Trezentos e cinquenta e dois dias depois, Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers começam seu segundo embate nas finais da NBA. Em 2015, a série terminou 4 a 2 para os californianos, que venceram um título depois de 40 anos de seca. Agora a equipe de Ohio pode argumentar que chegou a vez de ganhar, depois de duas finais fracassadas, 46 anos de história da franquia sem um título e também encerrar a maldição da cidade de Cleveland. Só falta avisar Stephen Curry e companhia.
Vários acontecimentos dignos de nota aconteceram nesse período. Os dois times mantiveram praticamente todos os jogadores, sendo a maior transferência a virada de casaca de Anderson Varejão. Na temporada regular as equipes se enfrentaram duas vezes e ficou claro que os Warriors, que terminariam batendo o recorde histórico de vitórias nos 82 jogos (73-9), não estavam para brincadeira. Foi uma vitória no dia de Natal por 89 a 83 e uma surra histórica na Quicken Loans Arena, 132 a 98, em 18 de janeiro.
Só que de janeiro até junho muita coisa pode mudar. E mudou para os Cavaliers. A equipe passou por uma boa turbulência, demitiu o treinador David Blatt, promoveu o assistente Tyronn Lue ao cargo e viu LeBron James mais uma vez aumentar o nível de intensidade e levar sua equipe junto, envolvendo no processo Kyrie Irving e Kevin Love.
Portanto, vamos começar pelos Cavaliers e como eles podem ganhar as finais da NBA pela primeira vez na história.
Antes, confira aqui os dias e horários dos jogos das finais da NBA.
Como os Cavaliers podem ganhar
Ter Kevin Love (17,3 pontos por jogo nos playoffs) e Kyrie Irving (24,3 pontos) inteiros nas finais, diferentemente de 2015, abre possibilidades que Matthew Dellavedova e Tristan Thompson, mais Timofey Mozgov no garrafão, não abriam. E elas são duas.
– Ser mais Warriors que os Warriors
2, especialmente no jogo 2, os Cavaliers foram mais Warriors que os Warriors. Foram 25 bolas certeiras de 3 na segunda partida, com J.R. Smith liderando a parada, fazendo sete. Com um elenco mais recheado que no ano passado, a equipe pode fazer uma formação com Irving, Smith, LeBron, Channing Frye e Kevin Love. Sem pivôs, dois jogadores da posição 4 que arremessam bem de três e o melhor: sem corpos de 2,16m no meio, LeBron (24,6 pontos por jogo nos playoffs) pode penetrar para conseguir a cesta, a falta ou os dois. E Kyrie também tem espaço para explorar a sua rapidez. Por incrível que pareça, os Cavs têm mais jogadores que são ameaçadores de 3 pontos que os atuais campeões.
– Tentar um repeteco anabolizado e inspirado no Thunder
Não precisa entrar Mozgov e Thompson novamente, mas povoar o meio contra as formações small ball – que contam com Draymond Green na posição 4 ou até 5 – é definitivamente uma boa ideia. Pouca gente lembra, mas os Cavaliers estavam machucando os Warriors nas finais e até venceram um jogo na Califórnia. E o Thunder fez o mesmo, revezando Steven Adams, Serge Ibaka e Enes Kanter e conseguindo grandes vantagens nos rebotes. E por mais que os Warriors revolucionem o basquete, um rebote é um rebote: na defesa impede que o adversário consiga uma segunda chance. E no ataque é uma oportunidade “de graça” para atacar. Love mais Thompson pode ser a versão Ibaka e Adams 2.0: Love aberto é mais perigoso que o congolês-espanhol nas bolas de três e Thompson faz o trabalho sujo e sabe pegar rebotes (4,2 rebotes ofensivos por jogo nos playoffs 2016, 2 a mais que Bogut), assim como o neozelandês.
– Explorar o destempero de Draymond Green
Green não teve uma boa final de conferência. Em quadra ele abusou dos turnovers e na marcação perdeu a cabeça diversas vezes. Na mais famosa delas praticou um ato de tortura medieval contra Steven Adams. Nas finais da NBA, ele pode marcar dois jogadores. Caso Steve Kerr mantenha Andre Iguodala no quinteto titular, Green deve marcar Kevin Love. Mas caso Barnes volte a ser titular, é muito provável vermos um encontro de camisas 23. E além da qualidade de LeBron, o fato de ele conseguir muitas faltas e forçar contato pode fazer o coração da equipe dos Warriors ter problema com o limite de faltas ou soltar um dos parafusos da sua cabeça. Aí tem que proteger as partes íntimas.
