Mesmo derrotado, José Aldo tem que ser respeitado

Eric Filardi | 15/07/2020 - 02:58

Uma lenda do MMA brasileiro, que nem sempre tem o prestígio que merece, José Aldo Júnior, o Campeão do Povo, foi derrotado pelo agora campeão dos galos Petr Yan. Mas aqui vale uma ressalva aos torcedores brasileiros, sejam os mais apaixonados, críticos ou céticos: Aldo merece respeito!

José Aldo merece respeito

José Aldo reinou absoluto durante incríveis oito anos. Ganhou o cinturão dos penas no extinto WEC (World Extreme Cagefighting), sendo um fenômeno ao alcançar tal feito aos 23 anos. Ou seja, nascia um monstro do MMA num grande evento e num país onde o esporte ainda não tinha tanto reconhecimento. Mas, mesmo assim, gravou o nome do Brasil no WEC.

Mas o povo brasileiro tem tendência a exaltar campeões e líderes de campeonatos, ou seja, segundos lugares, medalhas de prata e bronze, ou uma derrota/perda de cinturão, o atleta já não vale mais nada. Zé Aldo embalou sete vitórias consecutivas no início da carreira até ser derrotado por seu compatriota Luciano Azevedo, por finalização, no Jungle Fight, em 2005. Daí em diante, nasceu uma máquina.

O nascimento de uma lenda: José Aldo

Decerto, após a perda da invencibilidade José Aldo mostrou imparável, mais forte que o mundo. Emendou 18 vitórias consecutivas, juntando WEC e UFC, sendo considerado um gigante do MMA e maior nome da história dos penas. Os nomes que ele enfrentou, se analisados hoje, pode ser que alguns digam que não eram grandes nomes. Contudo, para fazer tal análise deve se levar o contexto da época. Assim, vamos analisar os rivais de Aldo no mais alto nível, ou seja, desde o início no WEC, no dia 1º de junho de 2008. Dessa forma, você vai conhecer a verdadeira lenda que é José Aldo.

Os rivais deixados para traz no WEC

Alexandre Franca “Pequeno” Nogueira

O também brasileiro começou a lutar MMA profissionalmente no Shooto, evento japonês, em 1998. Em 1999, após três lutas, já era campeão dos Lightweight do evento. Fez seis defesas de cinturão e jamais perdeu seu título lá. Saiu do evento, fez três lutas no Hero’s e depois assinou com o WEC, justamente para enfrentar José Aldo, que também estreava. A zebra está o jovem Júnior. Este que mostrou ter futuro ao nocautear um ex-campeão no 2º round.

Jonathan Brookins

O americano era uma promessa do MMA de seu país. O atleta já havia sido derrotado por duas vezes, mas uma decisão unânime e outra por decisão dividida. Era um atleta talentoso, tendo vencido, até a luta com Aldo, oito vezes, sendo seria por finalização e duas por nocaute. Eita que Aldo o nocauteia, algo que nunca havia acontecido, no 3º round de sua estreia no WEC. Mesmo assim, o garoto, posteriormente, foi campeão do TUF (The Ultimate Fighting) 12.

Rolando Perez

Mais um americano que estreou no WEC e se encorajou a desafiar Aldo. Já havia perdido antes de chegar na franquia, mas por decisão unânime. O jovem tinha quatro vitórias, sendo três por finalização e uma por nocaute. Zé nocauteou-o no 1º round, algo que nunca tinha acontecido com Perez. O brasileiro levou o prêmio de nocaute da noite.

Chris Mickle

O americano, apelidado de “Crazy Dog” (Cachorro Louco) era uma máquina de nocaute. Ia para cima enlouquecidamente para matar ou morrer. Suas lutas raramente chegavam no 2º round e passou do 2º somente em 10 oportunidades em toda a carreira, tendo 51 lutas no cartel.

Assim, na época da luta, vinha de duas vitórias consecutivas: nocaute no 1º round com 13 segundos de luta e finalização no final do 1º round na luta seguinte. Além disso, vinha com um cartel de 26-12-2, tendo nocauteado 17 vezes no 1º round. Aldo venceu com 1’39” do 1º round.

