos em segunda chance, quando o adversário pega o rebote ofensivo, os Wolves ficaram no segundo e no quarto lugar, respectivamente.
A evolução de Rudy Gobert
Mas estes são os números que vão para as planilhas oficiais, e o impacto de um defensor não pode ser medido somente por isso. Se no início da carreira o jogo de Gobert sem a bola limitava-se ao de um protetor de aro, com o tempo ele passou a ocupar outros espaços dentro e fora do garrafão. Atualmente, já não se sente desconfortável quando precisa trocar para contestar arremessos ou fechar caminhos na média distância e na linha de três pontos.
Vamos tomar como exemplo sua atuação na vitória diante do Phoenix Suns, terça-feira, pelo primeira rodada dos Playoffs de 2024. No box score, Gobert foi creditado com três roubos de bola e um bloqueio. Na prática, forçou três turnovers de Jusuf Nurkic e outros de Grayson Allen, Bradley Beal e Devin Booker.
Em 39 minutos, contestou 22 arremessos e permitiu que apenas oito deles fossem convertidos. Contra Gobert, Nurkic terminou a noite com quatro acertos em nove tentativas, enquanto Bradley Beal e Drew Eubanks mataram duas de quatro bolas tentadas cada. Principais estrelas dos Suns, Devin Booker (0-3) e Kevin Durant (0-2) ficaram zerados diante do pivô.
Enquanto Rudy Gobert espera para se tornar o terceiro jogador na história a ganhar quatro vezes o troféu de melhor defensor da NBA, igualando Ben Wallace e Dikembe Mutombo, o Minnesota Timberwolves caminha para vencer sua primeira série nos Playoffs em 20 anos. Com o resultado da última noite, o time abriu 2 a 0 de vantagem e agora embarca para o Arizona nos próximos dias em busca da classificação à semifinal da Conferência Oeste. E o francês parte fundamental nisso, mesmo que alguns fãs e jogadores não consigam ver.