Sem dúvida alguma, existe um antes e depois de Ronda Rousey no UFC. A americana, queridinha de Dana White até ser derrotada pela compatriota Holly Holm e pela brasileira Amanda Nunes, finalizou com um mata-leão o presidente do UFC em 2011.
Enquanto o presidente do UFC, o americano Dana White, bradava que mulheres nunca lutariam em sua organização, sua compatriota Ronda já tinha: dois ouros e uma prata em Pan-Americano de Judô (2004, 2005 e 2006), um ouro no Pan do Rio de Janeiro em 2007, prata no Campeonato Mundial do mesmo ano e bronze em Pequim 2008. Assim, foi a primeira americana a ganhar uma medalha olímpica no judô.
Em 2010 começou no MMA, vencendo três lutas no amador. Em 2011 estreou no profissional pelo King of the Cage, vencendo a brasileira Ediane Gomes. Duas lutas após a estreia, debutou no Strikeforce. Foram mais duas vitórias, tendo um cartel de 4-0. Seu judô apurado fazia sucesso, tendo terminado todas as suas lutas no 1º round e com finalização.
Tal performance a credenciou para lutar pelo Cinturão dos Galos da franquia frente a americana Miesha Tate, então campeã. Com sua quinta chave de braço no profissional, a judoca finalizou Tate sem piedade e tomou o cinturão do Strikeforce. Defendeu o título contra a canadense Sarah Kaufman, novamente com seu golpe característico, sempre no 1º round, enlouquecendo o mundo do MMA.
O mundo parava para ver essa garota! Afinal, quem era essa judoca americana que não dava chance as adversárias de mostrar seu jogo? Seis lutas, seis vitórias, todas no 1º round, tendo lutado, até então, somente 7’39” na carreira profissional inteira. Isso encheu os olhos de Dana White, pois o mundo queria ver Ronda Rousey no UFC.
Ronda Rousey finalizou Dana White
Contrariando sua palavra e com uma grande pressão da mídia e da torcida, Dana White não só se apaixonou por Ronda, como também viu muitos cifrões na beleza da luta e do rosto da judoca. Assim, sendo finalizado pela Ms. Rousey, o chefão do UFC se rendeu. Em novembro de 2012, Rousey se tornou a primeira lutadora a assinar pela organização e foi nomeada a primeira campeã do peso galo do UFC ao chegar.
Frente a americana Liz Carmouche, fez história ao fazerem a primeira luta feminina do UFC. Obviamente, finalizou a rival no 1º round com chave de braço. Então teve um reencontro com Miesha Tate. A luta foi épica, tendo levado o prêmio de Luta da Noite e Finalização da Noite. Porém, pela primeira vez na carreira, lutou três rounds. Contudo, como dito na premiação, venceu por finalização.
Passou pela também americana Sara McMann sem dificuldades e aumentando o repertório: nocaute técnico com joelhada com 1’06” de luta. Defendeu o cinturão dos galos novamente, desta vez contra a canadense Alexis Davis: nocaute de socos com 16 segundos de luta. Sua compatriota Cat Zangano também não foi páreo: finalização de braço em 14 segundos de luta. A brasuca Bethe Correia não durou mais que 34 segundos também.
O maior desafio da carreira: Holly Holm
Após 12 vitórias seguidas, colocaram Ronda Rousey a frente de uma boxeadora profissional: a americana Holly Holm. O maior desafio da carreira estava por vir. Ninguém batia a “queridinha de Dana White”. Mas a 19 vezes campeã mundial de boxe em três categorias diferentes tentaria destronar a então maior lutadora que o UFC já tinha visto. Em 14 de novembro de 2015 o embate entre ambas aconteceu.
