Brasileiro Mãozinha brilha nos Grizzlies, mas aguarda definição por contrato para seguir na NBA

Eduardo Barão | 09/04/2024 - 20:59

A história do pivô brasileiro Mãozinha deria um roteiro e tanto em Hollywood. Imagine ter 10 dias para mostrar tudo que sabe e provar o seu valor. Agora imagine o seu “chefe” ter gostado do que viu, e te dar outro contrato por mais 10 dias.

Imagine ser um jogador de basquete e nesses 20 dias ter enfrentado Stephen Curry (que no jogo em questão bateu mais um recorde de 3 pontos), Lebron James (que anotou triplo duplo), Nikola Jokic e Joel Embiid.

Tudo isso num time que já não briga mais por vaga nos playoffs. Foi justamente essa a missão recebida por João Marcelo Pereira, o Mãozinha, no Memphis Grizzlies.

Sem Ja Morant, Grizzlies sai de líder no Oeste para eliminado em 1 ano

Mas antes de falar do desempenho do vigésimo brasileiro a atuar na NBA, a gente precisa relembrar a situação do Memphis Grizzlies. Esqueça aquele time que chegou às semifinais de Conferência em 2022 – e perdeu para os Warriors. Esqueça também o grupo que caiu na primeira rodada dos playoffs de 2023 diante dos Lakers.

A temporada de 2024 do Memphis começou já sem o seu melhor jogador, Ja Morant, suspenso por 25 jogos pela NBA por causa de uma live no Instagram onde ele exibia orgulhoso uma arma de fogo. Não foi a primeira suspensão do tipo, e a NBA considerou a conduta do atleta prejudicial à liga. Esse foi apenas o começo de uma temporada cheia de ausências por lesão em Memphis.

Em determinado momento, a franquia bateu o recorde da liga em número de jogadores usados no ano: 31 – recorde esse compartilhado com o Detroit Pistons de 2024.

Mãozinha e Pippen
Ao lado de Scotty Pippen Jr, brasileiro Mãozinha ganhou oportunidades no time dos Grizzlies. Foto: Icon Sport

Foram mais de 40 lineups diferentes usados para suprir os lugares de jogadores como, além de Morant (que voltou da suspensão e apenas 9 jogos depois acabou sofrendo uma lesão no ombro que o tirou do restante da temporada), Desmond Bane, Brandon Clarke, Luke Kennard, Derrick Rose e Marcus Smart.

No último jogo do contrato de Mãozinha, contra o Philadelphia 76ers, nada menos que 13 jogadores do elenco do Memphis estavam indisponíveis. Como definiu Scott Pippen Jr, “quando os maiores jogadores estão fora, acabamos vendo mais oportunidades por aí.”

E Mãozinha tirou o máximo da oportunidade

Em seu jogo de estreia, contra Gui Santos e os Warriors, Mãozinha entrou faltando menos de 6 minutos para o final, e entregou uma ponte aérea que já entrou para a história do basquete brasileiro.

Dos 9 jogos do calendário do Memphis durante os 20 dias de contrato, o brasileiro entrou em quadra em 7 deles, anotando uma média de 6.9 pontos e 5.3 rebotes em 17.4 minutos por jogo. Mas isso não dá dimensão do impacto e do crescimento que o ala-pivô foi tendo ao longo desses jogos.

Em 5 de abril, em seu sexto jogo na liga, Mãozinha teve a oportunidade de atuar por mais de 30 minutos contra o Detroit Pistons, e anotou 17 pontos, 9 rebotes, 1 roubo de bola, 1 toco, com um aproveitamento de 6-10 em chutes de quadra, e 2-4 em cestas de 3. Foi a maior pontuação de um brasileiro na liga desde Raulzinho Neto em 2022.

Taylor Jenkins, técnico do Memphis, reconheceu o trabalho do novato de 23 anos e 2,03m de altura: “quando você tem um contrato de 10 dias, você precisa saber tirar vantagem da oportunidade. Você pode fazer isso em quadra, e pode fazer fora de quadra também. Eu acho que ele tem feito as duas coisas. É um cara que joga com muita intensidade, é dinâmico, o tipo de jogador versátil, pode jogar como ala, pode arremessar, infiltrar, passar a bola, defender, consegue rebotes dos dois lados da quadra. Gosto muito da personalidade dele, ele tem conseguido aproveitar a chance, e de um jeito que a gente gosta muito aqui nos Grizzlies.”

Mãozinha e Embiid
Contra o Philadelphia 76ers, Mãozinha foi um dos destaques do Memphis Grizzlies. Foto: Icon Sport

Tal impacto colocou Mãozinha como titular no jogo seguinte, contra o Philadelphia 76ers. E o carioca não se intimidou diante de Joel Embiid.

Foram 13 pontos e 11 rebotes no primeiro duplo-duplo de um brasileiro na NBA desde Bruno Caboclo em dezembro de 2019, também pelo Memphis Grizzlies.

Criado na NBB, onde defendeu o Pinheiros, Fortaleza B.C. e Corinthians, Mãozinha foi eleito revelação da temporada 2021/22. Em outubro de 2023, assinou com o Capitanes de Ciudad de México, time da NBA G League, onde vinha com médias de 8.8 pontos e 7.2 rebotes por jogo.

Por limite da NBA, Mãozinha vê seu futuro nos Grizzlies indefinido e se despede

Seu futuro na NBA hoje é incerto. O segundo contrato de 10 dias expirou nesta terça, 9 de abril, e pela regra da NBA, contratos dessa duração só podem ser renovados uma vez – o que já aconteceu. Para manter o vínculo, o Memphis Grizzlies precisaria oferecer uma vaga definitiva. O problema que ainda impede a franquia de oferecer um contrato definitivo para o brasileiro é o limite imposto pela NBA.

Segundo as regras da liga de basquete norte-americana, cada equipe pode ter até 15 contratos garantidos por temporada, e os Grizzlies já atingiram essa marca. Outra possibilidade seria o brasileiro assinar um dos três contratos two-way – jogadores que podem atuar tanto na NBA quando na G-League – disponíveis para cada equipe. No caso da franquia de Memphis, as três vagas já foram preenchidas por Jordan Goodwin, Trey Jemison e Scotty Pippen Jr.

Com quatro partidas por jogar na temporada e 13 jogadores no departamento médico, não parece provável que esse contrato venha agora. Mas o caminho para o futuro está mais do que aberto. Nesta terça-feira (9), o brasileiro fez um discurso emocionado em seus redes sociais se despedindo dos Grizzlies e agradecendo a oportunidade de jogar na NBA.

— O que dizer e por onde começar?? Um garoto do Rio que tinha o sonho de jogar entre os melhores e conseguiu. O sonho ainda não foi realizado, mas gostaria de agradecer ao Grizzlies por me dar a oportunidade não só de aprender nesses 20 dias coisas que não aprenderia em nenhum outro lugar, mas também de mostrar o que trabalhei e aprendi ao longo da minha vida toda a vida diante do mundo inteiro. Que maneira de terminar esta temporada. Obrigado a todos que fizeram parte disso e me ajudaram, sem TODOS VOCÊS não teria sido a mesma coisa — disse Mãozinha.

Escrito por Eduardo Barão
Eduardo Barão é jornalista, radialista, escritor e palestrante brasileiro, com mais de 20 anos de experiência. Atualmente, é correspondente internacional do Grupo Bandeirantes de Comunicação nos Estados Unidos. Apaixonado por esporte, cobriu nos ginásios as últimas finais da NBA.