Estados Unidos x Vietnã é confronto histórico que mistura esporte e política

Samir MELLO | 21/07/2023 - 08:30

A temida seleção feminina dos Estados Unidos começa a sua campanha rumo ao pentacampeonato e a um tricampeonato consecutivo inédito e histórico no futebol – tanto masculino quanto feminino. O adversário desta sexta-feira (21/7) – o jogo acontece a partir das 22h, no Eden Park (Auckland, Nova Zelândia) –, é o Vietnã, o que torna o começo da jornada americana histórica para além das quatro linhas.

Estados Unidos e Vietnã protagonizaram um dos maiores confrontos bélicos do século 20, marcante para a história de ambas as nações. O confronto começou com a Guerra da Indochina, que separou o Vietnã em sul e norte. As regiões entraram em conflito, a partir de 1959, junto da resistência vietcongue do sul.

O confronto contou com influência massiva de potências que brigavam ideologicamente e buscavam espalhar as influências socialistas e capitalistas ao redor do mundo. Apoiando o lado norte, China e União Soviética. Pelo lado sul, os Estados Unidos.

A participação dos Estados Unidos na guerra, com o uso de armas químicas e o massacre a aldeias de civis, além da morte de 58 mil soldados americanos, resultou em severas críticas e protestos pelo fim da guerra. Nenhuma crítica e protesto, no entanto, foi tão marcante e duradoura quanto a de um homem em específico.

Muhammad Ali e a Guerra do Vietnã

Já dono do título dos pesos-pesados e com nove defesas de cinturão bem-sucedidas, Muhammad Ali foi um dos jovens convocados para lutar na guerra do Vietnã. Em 28 de abril de 1967, ele, aos 25 anos, chegou a se apresentar a uma unidade do exército em Houston, porém, quando seu nome foi chamado, por três vezes, ele se recusou a dar um passo à frente.

– Por que eles deveriam me pedir para colocar o uniforme, ir a 10 mil milhas de casa e atirar bombas e balas nas pessoas marrons no Vietnã enquanto as pessoas chamadas de ‘nigger’ em Lousville são tratadas como cachorros e negadas direitos humanos básicos? –, afirmou Ali em célebre frase, além de citar razões religiosas para a sua recusa.

Em 20 de junho de 1967, o juíz Joe Ingraham sentenciou o boxeador a cinco anos de prisão, além de uma multa de US$ 10 mil. Seu título dos pesos-pesados também foi retirado e ele ficou três anos e meio sem lutar. No mesmo dia da condenação de Ali, o congresso americano votou massivamente a favor de estender o draft por mais quatro anos, e concordou em tornar um crime federal o ‘desrespeito à bandeira’.

Ou seja, a sentença desproporcionalmente pesada dada a Ali teve como claro objetivo conter os ânimos e protestos anti-guerra. Porém, o tiro saiu pela culatra. Duas semanas depois a sentença, a iniciativa Tate expôs a mentira de que os Estados Unidos estavam vencendo a guerra e chegavam notícias de que o exército americano estava matando mil vietnamitas civis por semana, que 100 soldados americanos morriam a cada dia e o combate estava custando 2 bilhões por mês ao país.

Todos esses retrocessos e, agora, tendo Ali como um símbolo de resistência, criaram focos de crítica à guerra não só nos Estados Unidos, mas em todo o mundo.

Em 1971, a justiça finalmente prevaleceu e a Suprema Corte anulou a condenação de Muhammad Ali. Em 1973, o presidente Nixon assinou os Acordos de Paz de Paris, oficializando a saída dos Estados Unidos da Guerra do Vietnã.