Taylor Swift: um furacão midiático em pleno Super Bowl LVIII

Eduardo Barão | 08/02/2024 - 14:02
Não. Você não leu errado. Taylor Swift é uma das principais atrações do Super Bowl LVII. Mas ela não fará parte do show do intervalo, que terá o rapper Usher como atração principal, nem cantará o hino norte-americano, missão da country Reba McEntire.

Taylor Swift deve atrair holofotes do alto do camarote mesmo, de onde torcerá pelo namorado Travis Kelce, tight end do Kansas City Chiefs, adversário do San Francisco 49ers na grande final do futebol americano, em 11 de fevereiro, no Allegiant Stadium, em Las Vegas.

Quando o relacionamento da cantora com o profissional da NFL era ainda apenas um boato, sua presença na partida contra o New York Jets teria atraído 2 milhões de novas espectadoras (Chiefs x Jets foi o jogo de temporada regular mais assistido da história). De acordo com a NBC, que transmitiu o confronto, a audiência entre meninas de 12 a 17 anos cresceu 53% se comparado ao mesmo período da temporada anterior. Entre mulheres de 18 a 24 anos, o crescimento foi de 24%, e entre aquelas com mais de 35 anos, uma alta de 34%.

A simples presença de Taylor Swift transformou Travis Kelce em ícone da cultura pop – algo incomum entre aqueles que não são quarterbacks. A venda de jerseys com seu nome e número subiu nada menos que 400%.

Há anos a NFL busca maneiras de incrementar sua audiência, em um mundo onde o conteúdo on demand domina e as novas gerações parecem cada vez menos interessadas em esporte em geral. A liga tentou atrair especialmente as mulheres, com diversas ações que acabaram trazendo mais polêmica do que resultados (alguém se lembra do Pink October e dos uniformes totalmente rosa na NFL Shop? Pois é.)

Mas ninguém esperava que um namoro fosse causar tanto impacto.

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O ‘efeito Taylor Swift’: como a NFL se beneficiou do namoro da cantora com Kelce

Nascida na Pensilvânia, a cantora de 34 anos foi a primeira a arrecadar mais de um bilhão de dólares com uma turnê, com 4.35 milhões de ingressos vendidos. A loira passou pelo Brasil em 2023 para seis shows absolutamente esgotados: as apresentações no Rio de Janeiro fizeram com que a cidade tivesse mais de 97% da ocupação dos hotéis, segundo a Associação de Hotéis do Estado do Rio de Janeiro, enquanto os shows de São Paulo bateram recorde de público no Allianz Parque, além de movimentar mais de 240 milhões de reais, de acordo com a SPTuris.

Mas é nos Estados Unidos que ela se mostra onipresente. Uma pesquisa conduzida pela SSRS indica que 6 em cada 10 norte-americanos se consideram fãs casuais, e desses, 8% são “grandes fãs” da cantora.

Uma base de fãs tão grande dá a ela o verdadeiro toque de Midas. 8 em cada 10 adultos nos EUA já ouviram falar do namoro da cantora com Kelce. Em pesquisa realizada pela LendingTree, 16% dos consumidores norte-americanos declararam que Swift os influenciou a gastar algum dinheiro com o esporte. Esse número sobe para 40% entre a geração Z (nascidos de 1995 a 2010).

O Apex Marketing Group divulgou que Taylor Swift gerou o equivalente a 331.5 milhões de dólares em “valor de marca” para o Kansas City Chiefs e a NFL. O número equivale ao impacto e alcance da cantora desde seu primeiro jogo nos camarotes, em 24 de setembro, nas mídias impressa, digitais, rádio, televisão e redes sociais.

A pergunta agora é se a influência de Taylor Swift vai se traduzir em audiência durante o Super Bowl LVIII

Depois de uma queda acentuada em 2021, quando “apenas” 91.6 milhões de pessoas sintonizaram no jogo, a edição de 2022 viu o número de espectadores saltar para 112.3 milhões, para depois bater o recorde de audiência em 2023, com 115.1 milhões de espectadores. Tudo indica que 2024 deve superar essa marca, já que as audiências da temporada regular também tiveram alta. O mercado das bets também está de olho, já que mais de 50 milhões de norte americanos já declararam que pretendem fazer algum tipo de aposta, de acordo com a American Game Association.

Romance entre Travis Kelce e Taylor Swift não passa de uma jogada de marketing?

Mas é claro, tem quem afirme que é tudo um golpe de marketing. Seja da NFL, pra atrair mais mídia para o Super Bowl, seja do partido democrata visando as eleições presidenciais.

Mike Crispi, personalidade de mídia nos Estados Unidos e apoiador de Trump postou no X (o antigo Twitter) que a “NFL está totalmente manipulada em prol do Kansas City, de Taylor Swift e de Mr. Pfizer (Travis Kelce). Tudo para espalhar propaganda democrata”.

Explicamos. Travis Kelce apareceu em setembro de 2023 em uma propaganda do CDC (o Centro de Controle e Prevenção de Doenças norte-americano), em parceria com a Pfizer, promovendo a vacinação contra COVID-19 e gripe.

Assim como no Brasil, a vacina é bastante controversa entre grupos de direita e extrema direita.

E Taylor já declarou voto nos Democratas no passado, incluindo na ocasião da candidatura de Joe Biden e Kamala Harris (hoje Presidente e Vice) em 2020. Ela declarou na época que “acreditava que a América tinha a chance de começar um tão necessário processo de cura”.

Os números da vida e carreira de Taylor Swift não deixam dúvidas que um eventual apoio nas eleições de 2024 podem impactar o resultado das eleições.

Em Setembro de 2023, ela usou o Instagram para encorajar seus 272 milhões de seguidores para se registrarem para votar (lembrando que o voto não é obrigatório para os cidadãos norte-americanos, que devem fazer uma “pré-inscrição” para participar do pleito). O post em questão resultou em mais de 35 mil novos registros através da plataforma Vote.org.

Travis Kelce virou ‘ícone’ da Cultura Pop

A NFL não poderia deixar de surfar nessa onda: até como header do perfil do X/Twitter a cantora já apareceu. O mundo não via um power couple assim desde a união de David Beckham e a Posh Spice Victoria no final do século passado – e numa época sem redes sociais.

Um exemplo da influência do casal: logo após o título dos Chiefs na Conferência Americana, a American Airlines anunciou uma rota especial entre Kansas City e Las Vegas, sede do Super Bowl: o voo de ida ganhou o número 1989, em homenagem ao álbum de maior sucesso de Taylor Swift, enquanto a volta tem número 87, assim como a camiseta dos Chiefs de Travis Kelce.

Não que eles voem de American. Taylor inclusive deve depender de seu jatinho particular para conseguir chegar ao Super Bowl: ela se apresenta com sua turnê internacional na noite de sábado, 10 de fevereiro, em Tóquio, no Japão, e conta com o fuso-horário “atrasado” do ocidente e muita disposição para chegar ao Allegiant Stadium a tempo de ver seu amado brigar por um dos títulos mais cobiçados da terra do Tio Sam.

Escrito por Eduardo Barão
Eduardo Barão é jornalista, radialista, escritor e palestrante brasileiro, com mais de 20 anos de experiência. Atualmente, é correspondente internacional do Grupo Bandeirantes de Comunicação nos Estados Unidos. Apaixonado por esporte, cobriu nos ginásios as últimas finais da NBA.