O torcedor do Memphis Grizzlies já tem uma data para voltar a sonhar com alguma coisa na NBA. Na próxima terça-feira (19), contra o New Orleans Pelicans, Ja Morant fará sua estreia na temporada. O armador está na reta final da suspensão de 25 jogos aplicada pela liga após ele ter exibido uma arma nas redes sociais. E se em outros momentos recentes os Grizzlies seguraram a onda sem seu craque, hoje o retorno de Morant é visto como possível salvação de um ano que começou desastroso dentro e fora de quadra.
Os dois meses de ausência de Ja mostraram ao time de Taylor Jenkins uma realidade até então desconhecida. Havia expectativa de um prejuízo técnico, é claro, mas não parecia existir motivo para pânico. Nas duas últimas temporadas, Memphis sobreviveu bem aos períodos em que não pode contar com o seu melhor jogador. Em 2021-22, foram 20 vitórias em 25 partidas, enquanto no ano passado a equipe ganhou 11 dos 21 compromissos.
Depois de ter feito a segunda melhor campanha do Oeste em 2023 (51 vitórias e 31 derrotas) e o melhor aproveitamento como mandante (35 e 6), os Grizzlies abriram a temporada atual com a terceira pior campanha da conferência. O time tem seis vitórias e 17 derrotas (26% de aproveitamento). Em casa, perdeu 10 de 11 duelos.
Reduzir os problemas à ausência de Ja, no entanto, é um risco que Jenkins e sua comissão técnica não podem correr. O retorno de um nome que contribuiu com 26.2 pontos e 8.1 assistências, com uma eficiência de 50%, seria suficiente para melhorar a situação de qualquer uma das 30 equipes da NBA. Recolocar Memphis no patamar de candidato a alguma coisa, até mesmo uma vaga nos playoffs, é mais complicado.
Se você têm acompanhado meus textos aqui no Quinto Quarto, ou mesmo se já ouviu minhas teses em outro lugar, sabe que costumo embasar minhas análises em números – não será diferente com esta, fique tranquilo. Mas a verdade é que os Grizzlies parecem ter entrado em uma maré de azar desde que Dillon Brooks resolveu desafiar LeBron James nos playoffs passados. Algumas das dificuldades vividas pelo time podem ser atribuídas à falta de maturidade da sua principal estrela, limitações técnicas de determinados atletas, mas outras não passam de pura má sorte.
Ja Morant retorna, mas e os outros?
Faço esta afirmação porque a ausência de Morant não tem sido a única enfrentada pela equipe do Tennessee. Além do camisa 12, pelo menos outras três peças fundamentais para o sucesso na temporada passada estão fora. Brandon Clarke, com tendão de Aquilles rompido, tem previsão de retorno para o final da temporada regular. Dillon Brooks não renovou seu contrato e, para o seu lugar, chegou Marcus Smart, melhor defensor da NBA em 2022. Resultado: não atua há 12 jogos, com lesão no pé.
Ainda assim, a principal ausência é com certeza a de Steven Adams, com problemas físicos desde a temporada passada. A presença do pivô tinha um impacto imenso nos dois lados da quadra. Na defesa, ele era o segundo jogador que mais contestava arremessos na equipe, com média superior a 7. Foi fundamental para que Jarren Jackson Jr. tenha se estabelecido como melhor defensor do ano. No ataque, Adams gerava uma média de 12.6 pontos com “screens”, que são as jogadas em que o homem de garrafão faz o bloqueio para a infiltração de quem está armando a jogada. Só Domantas Sabonis, do Sacramento Kings, teve números melhores.
Além disso, Adams foi um dos principais reboteiros da liga, com média de 10 por jogo. Destes, 4.6 eram rebotes ofensivos, mais do que qualquer outro na competição. Com ele ajuda dele em boa parte da temporada passada os Grizzlies conseguiram terminar como a quarta equipe que mais pegava rebotes no garrafão adversário. Neste ano, estão em 20º no ranking.
Se Ja Morant colheu por 25 jogos o que plantou ao repetir atitude já antes punida pela NBA, Adams, Clarke e Smart deram apenas azar, como poderia ter ocorrido com qualquer outro atleta. Ao menos, a punição do armador veio com data de expiração, e ele retorna as quadras em poucas noites. Resta aguardar para ver se ele é capaz de salvar uma temporada que já parece ter sido perdida.