Armador aniversariante em 23 de março, campeão da NBA, medalhista olímpico. Múltiplas participações em All Star Game, Novato do ano em seu primeiro ano na liga, McDonald’s All-American no seu tempo de universitário. Eu poderia estar falando de Jason Kidd, técnico do Dallas Mavericks, ou de Kyrie Irving, seu coadjuvante de luxo na equipe do Texas.
O último aniversário, quando o jogador completou 32 anos e seu técnico 51, foi muito diferente do ano anterior, o primeiro da dupla unida. Fazia então apenas seis semanas que Kyrie Irving tinha chegado ao Dallas, e a temporada do time só afundava a caminho do décimo primeiro lugar no Oeste (38V-44D) – Kyrie Irving e Luka Doncic tiveram apenas 16 jogos juntos, o que rendeu apenas cinco vitórias.
Tudo diferente em 2024: Kyrie Irving está voando ao lado de Luka Doncic
É nítido como Kyrie está mais confortável em seu novo papel e diante da nova torcida. Em coletiva dia 22 de março, ele explicou bem: “É mais do que ser aceito pela comunidade de Dallas. Eu tenho minhas crenças e opiniões, e acho que aqui em Dallas eu fui aceito não só pelas minhas habilidades em quadra, mas pelo que eu represento como um todo”. Lembrando que Irving vem de anos desastrosos no Brooklyn, não apenas em quadra, mas fora dela: na ocasião da pandemia, ele foi impedido pela cidade de Nova York de jogar em casa por optar pela não-vacinação.
Eventualmente, recusou uma renovação com os Nets por não aceitar a obrigação pela imunização contra COVID-19 (isso sem contar a suspensão por comentários antissemitas). Politicamente, Nova York pode ser considerada uma cidade progressista, e seria exatamente o oposto do que ele encontrou na conservadora Dallas.
Kyrie Irving chegou na NBA como primeira escolha do draft, no Cleveland, e venceu o título da liga ao lado de Lebron James, em uma das duplas mais poderosas dos últimos tempos. Sua decisão de sair dos Cavs em direção ao Boston Celtics foi em busca do papel de líder, e a gente se lembra bem do resultado: problemas de relacionamento e vaias da torcida.
O armador foi para o Brooklyn, ajudou a montar o que seria um super time com Kevin Durant e James Harden, mas foram tantas lesões que o trio acabou não atuando como, bem, um trio.Aquele time venceu apenas uma série de playoff em três anos e foram varridos em duas ocasiões. Não à toa, a torcida dos Nets não estava feliz a ponto de ignorar as questões extra-quadra.
Para a surpresa de muitos, os Mavericks foram atrás de Irving “na baixa”, e assinaram por 120 milhões em 3 anos. Mark Cuban, então dono da franquia, admitiu no podcast de Patrick Beverley que Kyrie Irving seria novamente coadjuvante, e que estava de acordo com a função: “Kyrie é um cara muito inteligente, e sabe que esse time é do Luka. Não tem ‘se’ ou ‘mas’. O time é do Luka”. Não ter o peso do protagonismo tem feito muito bem para o armador, que tem trabalhado mais o jogo e se fazendo presente em quadra mesmo sem a bola.
A dupla Irving-Doncic se mostrou eficiente sob o comando de Jason Kidd, mas principalmente, eles confiam um no outro. Um relacionamento que Kyrie não via com o astro e com o técnico do time desde os tempos de Cavaliers. Maxi Kleber, ala-pivô do Dallas, contou ao jornalista Marc Stein que “Foi uma grande mudança. Eles têm muita química juntos, não precisam esperar pelo outro para serem agressivos, os dois são e isso ajuda a todos. A chegada dele (Kyrie Irving) transformou nosso jogo”.
E a dupla aproveita as oportunidades para melhorar ainda mais essa relação – depois da vitória em San Antonio no último dia 19, os Mavericks fizeram um treino opcional para aqueles jogadores que estavam passando tempo demais no banco. Irving e Doncic apareceram.
Rostos familiares fazem a diferença
Sabendo a bagunça que Kyrie Irving deixou para trás no Brooklyn, os Mavericks mantém perto do armador muitas peças que o deixam mais confortáveis em Dallas: desde o GM Nico Harrison, que trabalhou com Irving na Nike, passando pelo assistente técnico God Shammgod, amigo das antigas do pai de Irving, mais o técnico-ídolo Jadon Kidd, além do veterano Markieff Morris, um dos melhores amigos dele na liga.
Tá. Mas e o jogo? Contratar Kyrie Irving valeu a pela?
O Dallas tem conseguido se manter na zona de classificação para os playoffs, e não deve precisar passar pelo play-in. Não há dúvida dentro da comunidade do basquete de que Irving é um jogador fora da curva. Nas palavras de Draymond Green, “ele é muito bom no basquete. As pessoas gostam de odiar Kyrie, o jeito que ele vive e suas crenças sobre certas coisas. Você pode odiar se quiser, mas são poucos na NBA que têm a mesma habilidade que ele, poucos assustam tanto uma defesa quanto ele.”
Em uma disputada Conferência Oeste, chegar ao quarto lugar na tabela não é absolutamente impensável, mesmo já na reta final da temporada regular. Além de cuidar obviamente de Luka Doncic, basta manter Kyrie Irving saudável, e principalmente feliz.