Eu não tenho vergonha em copiar pegar referências para fazer textos com minha assinatura e foto feia embaixo. Pelo menos eu digo quais elas são. Nesta semana, ouvi um podcast relembrando a épica, sensacional e maravilhosa final da Conferência Nacional (NFC) em 2014, que colocou Seattle Seahawks e San Francisco 49ers frente a frente.
Você deve se lembrar dessa partida pela entrevista pós-jogo. Até esse momento blé foi demais com Richard Sherman inchando mais as narinas que um leão atacando um hipopótamo na savana.
Depois de ouvir o podcast e lembrar deste texto maravilhoso (escrito por um cara que, se fosse preso e escrevesse suas colunas em papel higiênico, eu faria uma visita íntima só para ler), resolvi fazer algo semelhante. Mas, em vez do Golden State Warriors, com o San Francisco 49ers.
Viu? Fui original mesmo copiando na cara dura.
O jogo que levou o Seattle Seahawks para o Super Bowl XLVIII, onde atropelou o Denver Broncos, foi realizado no dia 19 de janeiro de 2014. Ou seja, pouco mais de cinco anos se passaram. E, desde lá, os Niners foram basicamente atropelados por um bonde, arrastados pela correnteza, enterrados enquanto respiravam, conseguiram tirar a mão para fora à la Uma Thurman em Kill Bill, mas a mão recebeu cinco tiros.
Eu escrevi colunas enquanto isso tudo acontecia para este nobre site chamado Quinto Quarto. Mas agora, com cinco anos de perspectiva, eu fiquei inspirado para escrever esta coluna com um passo a passo com datas do que foi acontecendo.
Juro por Deus: é hilário até se você tiver uma tatuagem do Joe Montana beijando o Jerry Rice ocupando as suas costas inteiras.
Conteúdo
O San Francisco 49ers no dia 18 de janeiro de 2014
Os Niners nos anos 2000 foram o mais distante possível de uma dinastia. Em 2005 até tiveram a primeira escolha do Draft, selecionando Alex Smith. O coitado passou por n treinadores, x coordenadores ofensivos, e viu Aaron Rodgers, escolhido em 24º no mesmo ano de 2005, virar titular nos Packers, chutar Brett Favre para fora, ganhar um MVP e um Super Bowl.
Mas Smith e os Niners ganhariam um alento com Jim Harbaugh, o lorde da calça caqui. Harbaugh assumiu o time, estabeleceu a defesa, normalizou o ataque e uma série de escolhas certeiras do diretor e depois GM Trent Baalke. Enfim, criou um time incrível.
O Niners chegaram ao Super Bowl em 2013, já com Colin Kaepernick de titular – escolha de segunda rodada – e perderam por três pontos para os Ravens. Na temporada seguinte, o time estava novamente na final da NFC pelo terceiro ano seguido; no primeiro perdeu para os Giants, campeões logo em seguida no Super Bowl XLVI.
Naquela temporada de 2013, os Niners tinham visto Kaepernick se estabelecer como titular e estrela da liga, com seu braço bom e pernas longas sempre conseguindo jardas, especialmente contra o Green Bay Packers. Alex Smith se lesionou no meio da temporada anterior e nunca mais conseguiu ser titular.
Na defesa, o time tinha o sensacional linebacker NaVorro Bowman (3ª rodada, 2010), o ótimo linebacker Patrick Willis (1ª rodada, 2007), Justin Smith e Donte Whitner, ambos Pro Bowlers. Ainda tinha Ahmad Brooks (segundo time All-Pro em 2013) e o louco Aldon Smith – 2º na votação de Calouro do Ano em 2011 (atrás apenas de Von Miller) e com 8,5 sacks em 2013, apesar de ter perdido cinco jogos por ter ido para a reabilitação.
Kaepernick podia passar para Vernon Davis, à época um dos melhores tight ends da liga (Pro Bowler), para o bom wide receiver Michael Crabtree, tinha uma linha com Joe Staley e Mike Iupati, e o já veterano e ainda excelente running back Frank Gore, que teve 1.128 jardas e nove TDs na temporada 2013.
Ou seja, estamos falando de um time com várias peças jovens de muita qualidade, veteranos que produziam e um treinador entre os melhores da liga.
O dia 18 de janeiro de 2014 era um dia de empolgação, ansiedade para o kickoff rolar logo e a esperança de mais uma ida ao Super Bowl e anos de ouro em seguida.
No fim das contas, o dia 19 de janeiro de 2014 foi o último de playoffs para o San Francisco 49ers até o momento. Cinco anos, dois meses e quatro dias se passaram.
