A Seleção Brasileira ainda não era pentacampeã no futebol, o BBB ainda não havia estreado na televisão e Fernando Henrique Cardoso ainda era o principal mandatário do país. O mundo era muito diferente em 2002, porém, uma tendência da época era muito semelhante aos dias de hoje: o sucesso dos lutadores brasileiros no MMA.
Era 11 de janeiro de 2002, e o Brasil ainda não havia conquistado nenhum cinturão no UFC. Embora Royce Gracie, Marco Ruas e Vitor Belfort tenham sido vencedores de torneios nos primórdios da organização, nenhum deles colocou o tradicional ouro na cintura. Até que um brasileiro de 35 anos marcou seu nome nos livros.
Quem foi o lutador
Murilo Bustamante, nascido no litoral do Rio de Janeiro, sonhava em se tornar um surfista profissional. No entanto, começou a treinar jiu-jítsu após uma briga, aos 10 anos de idade. Murilo, então, começou a competir oficialmente aos 15 anos, antes de adicionar o judô em suas atividades. Aos 18 anos, iniciou a prática de boxe. Sob a tutela do renomado e saudoso Carlson Gracie, Bustamante recebeu a faixa-preta e se tornou campeão mundial na arte suave.
Em paralelo, aos 24, Murilo descobriu o vale-tudo e decidiu se aventurar na modalidade. Após seis lutas de invencibilidade, o brasileiro chamou a atenção do Ultimate Fighting Championship, já uma das principais organizações de luta na época. Em abril de 2000, Murilo recebeu a oportunidade de estrear no UFC. A organização recepcionou o brasileiro com o japonês Yoji Anjo. Com um jiu-jítsu implacável, Murilo finalizou o parceiro de Kazushi Sakuraba no segundo round, conquistando seu primeiro triunfo no evento.
No ano seguinte, Bustamante ganhou a chance de enfrentar Chuck Liddell, um astro em ascensão da modalidade nos Estados Unidos. Em uma luta dura e que gerou opiniões divergentes sobre o resultado, Murilo foi derrotado na decisão unânime dos juízes.
Ainda naquela noite, antes mesmo de deixar a arena, o brasileiro recebeu a visita de Dana White, presidente do UFC, nos vestiários. O chefe da empresa não havia concordado com a decisão dos jurados e propôs ao brasileiro duas opções de luta. A primeira seria uma revanche imediata com Chuck, que ainda não era o campeão do evento naquele momento. A segunda opção seria disputar o título dos pesos-médios (até 84kg) já em sua próxima luta, o caminho escolhido por Murilo.
A aguardada conquista do cinturão no UFC
Enfim, chegou o sonhado dia. A companhia norte-americana colocou o brasileiro diante do americano Dave Menne, em card com BJ Penn x Jens Pulver como principal atração. Murilo, especialista na luta agarrada, mostrou ao mundo que também tinha poder de fogo nas mãos. Aos 44 segundos do segundo round, Bustamante nocauteou o americano, conquistando o título dos médios da organização e o primeiro cinturão da história da entidade para o Brasil.
A história segue sendo feita. De lá para cá, muitos brasileiros alcançaram o ouro no Ultimate, mas somente Anderson Silva e Alex Poatan repetiram tal feito na divisão dos médios, destacando ainda mais a realização de Bustamante. Jamais esqueceremos.
Foto destaque: UFC