Brad Stevens, do Boston Celtics, para MVP das finais da NBA

Eduardo Barão | 12/06/2024 - 23:04

As discussões sobre quem será MVP das Finais dominam a narrativa da NBA até antes da bola subir no jogo 1. Para Dallas, todo mundo aponta Luka Doncic como o favorito. Do lado do Celtics, com Kristaps Porzingis se destacando na primeira partida e Jrue Holiday sendo o grande destaque na segunda, a conversa fica um pouco mais difícil. O dirigente dos Warriors de 2012 a 2023 e comentarista da ESPN Bob Myers, ousou: ele quer Brad Stevens, dirigente da franquia de Boston, recebendo o prêmio.

A ideia de presentear um general manager com o MVP é um pouco absurda, mas no caso do Celtics tem se tornado cada vez mais difícil negar que Stevens não seja a figura central responsável pela grande campanha da equipe neste ano. É um processo de mais de uma década e que depois de altos e baixos criou um time a dois jogos de conquistar o título da NBA.

Como começou a história de Stevens nos Celtics?

Brad Stevens chegou ao Celtics em julho de 2013, para ser o 17º técnico da história da franquia. Pegou um time em reconstrução, que havia acabado de trocar seus ídolos Paul Pierce e Kevin Garnett em troca de futuras escolhas de draft.

Foi um risco tremendo de Stevens: ele era técnico da universidade de Butler e foi responsável por levar o mediano programa a duas finais do torneio da NCAA. Como técnico de college, gozava de privilégios em recrutamento e montagem de elenco que não teria na NBA. O contrato dele em Butler ainda estaria vigente caso ele nunca tivesse saído, com término previsto apenas em 2025.

Stevens se arriscou e se deu bem. Em dois anos, levou o time de volta aos playoffs. Em quatro, foi para sua primeira final de conferência e repetiu o feito um ano depois. Nessa época, os frutos da troca Pierce/Garnett já haviam chegado. Jaylen Brown e Jayson Tatum foram selecionados no Draft por meio de escolhas dos Nets.

Um período instável

Foi quando os altos e baixos começaram. Stevens não conseguiu mesclar os dois jovens com os veteranos Kyrie Irving e Gordon Hayward. Al Horford saiu e Kemba Walker chegou, mas o armador ex-Hornets lesionou o joelho e nunca mais foi o mesmo. Após serem eliminados pelo mesmo Nets que haviam assaltado na troca de 2013, Stevens cansou da prancheta.

Danny Ainge, o antigo GM que montou e desmontou o Big Three campeão de 2008, se “aposentou” e Stevens correu atrás da vaga. Uma das frustrações dele enquanto técnico era nunca poder usar o time que gostaria de montar. Algo que, quando era treinador no college, não era um problema.

Brad Stevens assumiu o cargo de presidente de operações de basquete do Celtics e logo começou a se mexer. Livrou-se de Kemba Walker para trazer Al Horford de volta, uma troca que agradou o veterano pivô e a torcida de Boston.

Depois, com o time ainda procurando uma identidade com o novo técnico Ime Udoka, trocou jogadores que não se encaixavam em sua filosofia por Derrick White. White parecia ser o protótipo de jogador que Stevens favorece. Um jogador que defende as 5 posições, arremessa de três e tem força física para infiltrar. Um jogador que talvez não iria ao Celtics sem Stevens no comando.

O começo de uma era promissora

Com a nova base, Boston foi às Finais da NBA. Perdeu para o experiente Warriors, mas o futuro parecia brilhante. E novamente veio um baque. Ime Udoka foi suspenso por violar normas de conduta da franquia. Seria demitido seis meses depois e Joe Mazzulla assumiu seu lugar.

A nova fase do Celtics foi marcada por inconsistência e terminou em uma eliminação surpreendente para o Miami Heat na final de conferência. Wyc Grousbeck, dono da franquia, passou o recado para Stevens: não era para entrar em 2023-24 com a mesma equipe de antes. Stevens teria que fazer o mesmo que seu antecessor e reformular o elenco.

Então, se arriscou. Trocou Marcus Smart, ídolo da torcida e jogador a mais tempo no Celtics, por Kristaps Porzingis. Buscava sacrificar a defesa de perímetro do time por uma nova dimensão no ataque. Era uma grande aposta, ainda mais considerando o histórico de lesões do gigante letão.

E Stevens acabou sendo compensado pelo risco que tomou. Pouco depois, o Milwaukee Bucks foi para o tudo-ou-nada e negociou por Damian Lillard, do Portland. Teve que enviar Jrue Holiday, alicerce defensivo do time, para os Blazers. O substituto perfeito de Marcus Smart estava agora em um time louco por negociá-lo por mais peças e Stevens foi ao ataque.

Jaylen Brown, Jayson Tatum, Derrick White, Al Horford, Jrue Holiday e Kristaps Porzingis. O sexteto responsável pelo grande ano de Boston trabalhou com Stevens enquanto técnico ou foi trazido por ele como dirigente. Os dois jogadores que trouxe esse ano renderam ao GM o prêmio de Executivo do Ano da liga. Ao Celtics, foram decisivos para que o time abrisse 2 a 0 nas Finals. Então Brad Stevens, MVP? Talvez não seja tão absurdo assim.

Escrito por Eduardo Barão
Eduardo Barão é jornalista, radialista, escritor e palestrante brasileiro, com mais de 20 anos de experiência. Atualmente, é correspondente internacional do Grupo Bandeirantes de Comunicação nos Estados Unidos. Apaixonado por esporte, cobriu nos ginásios as últimas finais da NBA.
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