O que aconteceu no dia 19 de janeiro de 2014
Não foi uma simples derrota. Foi uma derrota doida para um rival de divisão. E não foi só uma derrota doida para um rival de divisão. Foi uma pisada mascando chiclete que fez os Niners entrarem em um inferno astral. Vou colocar em pontos para vocês terem uma noção da desgraça.
- NaVorro Bowman, um deus na posição de linebackers, estourou o ligamento cruzado anterior e o ligamento colateral médio no quarto período do jogo. Ele não conseguiu jogar a temporada seguinte INTEIRA.
- Colin Kaepernick foi interceptado duas vezes, inclusive no lance decisivo da partida. Sua temporada seguinte foi boa, mas teve uma queda no número de TDs passados, maior número de interceptações e um contrato de seis anos e US$ 126 milhões que começou a ser visto com desconfiança
- Michael Crabtree, alvo da fúria de Richard Sherman, teve quatro recepções para 52 jardas e era o alvo da bola que foi interceptada para decidir o jogo. Sua temporada seguinte foi horrível, com pouco mais de 600 jardas nos 16 jogos. Ele deixou o time na offseason da temporada seguinte.
Já me adiantei um pouco, mas foi necessário. Bowman, Crabtree e Kaepernick saíram do CenturyLink Field marcados, com o coitado do linebacker sendo o pior dos casos.
Tudo só ficaria pior com Sherman campeão duas semanas depois com a completa aniquilação que os Seahawks promoveram para cima do Denver Broncos e Peyton Manning, donos do maior ataque da história da NFL naquela temporada regular.
Vamos para a temporada seguinte.
A temporada 2014 do San Francisco 49ers
Mal o time saiu dessa derrota desgracenta e começaram a surgir os boatos que Jim Harbaugh e o GM Trent Baalke, os dois responsáveis por guiar os Niners rumo à relevância novamente, tinham um relacionamento tóxico. As notícias ruins citando fontes de dentro da franquia não pararam a temporada inteira.
Colin Kaepernick assinou contrato de seis anos e US$ 126 milhões antes de a temporada começar. À época já tinha ficado claro que o contrato tinha várias saídas para os Niners. No total, “apenas” US$ 39,4 milhões foram pagos.
Os 49ers mudaram do Candlestick Park, localizado em área central de San Francisco, para o novo e moderno Levi's Stadium, em Santa Clara. O antigo estádio era ultrapassado. Mas estava próximo, os Niners venceram tudo ali e a torcida o enchia.
O Levi's Stadium é lindo e maravilhoso. Mas o gramado parece mais amaldiçoado que o time, a franquia tem problemas para enchê-lo e está brigando com a cidade de Santa Clara. E, sempre que há um jogo grande, o trânsito é infernal. A sorte é que os Niners não jogaram um jogo importante lá.
A temporada 2014 terminou com oito vitórias e oito derrotas, nada de playoffs, duas derrotas para os Seahawks, com a segunda tirando eles da disputa por uma vaga na pós-temporada. Kap sofreu 52 sacks, maior número da liga, o time teve 13,8 pontos de média entre as semanas 7 e 15, a pior marca da NFL no período.
Harbaugh saiu dos Niners e da NFL para assumir a Universidade de Michigan, o que é um soco na cara em todos os sentidos possíveis. Trent Baalke ganhou o braço de ferro.
Escuta, pelo menos existe Malcolm Butler e sua interceptação no Super Bowl, o segundo maior momento dos Niners no pós-final da NFC da temporada 2013. Curiosamente o melhor momento também envolve os Patriots.
Pera aí, até tinha esquecido. Com a 77ª escolha no Draft de 2014, o San Francisco 49ers escolheu Chris Borland. O linebacker de Wisconsin substituiu Bowman tão bem quanto possível, sendo destacado como dono de um imenso potencial.
Pois bem, ele abriu mão de sua carreira depois de seu primeiro ano, inclusive devolvendo o dinheiro do bônus, por preocupação com sua saúde mental e estado físico jogando o esporte. Sério, se isso não é uma maldição jogada em uma franquia, não sei o que é.
A temporada 2015 do San Francisco 49ers
Jim Tomsula, no dia 14 de janeiro de 2015, foi anunciado como treinador do San Francisco 49ers. Sim, até eu fiquei surpreso agora ao escrever e relembrar isso. Imagina o choque à época.
Tomsula era o treinador da linha defensiva. Não o coordenador defensivo; o treinador da linha defensiva.
