Quem ligou a televisão na noite de segunda-feira (27) esperando por grandes atuações de Donovan Mitchell e Luka Doncic não se decepcionou, já que a dupla terminou com 45 e 31 pontos, respectivamente. Ainda assim, quem roubou o protagonismo no final de jogo entre Cleveland Cavaliers e Dallas Mavericks foi Max Strus. Sim, você leu certo. Em uma quadra que ainda tinha nomes como Kyrie Irving e Darius Garland, coube a Strus definir vencedor.
Ao longo da partida, Strus atuou por 25 minutos e colaborou com 21 pontos. Números normais, mesmo para quem tem média de 12.3 pontos por noite, como ele – nesta temporada, por exemplo, já havia cruzado a barreira dos 20 em outras oito oportunidades. A questão aqui é que a história de Strus em Cavs x Mavs não pode ser contada a partir do bola ao alto inicial, mas dos cinco minutos finais.
Mais precisamente, vamos começar de quando faltavam exatos cinco minutos e seis segundos para o final do jogo. Com os Cavaliers em desvantagem por 105 a 98, o técnico J.B Bickerstaff sacou Georges Niang e colocou Strus. Foi aí que começou a sequência mais impressionante na carreira do ala ex-Miami Heat.
Max Strus desafia teoria da “Mão Quente”
Demorou 1m24s para que ele tivesse um impacto no placar. Naquela altura, com 3:42 sobrando no relógio, Dallas vencia por 110 a 100, e Strus encurtou a diferença para sete após receber livre na zona dos três pontos. Os visitantes se atrapalharam na reposição de bola e bastou apenas seis segundos para que ele conectasse o segundo lance consecutivo do perímetro. Seis pontos em seis segundos, não perca a conta.
Acertar dois arremessos seguidos não é novidade, mas existe toda uma discussão teórica por trás do assunto. Existe no mundo do basquete um conceito chamado de “Hot Hand”, a famosa Mão Quente, em bom português. Alguns defendem que a confiança em converter chutes difíceis ou consecutivos contribui para que o atleta siga aproveitando as oportunidades seguintes.
Mas o tema é mais polêmico do que parece, acredite. Existem estudos que vão contra a teoria e mostram que, estatisticamente, não há evidências suficiente de que situações como as descritas resultem em um melhor aproveitamento. Em publicação de 2023 da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, pesquisadores concluíram que a chance de um jogador ter sucesso no terceiro arremesso após ter acertado os dois primeiros é 1.9% menor do que no anterior.
Voltemos a Strus, então. Os Cavaliers perdiam por 113 a 106 quando a bola chegou nele outra vez. Você já sabe o que aconteceu: bang, mais uma lá dentro. Com 2:57 por jogar, o camisa 1 de Cleveland já havia batido a estatística feita pelos cientistas de dados de Pittsburgh. Mas o jogo seguia, e os Cavs ainda precisavam reverter uma desvantagem de quatro pontos.
Na posse seguinte, Max Strus era a opção mais óbvia de arremesso. Ainda que estudos digam outra coisa, dentro de quadra a ideia de acionar um atleta que vem em uma sequência de acertos nunca será desprezada pelos jogadores. Foi assim que Garland serviu o colega para a quarta tentativa… E a quarta conversão.
Foram 12 pontos de Strus em 67 segundos, relembrando momento icônicos na história da NBA, como os 13 de Tracy McGrady em 33 segundos, pelo Houston Rockets, em 2004. Um feito como este, quatro chutes longos em pouco menos de um minuto, já valeria por si só, não fosse o Dallas Mavericks permanecer à frente do placar até dois segundos para o fim.
Na reposição, como publicado ontem aqui no Quinto Quarto, Max Strus acertou o arremesso mais difícil da noite e o mais emblemático da sua carreira. Com o cronômetro a dois segundos para o fim, ele converteu uma bola do meio da quadra, quase 18 metros de distância da cesta, e ganhou a partida para os vice-líderes da Conferência Leste.
Uma noite que Strus poderá contar para seus netos, se um dia os tiver. Em menos de quatro minutos, vovô acertou cinco chutes seguidos e bateu, ao mesmo tempo, Luka Doncic, Kyrie Irving e centenas de pesquisadores do esporte. De quebra, nos fez lembrar: por mais estudos que se publiquem, a beleza do jogo está nas exceções.