Cub Swanson

O americano vinha de duas vitórias seguidas, sendo uma por finalização e a outra por decisão unânime, mas ganhando o prêmio de luta da noite. Antes disso, tinha sofrido sua segunda derrota (a primeira foi na estreia), mas chegava para a luta com um cartel de 13-2 para disputar o cinturão do WEC com Aldo. Assim, aos 26 anos, Swanson era outra máquina. Vinha de seis finalizações, quatro nocautes e apenas três por decisão. Aldo o nocauteou com oito segundos de luta com uma joelhada voadora dupla e levou o prêmio de nocaute da noite.

Mike Brown

O americano vinha de 10 vitórias consecutivas. Havia vencido Urijah Faber por nocaute no 1º round em 2008, tomado dele o cinturão de campeão do WEC e ainda levou o prêmio de nocaute da noite. Finalizou Leonard Garcia também no round inicial em sua primeira defesa de cinturão, ganhando bônus de finalização da noite.

Na sequência, em uma revanche com Faber, venceu por decisão unânime e prêmio de luta da noite. Chegou para enfrentar o brasileiro com um cartel de 22-4 e a invencibilidade de 10 lutas. Foi só enfrentar Aldo que perdeu o cinturão e sua carreira nunca mais foi a mesma. O manauara nocauteou Brown no 2º round. Pós-Aldo não conseguiu embalar mais que duas vitórias seguidas.

Urijah Faber

Este americano luta até hoje e não era um adversário simples de ser superado. no início de carreira embalou cinco vitórias consecutivas e na sexta ganhou o cinturão dos Galos do KOTC, em 2004. Em sua nona luta disputou outro cinturão, o dos Leves do GC, mas perdeu para Tyson Griffin. Seguiu no KOTC defendendo seu cinturão até a ida para o WEC.

Em sua última luta no KOTC, defendeu o título contra o brasileiro, hoje campeão do One FC, Bibiano Fernandes. Estreou no WEC e defendeu o cinturão dos Galos por cinco vezes, além de um prêmio de luta da noite. Chegou para enfrentar Brown com um cartel de 21-1. Pré-Aldo, havia batido o brasileiro Raphael Assunção com o prêmio de finalização da noite. Fez uma dura luta com Aldo pelo cinturão, mas perdeu por decisão unânime.

Manvel Gamburyan

O armênio-americano competiu no The Ultimate Fighter e chegou até a final, perdendo para Nate Diaz. Fez quatro lutas no UFC, vencendo duas por finalização, mas perdendo na sequência para Rob Emerson e o brasileiro Thiago Tavares. Após duas derrotas foi se reinventar no WEC, e deu certo. Emendou três vitórias seguidas com direito a prêmio de nocaute da noite no ex-campeão Mike Brown. Chegou com moral para desbancar o brasileiro José Aldo, mas não deu certo. Derrota por nocaute no 2º round.

Os rivais deixados para traz no UFC

Mark Hominick

O canadense vinha muito bem até a luta contra Aldo. Entre altos e baixos no começo da carreira, chegou no UFC 129 para disputar o cinturão contra José Aldo vindo de cinco vitórias consecutivas, sendo duas finalizações, dois nocautes, uma decisão dividida e uma luta da noite. Havia sido campeão canadense do UCC e do TKO. Outro lutador que chegou com moral frente ao Campeão do Povo. Fez uma dura luta com o brasileiro e perdeu por decisão unânime. Ganharam o prêmio de luta da noite. Depois dessa derrota não venceu mais e se aposentou em 2012.

https://www.youtube.com/watch?v=Ce-QQeXVta4

Kenny Florian

O americano fez parte do primeiro The Ultimate Fighter e chegou a final, perdendo para Diego Sanchez na final. Venceu três lutas, vencendo o TUF 2 e o TUF 3. Perdeu para Sean Sherk na disputa de cinturão dos Leves. Mas voltou a venceu e embalou seis vitória consecutivas, disputando o cinturão contra BJ Pen, mas sendo finalizado.

Entretanto, finalizou duas vezes e perdeu por decisão unânime para Gray Maynard. Venceu Diego Nunes por decisão unânime e, devido a ter disputa algumas vezes o cinturão, mas não levar, sua vitória o credenciou para lutar com Aldo. A luta foi vencida pelo brasileiro por decisão unânime, mas o suficiente para Florian se aposentar aos 35 anos.