Holly Holm havia feito um caminho similar ao de Ronda. Também entrou no MMA em 2011 após ter uma história em outro esporte. Aos 21 anos já estreou no boxe e aos 23, após sua primeira derrota, foi campeã inaugural dos ligeiros. Em 2006, ganhou seu primeiro título da WBA (Associação Mundial de Boxe), na categoria dos médios. No mesmo ano faturou o título do IFBA (Associação Internacional Feminina de Boxe) médio-ligeiro. No ano seguinte conquistou o título do IBA (Associação Internacional de Boxe) Meio-médio.
Ficou invicta por sete anos (entre 2004 e 2011). Até que, em 2011, foi nocauteada pela francesa Anne Sophie Mathis. Na revanche, venceu e não perdeu mais no boxe, tendo feito outras duas lutas antes de migrar para o MMA com um cartel de 33 vitórias, duas derrotas e três empates. Seu desempenho lhe valeu seis prêmios seguidos de Lutadora do Ano pela aclamada Revista The Ring (entre 2005 e 2010). Em 2013, ela entrou para o Hall da Fama do Boxe.
Ronda x Holm: a luta do século
No MMA, estava invicta até a luta contra Ronda Rousey: era um cartel de 9-0. Na encarada pré-luta, quase saíram na mão antes mesmo de entrarem no octógono. A campeã se recusou a tocar às luvas da rival antes de começar o combate o que acirrou ainda mais a disputa e levou os fãs à loucura. A luta gerou 1.1 milhões de compras pay-per-view, tornando-se um dos eventos mais vendidos de pay-per-view do UFC de todos os tempos.
Ronda nunca tinha enfrentado uma adversária com um boxe tão afiado quanto o de Holly Holm. “Inagarrável”, Holm nunca havia sido derrubada. Deferiu golpes e machucou a campeã que ficou perdidinha na luta. Como a maioria deve imaginar, se é que não viram, Holly Holm nocauteou Ronda Rousey aos 59 segundos do 2º round com um chute na cabeça e socos. A maior lutadora do UFC até então teve de passar o bastão e, como não teve paridade na luta, sem chances de revanche. Era o fim de uma era.
A previsão da derrota de Ronda Rousey
Por ironia do destino, em uma entrevista dada ao apresentador americano Jimmy Fallon, no dia 8 de outubro de 2015, Ronda previu como seria derrotada para Holly Holm:
Essa luta vai ser muito mais longa do que as anteriores, porque ela é 19 vezes campeã de boxe, com 100% de defesa de quedas e nocautes com chutes na cabeça. Ela está invicta e é uma atleta maravilhosa, definitivamente o maior perigo que já enfrentei. Acho que ela vai tentar manter a distância para me deixar tão frustrada a ponto de eu cometer um erro e aí ela vai tentar chutar a minha cabeça, mas isso não vai acontecer. É apenas o que ela quer.
Uma lenda merece uma segunda chance
Entretanto, Miesha Tate, duas vezes derrota por Ronda, finalizou Holly Holm com um mata-leão e tomou o cinturão, o que fez com que cogitassem uma terceira luta com Tate. O que não rolou. Isso porque na primeira defesa de cinturão de Miesha, apareceu a brasileira Amanda Nunes, que usou o feitiço contra a feiticeira. Finalizou Miesha e tomou seu cinturão. Então, veio a chance de Ronda Rousey mostrar que não estava morta e recuperar seu prestígio: lutar pelo cinturão contra Amanda Nunes.
O fim do reinado e o começo de uma nova era
Na primeira defesa de cinturão de Amanda Nunes, o desafio era uma lenda do UFC: Ronda Rousey, em 30 de dezembro de 2016. Mas se Ronda achava Holly Holm era uma ótima boxeadora, não tinha visto o poder da “Leoa” ainda. Em apenas 48 segundos, Amanda aposentou de uma vez por todas Ronda dos octógonos. Era o fim de uma era, literalmente, e o início de outra. Apesar de não ter anunciado, Ronda deixou de vez as lutas após essa derrota com apenas 31 anos.
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