Exclusivo: Oscar Schmidt fala sobre LeBron, time de ídolos e recusa à NBA

Matheus Costa | 02/03/2024 - 19:30

49.737 pontos na carreira, maior cestinha da Seleção Brasileira de basquete, único jogador na história com mais de 1.000 pontos e dono da maior pontuação em um único jogo nas Olimpíadas. Não que ele precise de apresentação, mas este é o currículo de Oscar Schmidt, o Mão Santa. Com 66 anos recém completados no último dia 16 de fevereiro, o ídolo máximo do basquete brasileiro deixou a sua marca por onde passou em seus quase 30 anos de carreira.

Em entrevista exclusiva ao Quinto Quarto, o ex-jogador e eterno ídolo contou algumas das principais histórias que viveu na sua carreira. Sem fugir de polêmicas, contou quais foram os adversários mais difíceis que enfrentou e quantos pontos teria feito se tivesse aceitado jogar na NBA. Oscar ainda aproveitou para comentar sobre o seu recorde de pontos na história do basquete que está prestes a ser batido por LeBron James.

Espero que passe logo, porque estou de saco cheio de responder essas perguntas (risos).

Nesta entrevista exclusiva com Oscar Schmidt, você também vai ler sobre:

  • LeBron James e o recorde de maior pontuador da história do basquete;
  • Time dos sonhos da NBA;
  • Brasil na Copa do Mundo de Basquete;
  • Brasil no pré-olimpico
  • Quantos pontos faria se tivesse jogado na NBA;
  • Rivalidade Flamengo x Vasco no basquete.

Quinto Quarto: Oscar, como você vê essa aproximação de LeBron no seu recorde de maior pontuador da história do Basquete?

Oscar Schmidt: Ele tem muita condição física para bater o recorde porque ele é forte. Não se cansa, praticamente. Ele é imarcável. Então ele vai me passar, e espero que passe logo, porque estou de saco cheio de responder essas perguntas (risos).

QQ: Oscar, se você pudesse escolher, qual o seu time dos sonhos na NBA?

Oscar: Tenho os meus cinco, cara. Michael Jordan, claro, Kobe Bryant, Magic Johnson – que eu trouxe aqui para o Brasil fazer cinco jogos contra o time dele -, LeBron James e o Larry Bird. É um time humilde (risos).

QQ: Oscar, você acompanhou a seleção Brasileira na Copa do Mundo de Basquete? O que você achou do desempenho?

Oscar: Acompanhei, mas é duro você torcer com um time que você sabe que não vai ganhar. É duro. Eu sabia que eles não iam ganhar. Os outros times eram todos fortes, fortíssimos, e ganhou a Alemanha, que está super bem treinada, tem um técnico que faz os caras fazerem um monte de coisas que ninguém viu ainda, e ganhou a Alemanha. Quando o Brasil saiu, passei a torcer para a Alemanha. É um time muito bem arrumado, de fato. Impressionante. Esse menino aí, o Schröder, craque de bola. Parece que o time joga no ritmo dele. E tem que jogar no ritmo dele, lógico. E agora a gente vai disputar o pré-olímpico. Já estamos reavaliando o elenco para a próxima competição, pensando numa vaguinha em Paris.

Acompanhei, mas é duro você torcer com um time que você sabe que não vai ganhar. É duro. Eu sabia que eles não iam ganhar. Os outros times eram todos fortes

QQ: Quais são as suas expectativas sobre o Brasil no pré-olímpico?

Oscar: Nós temos um time sensacional, na minha opinião. É só o nosso técnico não fazer besteira e a gente pode classificar. Mas se ele fazer besteira, jogar com cinco pivôs, por exemplo, não vamos ganhar de ninguém. Você tem que jogar do jeito que o basquete manda você jogar. Então a gente tem vários atletas maravilhosos, sobretudo esse menino que está na Europa agora (Yago Matheus), temos o Georginho, temos o Didi… Esses três mais dois e está feito o time. Tem que jogar quem joga para valer. O basquete brasileiro tem grande chance de classificar para as Olimpíadas.

QQ: Oscar, hoje na NBA temos apenas o Gui Santos. O que falta pra gente ver mais brasileiros na NBA?

Oscar: A resposta é sempre a mesma. É garimpar, botar alguém sentado na porta de uma Favela. Senta lá sentado e fica olhando quem entra e quem sai. Outro dia, eu tinha ido no supermercado e eu vi um menino de dois metros, cara. Eu falei, ‘você já jogou basquete?’, ‘não, não joguei.’ ‘Por que que você não jogou?’ ‘Ah, porque eu não tive chance’. Aquele poderia ser um alto valor para o nosso basquete. É isso, só isso, mais nada. É botar os moleques pra treinar, pô. Entendeu?

Oscar Schmidt
Oscar Schmidt discursa sob os olhares do seu ídolo Larry Bird, em cerimônia do Hall da fama da NBA, Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

QQ: Você chegou a ser draftado na NBA, mas não jogou. Tem algum time na NBA que gostaria de ter jogado?

Oscar: Eu sempre torci muito pro Lakers. Sou torcedor do Lakers, mesmo que o Larry Bird, meu ídolo maior, jogasse no Boston. Então, (jogaria) qualquer time, cara. Eu ia arrebentar na NBA, você acha que não? (risos).

QQ: Quantos pontos você teria feito na carreira se tivesse jogado na NBA?

Oscar: Eles já tinham linha de três pontos faz tempo, né? Então, com 82 partidas por ano, eu já teria mais de 50 mil fácil, fácil (risos). Eu joguei muito tempo sem a linha de três pontos.