Chad Mendes 1 e 2

Talvez o cara mais credenciado que tenha enfrentado José Aldo. Vinha de 11 vitórias seguidas na carreira e estava invicto. Também passou pelo WEC antes de chegar ao UFC. Duas vitórias no evento o credenciaram a lutar pelo cinturão com o brasileiro em 2012. Portanto, só a invencibilidade já é um grande desafio.

Assim, num início de luta conturbado, Aldo virou no final do round com uma joelhada e o nocauteou no 1º round. Após a derrota, Chad voltou a vencer. Emendou cinco vitórias consecutivas e voltou a desafiar Aldo. Desta vez, cinco rounds duros em 2014, uma decisão unânime pró-Aldo e a segunda derrota de Mendes na carreira.

Frankie Edgar 1 e 2

Outro cara bem forte que enfrentou Aldo foi Edgar. Mas, no início da carreira, emendou cinco vitórias seguidas e na sexta luta disputou o título do RF (Reality Fighting) com Jim Miller e ganhou o cinturão dos Leves. Logo na sequência entrou no UFC e estreou vencendo Tyson Griffin e levando o prêmio de Luta da Noite.

Chegou a nove vitórias e depois perdeu para Gray Maynard por decisão unânime. Venceu o brasileiro Hermes França, levando o prêmio de Luta da Noite. Bateu Sean Sherk e enfrentou Matt Veach, finalizando com um mata leão e levando mais um bônus de Luta da Noite. Isso o credenciou para enfrentar BJ Penn pelo cinturão. Por fim, venceu por decisão unânime e defendeu o título contra o mesmo com o resultado igual.

Lutou contra Gray Maynard novamente, desta vez pelo cinturão dos Leves. A luta foi tão top que levou o prêmio de Luta da Noite e Luta do Ano (2011). Obviamente ambos tiveram que fazer o tira-teima. A luta foi épica. Edgar nocauteou Maynard no 4º round e levou o prêmio de Nocaute do Ano. Trouxeram Ben Henderson para lutar pelo cinturão.

Henderson venceu as duas lutas, uma por decisão unânime e outra por decisão dividida, mas lutas parelhas, uma delas sendo Luta da Noite. Edgar então desceu de categoria para disputar o cinturão dos Penas. Assim, perdeu para José Aldo por decisão unânime e venceram o prêmio de Luta da Noite em 2013. Em 2016, logo após a derrota de Aldo para McGregor, Frank Edgar foi chamado para lutar com Aldo novamente e pelo cinturão interinos dos Penas. Mais uma decisão unânime pró-Aldo.

Chan Sung Jung (Zumbi Coreano)

Zumbi Coreano chegou ao UFC com um cartel de 10-3. Estreou com tudo com uma vitória por finalização no 2º round, levando o prêmio de Finalização da Noite e Finalização do Ano (2011). Enfrentou Mark Hominick na luta seguinte e foi novamente avassalador: nocaute com sete segundos de luta e prêmio de Nocaute da Noite. Sua terceira luta do evento foi contra Dustin Poirier.

O Zumbi atacou novamente e finalizou o americano no 4º round com um triângulo de mão. Levaram o prêmio de Luta da Noite e Finalização da Noite. Assim, se credenciou para enfrentar José Aldo pelo cinturão dos Penas. Portanto, foi outra vítima do Campeão do Povo. Por fims, perdeu por nocaute no 4º round e novamente como Luta da Noite de bônus.

Ricardo Lamas

Começou a carreira com um cartel de 6-0. Perdeu por nocaute para Danny Castillo em sua segunda luta no WEC, mas emendou outras três vitórias. Perdeu por nocante para o brasileiro Iuri Alcântara antes de ir para o UFC. Emendou quatro vitórias seguidas com um prêmio de Finalização da Noite. Assim, foram dois nocautes, uma finalização e uma decisão unânime, o que o credenciou para enfrentar José Aldo. Derrota por decisão unânime na luta pelo cinturão.

Foto destaque: Reprodução/Roma News

Escrito por Eric Filardi
Quando pequeno quis ser jogador. O sonho de criança passou. Mas a vida de jornalista começou. Sou Eric Filardi, paulistano criado em Taboão da Serra, jornalista pós-graduado em Jornalismo Esportivo e apaixonado por futebol, basquete e MMA. Como todo jornalista amo escrever. Como todo brasileiro amo futebol. Tenho meu clube e minhas preferências, mas viso o profissionalismo e a imparcialidade, sem deixar de lado a criatividade. Sou poeta em @avipen no Instagram.