Por que o bicampeão do torneio de enterradas não joga na NBA?

Eduardo Barão | 23/02/2024 - 15:15

Fevereiro de 2023, Salt Lake City.

O primeiro jogador da G-League a participar do Torneio de Enterradas do All-Star Weekend surpreende e vence Trey Murphy III, dos Pelicans, na final. Com o apoio de Shaquille O’Neal, que o encorajou, e com o reconhecimento de Stephen Curry, Mac McClung entrou para a história do torneio, sem nem estar em um time da NBA.

Fevereiro de 2024, Indianápolis.

Novamente o armador de 1,88m participa do Torneio de Enterradas, enfrentando Jaylen Brown, dos Celtics. E ganha, dessa vez saltando por cima justamente de Shaquille O’Neal, de 2m16, se tornando o primeiro bicampeão desde Zach LaVine (2015-16). Um ano depois do primeiro troféu, ele segue na G-League, no Osceola Magic, equipe afiliada ao Orlando Magic. E o mundo do basquete hoje se pergunta: por que Mac McClung não encontrou seu espaço na NBA?

‘Ninguém sabe o seu nome, façam eles lembrarem de você’

Shaquille O’Neal para McClung, antes do torneio de enterradas em 2023.

Mas quem é Mac McClung, bicampeão do torneio de enterradas da NBA?

Se você não acompanha o esporte estudantil e universitário norte-americano, realmente não deve conhecer McClung. Na NBA, ele atuou em apenas quatro partidas. Em sua estreia, pelo Chicago Bulls em dezembro de 2021, anotou dois pontos em seu único arremesso, ficou em quadra pouco mais de 2 minutos e cometeu um turnover. Em abril de 2022, defendeu os Lakers em partida contra os Nuggets. Anotou 6 pontos em quase 22 minutos em quadra e cometeu dois turnovers.

As outras duas atuações foram pelo Philadelphia 76ers, em abril de 2023. Na primeira, 5 pontos, 1 rebote e dois turnovers em 7 minutos. Na segunda, mais tempo em quadra: 33 minutos, que renderam 20 pontos, 9 rebotes e um turnover. Uma carreira bastante tímida pra quem brilhou no final de semana das Estrelas da NBA.

O sucesso veio cedo demais. Ainda no colegial, McClung viralizou nas redes sociais, liderando o time da Gale City High School, em Virginia, com suas enterradas e jogadas dignas de Harlem Globetrotters. Entre seus impressionantes feitos, uma média de incríveis 42 pontos por jogo, quebrando o recorde estadual de pontos que pertencia a Allen Iverson. Na universidade, defendeu Georgetown (médias de 14.2 pontos, 2.2 assistências, 1.1 roubos e 2.8 rebotes em 50 jogos) e Texas Tech (médias de 15.5 pontos, 2.1 assistências, 0.8 roubos e 2.7 rebotes em 29 jogos). Um desempenho apenas sólido, que não convenceu os times da NBA, que por sua vez não o draftaram.

No verão seguinte, McClung participou da Summer League da NBA com o Los Angeles Lakers, o que lhe rendeu um contrato com o South Bay Lakers, da G-League. Desde então, pela liga de desenvolvimento, ele conquistou o prêmio de Novato do Ano, em 2022, e já passou pelo Windy City Bulls, Delaware Blue Coats (onde foi campeão) e agora Osceola Magic. Em terceiro entre os cestinhas, com uma média nesta temporada de 23.7 PPJ, um aproveitamento de 50.4% nos arremessos de quadra e 39.9% da linha de 3, McClung tem tido números bastante consistentes em sua carreira, e já mostrou no próprio All Star Weekend que lida bem com a pressão na quadra.

Então por que Mac McClung não joga na NBA?

A competitividade por uma vaga na NBA é altíssima, e usando o trocadilho infame, Mac McClung não é tão grande assim. Com 1 metro e 88 centímetros de altura e uma envergadura na mesma medida, o armador é bastante vulnerável na defesa. De 299 jogadores da NBA que atuaram pelo menos 500 minutos na temporada, apenas 30 têm essa altura ou menos. Entre eles, Stephen Curry, Kyrie Irving, Damian Lillard, Jalen Brunson e Tyrese Maxey, jogadores tão dinâmicos e ágeis ofensivamente que suas limitações na defesa são aceitas.

Mac McClung não tem o mesmo nível: nas poucas partidas que atuou na NBA, foi um alvo em quadra. Ele simplesmente não consegue defender pivôs e alas, e tem muita dificuldade com armadores maiores do que ele.

Mac McClung
Mac McClung durante sua curta passagem pelo Philadelphia 76ers. Foto: Icon Sport

Mac McClung é um excelente jogador na G-League, como era no high school. Só que se habituou a ser o líder em seus times, armando as jogadas e sendo o protagonista. Para conseguir fazer a transição para a NBA, ele precisa aprender a jogar sem a bola e entender um novo papel em prol do grupo. De novo, com 1.88, a missão de receber a bola e conseguir chutar sem um marcador muito maior à sua frente é bastante complicada na melhor liga do mundo, e os outros “baixinhos” que tiveram sucesso eram incrivelmente habilidosos com a bola e para se livrar dos defensores. Vencer um (ou dois) torneios de enterradas não tem nenhuma relação com esses requisitos.

Mas ele está mais que disposto a investir neste sonho, recusando qualquer ideia de jogar em outro país.

— Obviamente, eu sei quem sou enquanto jogador de basquete. Eu não acho que é o fim. Eu não acho que minha jornada no basquete terminou. Eu quero jogar na NBA, e eu acho que chegarei lá. — disse Mac McClung, em entrevista para a Fox News Digital.

Escrito por Eduardo Barão
Eduardo Barão é jornalista, radialista, escritor e palestrante brasileiro, com mais de 20 anos de experiência. Atualmente, é correspondente internacional do Grupo Bandeirantes de Comunicação nos Estados Unidos. Apaixonado por esporte, cobriu nos ginásios as últimas finais da NBA.
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