Eles já tinham linha de três pontos faz tempo, né? Então, com 82 partidas por ano, eu já teria mais de 50 mil fácil, fácil (risos)

QQ: Em todos os seus anos de carreira, qual melhor adversário que enfrentou?

Oscar: Rapaz, eu fui marcado por todos os melhores. Americanos ou não. Então, eu lembro muito bem do Scottie Pippen me marcando. Ele pisava no meu pé. Falei, ‘você tá pisando no meu pé?’ ‘É assim que a gente joga aqui no NBA.’ Dennis Rodman. Todos esses caras me marcaram. Tenho orgulho de ter passado por todos eles de cabeça em pé. E alguns eu joguei duas vezes, né? Eu joguei contra o Dream Team e joguei naquele time dele que foi pra Atlanta, que foi minha última seleção brasileira. 

Esse lance de não ter ido pra NBA, e escolher a seleção brasileira, eu diria que foi o mais forte de todos […] E recusei com orgulho danado

QQ: Conta mais sobre a sua recusa de jogar na NBA e optar em jogar pela Seleção

Oscar: Esse lance de não ter ido pra NBA, e escolher a seleção brasileira, eu diria que foi o mais forte de todos. Absolutamente mais forte. Pra que eu vou arriscar? Se eu jogo na Itália, eu já tenho a vida de sonho, jogo na seleção. Pra que eu vou arriscar? E era proibido jogar na NBA (e na seleção). Era uma lei da FIBA. inclusive, depois revisaram e permitiram jogar. Quando eu tive o convite, eu tinha 26 anos de idade. Tava no auge da carreira. Massacrando todo mundo que viesse me marcar. E recusei com orgulho danado. 

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Na seleção Brasileira, Oscar Schmidt conquistou quatro títulos e marcou mais de 7 mil pontos. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

QQ: Você tem acompanhado o hype sobre Victor Wembanyama? Quais são as suas Expectativas sobre o francês?

 Oscar: O maior atleta do planeta. Esse cara tá destinado a ser o melhor jogador na NBA. Eu também não quero ser dono de nenhuma verdade, mas sem dúvida. Eu não tenho dúvida nenhuma (que ele será o maior da história).

QQ: Boa parte da sua carreira você passou jogando no Brasil, mas o seu último clube foi o Flamengo. Como foi jogar no time carioca?

Oscar: Foi muito legal, quem me levou foi o Edmundo (presidente do Flamengo na época). Eu lembro que ele veio aqui em casa com os assistentes dele e a primeira frase que ele falou pra mim foi: ‘Eu só saio daqui com a sua assinatura.’ (Risos). Aí eu também não tive perdão também. ‘Eu posso levar meus jogadores?’ Ele falou, ‘pode sim senhor, os que você quiser’. Aproveitei e convidei todos os jogadores que jogavam comigo, os melhores, lógico que eu tinha três bons jogadores no time do Flamengo no Rio. E eu convidei, se eu não me engano, foram oito, nove jogadores pra fazer o timaço, pra arrebentar com tudo no campeonato. Era uma seleção. E aí a gente foi pro Rio. Aí depois, sabe como é o Flamengo, né? Aí foi assim, a gente jogou o campeonato de Carioca, ganhamos. Depois jogamos o brasileiro e perdemos. E no ano seguinte nós tivemos essa chance aí porque a gente ia ganhar tudo ali. Sul-americano, tudo. Porque o nosso time merecia, inclusive. Os jogadores sabiam o que era importante pro basquete. Sobretudo do time que a gente jogava. E foi assim, cara. Impressionante. 

QQ: Como é rivalidade entre Vasco x Flamengo no basquete?

Oscar: O que me fez ficar mais chateado foi um jogo Flamengo e Vasco na final do Campeonato Brasileiro,  que a gente vencia por 3 pontos, se eu não me engano, e nós fizemos a falta, mandamos o Diego pro lance livre, que não era nenhum chutador de lance livre. Vai lá, você só pode fazer 2. Ele fez o primeiro, errou o segundo, mas o Vargas pegou o rebote dele e fez a cesta. Está de brincadeira, né? Depois perdemos na prorrogação. A gente tinha feito tudo certo, o Mortari (treinador do Flamengo) entendeu quando a gente fez a falta, ele entendeu na hora, trocou o time todo, botou só gente grande pra pegar o rebote. E o Vargas foi lá e pegou o rebote. Esse é o jogo que fica aqui. O que você faz? Tem que cair na prorrogação de novo, né? A gente já tinha ganho o jogo. E era o primeiro jogo da série final. Então esse jogo machucou bastante. Aquele era o ano que a gente ia ganhar todos os torneios. Todos. Carioca, brasileiro, sul-americano e mundial. E não ganhamos. Não ganhamos por quê?  Veio o Vargas lá que pegou o rebote quando a gente tinha um timaço, só jogador com mais de dois metros dentro da quadra. E aí eles ganharam aquele jogo que foi o jogo que mudou a nossa trajetória na final. E fez a gente perder, lógico.

Escrito por Matheus Costa
Matheus Costa é jornalista, repórter e redator com passagens por MMA Brasil, LANCE!, O Dia, Yahoo! e outros. Sua carreira no jornalismo iniciou na cobertura do MMA, depois se expandindo para a cobertura do futebol e dos bastidores de televisão esportiva brasileira. Já cobriu in loco eventos de MMA, futebol, basquete e jiu-jítsu.
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