Como não temos nada para fazer, resolvemos começar uma série no Instagram. A ideia é entrar em uma máquina do tempo, sequestrar um jogador dos anos 60, 70, 80, 90 ou até 2000 e trazê-los para 2020. Tomando todas as medidas sanitárias, claro. O sequestrado irá agradecer, já que poderá jogar em uma NBA que paga US$ 27 milhões por ano para Otto Porter. A dúvida é: esse jogador se daria bem na NBA atual?
Para fugirmos dos óbvios – não colocaremos Magic, Bird, Jordan, Chamberlain, etc – só aceitamos jogadores que não estão na lista dos 50 melhores jogadores da história e também excluímos monstros recentes, como Shaquille O’Neal. Tem que existir uma discussão legal, com pelo menos um ponto para observar que necessita uma adaptação temporal.
Portanto, para unir as condições em uma lista simples:
- Tem que ser aposentado;
- Não pode ser uma lenda. Pode ter ido a All-Stars e até ser do Hall da Fama do basquete, que ultimamente aceitou nomes que eu não acho que deveriam ter esse status;
- Precisa ter um conjunto de ferramentas que permitam a ele jogar em 2020. Qual é esse conjunto? Descreveremos em cada caso.
Para os mais saudosistas pode parecer que a pergunta do título é ridícula, assim como se fosse outro jogador All-Star que essa pessoa viu. Mas a NBA atual varreu completamente jogadores e estilos de jogos aceitos pouco tempo atrás e exige sim que você tenha certas características. Se Rajon Rondo aparecesse hoje, ele teria o mesmo sucesso que teve nos Celtics? Dwight Howard de Orlando na NBA atual seria o mesmo que foi dez anos atrás?
Enfim, vamos fazendo essas perguntas e as respondendo enquanto a bola laranja está trancada no armário.
Grant Hill ou…
Quando Grant Hill entrou na NBA, se procurava mais o novo Jordan do que o Santos procurou o novo Robinho até encontrar Neymar. E a comparação fazia ligeiro sentido, ainda mais porque Hill entrou na liga e logo de cara teve sucesso. Mas a verdade é que o camisa 33 do Detroit Pistons não foi o filho de Jordan e sim o pai de…
Seis temporadas iniciais de Hill: 21,6 pontos, 7,9 rebotes, 6,3 assistências, 47,6% dos arremessos de quadra
Seis temporadas iniciais de LeBron James: 27,5 pontos, 6,9 rebotes, 6,7 assistências, 47,4% dos arremessos de quadra
Sim, LeBron é um Deus por conseguir esse tipo de pontuação com a mesma eficiência. Hill tinha um jogo mais polido, graças a quatro anos com Coach K em Duke e dois títulos universitários. Se você vê os highlights de Hill nos Pistons, vai ver algo muito parecido com o que James fazia na primeira de suas quatro fases como jogador, quando jogava quase sozinho em Cleveland.
A capacidade atlética para explodir e conseguir a bandeja ou a finalização de várias formas perto da cesta. A capacidade de ver o jogo, chamar a marcação e fazer o passe certo. LeBron teve uma imposição mais física a cada músculo que ganhou, mas Hill, com seus longos braços, conseguia rebotes mesmo em uma liga com pivôs e alas-pivôs brigando por eles como se fosse álcool gel na farmácia nos dias de hoje. Os dois são muito similares e ficam um patamar abaixo de Jordan e sua capacidade ofensiva inigualável.
Muito bem, não preciso falar muito sobre o que aconteceu com o tornozelo de Grant Hill – basicamente apodreceu enquanto ligado a seu corpo – e como ele não conseguiu ser o sucessor de Jordan por causa disso.
Vamos passar alguns anos. Ele chegou em Phoenix recebendo uma mixaria e logo se posicionou como mais uma arma para Steve Nash. Fisicamente ele não era mais ou mesmo, mas compensou com boa defesa e pontuando de forma eficiente, sempre com média de duplo-dígito. Não dá para falar que ele era um ‘three and D’ porque ele só arremessava uma bola de três por jogo em média.
Por que ele daria certo em 2020?
Porque ele fazia tudo em quadra. E ele ter sido relevante nos Suns de Steve Nash quando já avançava para o fim da carreira – que se prolongou bastante depois de sua traumática lesão no tornozelo – mostra como era um jogador inteligente e que podia “aprender” e jogar de diferentes formas.
Se o Hill de 1996/97 fosse transportado para a NBA de 2019/20, ele não arremessaria 33 bolas de três em 80 jogos, pode ter certeza. E não é por isso que seu jogo sofreria: só ver no GIF abaixo como ele tinha um jump shot e para fazer o arremesso de dois longo virar de três exigiria apenas um passo para trás.
Para voltar à comparação do começo, Hill teria um estilo bastante similar ao de Tom Brady escolheu o Tampa Bay Buccaneers.
Eu não acho que ele deveria estar no Hall da Fama. Sim, é o Hall do Basquete, portanto o que ele fez em Duke e sua medalha olímpica pesam, mas seu “SE” é gigantesco e ele nunca chegou perto de um título na NBA. Mas o Grant Hill dos Pistons jogaria tranquilamente em 2020 e seria um All-Star sem dúvidas.