Depois de falar que você nunca viu um time como o Milwaukee Bucks desta temporada, agora eu continuo a série, inspirado pela troca gigantesca de quatro times e 12 jogadores que aconteceu ontem. Se duvidar até eu fui trocado para a ‘ESPN’ e serei cortado em uma semana. Mas enfim, vamos explicar o título: o Houston Rockets vai tentar algo que você nunca viu.
Não é novidade que o time texano está à frente de seu tempo por causa do melhor GM/Presidente/Manda-Chuva da liga, Daryl Morey. Ok, ok, junto com Masai Ujiri, do Toronto Raptors.
A equipe hoje joga um basquete que muitos odeiam, James Harden ama e eu acho intrigante. Já escrevi sobre isso e ainda não entendo porque os mais tradicionalistas não conseguem nem pensar em aceitar um time que jogue diferente, que seja esquisito.
Pois bem, agora esses tradicionalistas vão pegar em armas e ir até o Texas (ou comprar lá, é mais fácil) porque os caras vão jogar sem pivô. O titular Clint Capela foi despachado para Atlanta e Nenê (que não jogou ainda), também saiu. Sobraram Isaiah Hartenstein (251 minutos jogados até agora na temporada) e o uberveterano Tyson Chandler (219 minutos).
É possível que o time adicione ajuda no mercado de buyout ou com alguma troca marota. Mas é provável que esses quintetos de small ball ao quadrado ganhem muito tempo de quadra.
Como disse no meu post desta semana, eles foram o primeiro time em 57 anos a jogar uma partida (e ganharam) sem colocar um titular com mais de 1,98 m em quadra. Detalhe: foi contra os Mavericks de Kristaps Porzingis. Ou seja, a menos que você fosse um rato de ginásios da NBA dos anos 60, você nunca viu isso.
Eles se libertaram da última amarra do basquete que conhecemos. Eles já não se importavam muito com arremessos ruins de três e rodar a bola e agora pediram divórcio de jogar com um pivô. ISSO É ENORME.
Só pensar que o Chicago Bulls de 1996, o melhor time da história, botava Luc Longley em quadra só para ter esse 5 que deixava tudo mais duro, lento e pegado. Se esse elenco dos Bulls fosse teletransportado para hoje e tivesse Mike D’Antoni como treinador, jogaria com Ron Harper, Steve Kerr, Michael Jordan, Scottie Pippen e Dennis Rodman. E talvez até Kukoc entrasse no lugar de Rodman.
Quando começamos o Quinto Quarto falávamos que o Miami Heat estava contratando mais um pivô para poder ter cinco faltas a mais quando encarasse um Dwight Howard ou Tim Duncan.
Falar isso hoje é como falar “eu fui até a Pharmácia pegar Heroína da Bayer para ter mais energia durante uma longa noite de estudos nas arcadas da São Francisco”.
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Contra os Mavericks e Pelicans os titulares foram Westbrook, Harden, Gordon, House e P.J. Tucker. Ontem contra os Hornets, o time entrou com Ben McLemore como titular já que Westbrook foi poupado. O time venceu todas as partidas. Robert Covington deve entrar no lugar de Danuel House e aumentar ligeiramente a altura (2,06 m).
A ideia faz total sentido e nem adianta falar o contrário. A equipe já dependia dos arremessos de três e o brilhantismo de Harden para vencer partidas. Sem um pivô tradicional, os cinco jogadores podem abrir a defesa rival jogando handebol e abrir todo tipo de raia para a cesta.
E isso fará com que os pivôs rivais tenham que encarar jogadores mais rápidos na defesa, se não ficarão sem função e serão varridos da quadra. Isso já aconteceu com Rudy Gobert, o melhor pivô defensivo da NBA, contra os próprios Rockets.
E a ameaça de penetração abre para as bolas de três. Se você coloca um jogador no garrafão para evitar a penetração, temos um 4 x 5 no perímetro. Se você coloca os cinco no perímetro, uma escapada e a bandeja vem livre.
Se você tem uma defesa rápida, com 5 no perímetro e, no momento em que alguém penetra o marcador de outro jogador vai para marcar, sobra um jogador livre para receber um passe.
Ou seja, esse será um time ainda mais chato de marcar. Olha o instante que separei no vídeo abaixo. Só clicar no play.
Agora olha este instante que separei aqui. Só clicar no play.
“Ah, mas na defesa esse time vai tomar 140 pontos e os pivôs rivais vão fazer a festa”.
Primeiro, quase não existem pivôs rivais relevantes. Segundo, esse time já tomava 140 pontos na defesa de qualquer jeito. E, terceiro, três pontos valem mais que dois. Os Rockets vão amar que a bola vá para o pivô e saia das mãos dos jogadores de perímetro rivais.
Claro que é um plano arriscado e, se as bolas de três não caírem, esse time não irá vencer.
Mas além de ser sensacional de ver, ele pode funcionar contra diversas equipes. Os Rockets tomaram 35 pontos de Porzingis, que ainda pegou 12 rebotes. Mas venceram.
Pense bem quais equipes podem colocar um 5 atlético, que consiga marcar alguns dos 5 que os Rockets colocarão atrás da linha de três e ainda defender minimamente o garrafão. Que precise correr até o ataque, receba a bola e tenha um arsenal ofensivo. Vamos começar pelos que você acha que podem fazer isso, mas talvez não possam (100% do tempo).
– Joel Embiid: a forma física dele já o traiu antes. Ele pode ser um que está com as mãos no joelho e cara de brasileiro em La Paz no fim da partida.
– Nikola Jokic: tem o arsenal ofensivo. Também tem uma defesa porosa e o preparo físico de um redator do Quinto Quarto
– Rudy Gobert: é um monstro defensivo e até é bom ofensivamente, mas já temos provas que ele sofre com os Rockets e agora as coisas podem piorar.
– Steven Adams: não sei se ofensivamente ele tem o suficiente
Os únicos jogadores que inegavelmente podem torturar essa estratégia dos Rockets são Giannis Antetokounmpo e Anthony Davis. Zion Williamson é outro que pode fazer 40 pontos e pegar 20 rebotes contra um quinteto desses. Mas também tem a questão física como dúvida.
Bom, se você chegou até aqui e é mais tradicionalista que eu, já deve ter vomitado umas cinco vezes e achado meu argumento falho umas 10x. Agora eu vou dar o golpe final para você fechar esta janela e me odiar por cinco minutos até esquecer meu nome.
Sabe quem vai atuar como âncora defensiva – pelo menos por alguns minutos – nesse esquema maluco?
P.J. Tucker será o principal. O outro eu não vou citar o nome dele agora. Acompanhe meu raciocínio.
Por anos ele foi um defensor horroroso. Ele melhorou. Mas, na NBA dos anos 2010, os armadores são cada vez mais agressivos, rápidos e completos. Ou seja, os desafios de encarar isso sendo um defensor abaixo da média são horríveis. Ainda mais quando você é fortinho (não é gordo), não tão ágil (não quer dizer que seja lento, só não é Russell Westbrook) e ainda precisa carregar o ataque.
Por isso marcar um jogador mais lento, que vai chegar por último no ataque e não será um Hakeem Olajuwon, pode ser a melhor estratégia.
James Harden é o cara que fez sombra a Kristaps Porzingis em vários momentos do jogo contra os Mavericks. Ele pode aguentar a jogada típica de um pivô que vê que está sendo marcado por um baixinho, dando bundada e “quadrilzada” até enterrar na sua cara porque seu torso é grande.
É forçar a barra achar que esse time será incrível? Sim. Mas será sensacional de se ver. Estou mais do que dentro.