– Contato, contato e mais contato
É difícil parar Stephen Curry e Klay Thompson, especialmente quando eles acertam duas bolas de três seguidas e dá quase para notar no ar que todo mundo está pensando “fod%&8” e os dois estão pensando “agora não erro mais uma”. A lição que Chris Paul, os Spurs, na única vitória da temporada regular contra os Warriors, Avery Bradley e até Dellavedova nos deixam é que o jeito de parar isso é forçar contato. Uma defesa sufocante é difícil de manter a intensidade e pode gerar problema com faltas, por isso não é toda hora que ela surge. Mas para parar especialmente Curry, só com uma sombra tirando ele de sua zona de conforto e o ritmo de arremesso.
Como os Warriors podem ganhar
– Adivinha
Quando algo cai na água, o barulho é? Splash. Por mais inovador que esses Warriors sejam, é mais do que vital que as bolas de Klay Thompson (44,8% de aproveitamento nas bolas de 3 nestes playoffs) e Stephen Curry (40,8% no mesmo quesito) caiam. Se esses dois arremessam mal, não há grandes alternativas. Por isso, para o bi, a bola tem que passar por esses dois e cair depois de seu toque. Simples e claro. E com 402 bolas de três de um e 276 do outro na temporada regular, é provável que elas caiam. E os Cavaliers nestes playoffs já deixaram uma dupla de armadores incendiar uma partida. Kyle Lowry e DeMar DeRozan combinaram para 67 pontos no jogo 4 da final do leste.
– Ajustes feitos a tempo
Dois grandes ajustes em playoffs marcam a era Steve Kerr nos Warriors, na minha humilde opinião. O primeiro foi a inserção de Andre Iguodala na escalação inicial nas finais de 2015. O ala é um dos melhores defensores de perímetro da NBA e ainda é o típico jogador que eleva o basquete de todo mundo (o popular glue guy). O segundo ajuste foi na final de conferência. Esmagados no garrafão, os Warriors tiveram que dar um tempo no small ball e confiar nos seus grandes. E o poder dado a Andrew Bogut deu certo, com ele inclusive fazendo um duplo-duplo de 15 pontos e 14 rebotes no jogo 5 contra o Thunder. Vão surgir problemas para os Warriors nestas finais, especialmente se os Cavs aparecerem com um quinteto ultraofensivo formado por Irving, Smith, James, Frye e Love, que citei acima. O ajuste será providencial.
– Duelos individuais favoráveis
Vamos pensar no basquete anos 90. Sim, ainda há espaço para pensar em um contra um, mesmo no basquete coletivo atual. Bogut pega Tristan Thompson, Green pega LeBron caso Barnes seja titular ou Love caso Iguodala seja titular, Klay Thompson (aliás, defensor subestimado, ele é elite também na defesa) pode ficar com Kyrie e esconder Stephen Curry com Iman Shumpert ou J.R. Smith.
E aí que está. Kyrie é um excelente jogador ofensivo, mas defensivamente ele não pode arcar sozinho com Stephen Curry por muitos minutos e vários jogos. E nem com nenhum outro jogador rival aliás. O marcado pelo camisa 2 vai ser acionado no ataque, independentemente de quem for. E caso o armador peça a ajuda de Shumpert ou LeBron, sobram as alas desguarnecidas. Os Warriors têm defensores mais versáteis e que não deixam cair a peteca no ataque: Iguodala, Thompson e Green. Já os Cavs tem LeBron e…
Shumpert não oferece muito perigo no ataque e com Love, LeBron e Irving, a bola mal vai para ele. E Kevin Love é reconhecidamente um cara que não gosta de fazer trabalho sujo. Já são muitos buracos na defesa para ter que lidar.
Ou seja, os Warriors, por mais que sejam uma potência ofensiva, pode ganhar jogos pela defesa, com o trio Green, Thompson e Iguodala patrulhando as cinco posições e contribuindo no ataque.
– Banco
O incrível do banco dos Warriors não é nem a força de uma segunda unidade, mas sim como as mais diversas peças reservas se encaixam bem com os titulares.
Shaun Livingston em uma formação com três armadores é uma ótima arma, especialmente por causa de sua altura que o faz explorar o jogo corpo a corpo com marcadores normalmente mais baixos. Marreese Speights é o Zach Randolph dos Warriors, com uma boa bola de média distância e também “bife” para jogar embaixo da cesta. Iguodala ou Barnes já foram citados e devem ter muitos minutos ambos, independente de quem for titular e ainda tem Festus Ezeli, mais polivalente que Bogut e um bom reserva caso o australiano se complique com faltas. Leandrinho ainda providencia a fagulha ofensiva.
Nisso a equipe é claramente superior aos Cavaliers, que tem J.R. Smith como fagulha ofensiva, mas pode fazer tanto os Cavs entrarem no jogo com seus arremessos, como sugar toda a chance da equipe com seus arremessos. Frye e Richard Jefferson também são shooters, mas caso a marcação de perímetro esteja afiada, não são jogadores que mudam a partida. Depois de mais de 100 jogos na temporada, é clara a importância de um banco forte para ganhar a última série.