Adivinha o que ele é hoje e nunca deveria ter deixado de ser? Resposta: treinador da linha defensiva (dos Redskins).
Antes do que rolou em campo, um peido dele em entrevista coletiva.
Logo rolou uma limpa no elenco, com Frank Gore indo para os Colts, Michael Crabtree para os Raiders, Mike Iupati para os Cardinals e a chegada do glorioso Blaine Gabbert (mais sobre adiante).
Além de Chris Borland, Patrick Willis também jogou a toalha e se aposentou, assim como Justin Smith. O bom right tackle Anthony Davis também decidiu parar, mas prometeu voltar em um ano. Ele cumpriu a promessa. E re-aposentou de novo em 2016 antes de os jogos começarem.
Aldon Smith, que tinha sido suspenso em 2014 por nove jogos, foi preso pela terceira vez dirigindo sob efeito de substâncias. E foi finalmente dispensado em agosto de 2015.
Tomsula começou vencendo o Minnesota Vikings, mas os Niners perderam as quatro seguintes, venceram os Ravens e depois perderam para os Seahawks e os Rams. No total, 2-6 e o barco afundando.
O ataque foi especialmente pavoroso na temporada, com 7 pontos contra os Cardinals (semana 3), 3 contra os Packers (semana 4), 3 contra os Seahawks (semana 7), 6 contra os Rams (semana 8). Aliás o time tomou 47 a 7 dos Cardinals. E perdeu as duas contra Seattle. E terminou a temporada 5-11.
E Tomsula (obviamente) foi demitido. Mas pega essa: o contrato dele era de quatro anos e US$ 14 milhões. Adivinha quantos centavos ele deixou na mesa, mesmo trabalhando apenas por 25% do contrato? Nenhum. Kaepernick devia ter aprendido com ele. Teria saído com os US$ 126 milhões garantidos.
Aliás, Kaepernick já teve o desprazer de ser banco de Gabbert nesta temporada, na semana 9. E, logo depois, ele foi descartado para o resto da temporada por uma lesão no ombro.
A temporada de 2016 do San Francisco 49ers
O que é um peido para quem já está cagado, não é mesmo? Não acho que Chip Kelly seja burro ou idiota, mas em 2016 ele com certeza não estava na crista da onda depois de ser escorraçado da Filadélfia. O San Francisco 49ers quis dar uma chance.
Aqui tinham se passado dois anos da final da NFC. Kaepernick estava em queda, Willis e Smith aposentaram, Gore, Davis, Iupati e Crabtree não estavam mais no time e Jim Harbaugh levou suas calças caqui para bem longe da Bay Area. Foi a destruição de um time bom mais rápida da história.
O time venceu o primeiro jogo contra os Rams por 28 a 0. Essa foi a única vitória no Levi's Stadium do time na temporada. A equipe terminou a temporada com 2-14. E ninguém deu a mínima para isso.
Tudo porque no terceiro jogo da pré-temporada, Colin Kaepernick não se levantou durante o hino nacional. Mais tarde ele começaria a se ajoelhar, em protesto contra a brutalidade policial e a opressão contra a população negra.
O que muitos não lembram é que ele chegou a conquistar a titularidade de volta na semana 6, contra o Buffalo Bills. Seu pior jogo foi contra os Bears, quando conquistou apenas quatro jardas em cinco passes, sofreu cinco sacks e foi para o banco no meio do jogo. Gabbert assumiu a parada. Ele terminou a temporada com números decentes, com 2.241 jardas, 16 TDs e 4 INTs.
Kelly foi demitido e Kaepernick cortado em uma das mil saídas que o San Francisco 49ers colocou no contrato. Aqui deixo para você afirmar se foi justo ou não.
Algo inegável é que ele não era o principal problema da franquia, mas com certeza não era a solução. Manter ele teria um custo alto, mas não absurdo. O estranho mesmo foi nenhum time ter contratado ele depois da temporada 2016.
As temporadas 2017 e 2018 do San Francisco 49ers
Eu vou passar bem rápido por aqui porque a graça começa a diminuir. Jed York, depois de anos fazendo mer**, contratou John Lynch para ser seu general manager e Kyle Shanahan para ser treinador, ambos com contratos de seis anos. A ideia era começar do zero com Shahanan em alta depois de ser o coordenador ofensivo do Atlanta Falcons e seu ataque incrível, com Matt Ryan de MVP.
O problema é que o time começou do zero com Brian Hoyer como quarterback titular. Ai não há guru ofensivo que aguente. O time só foi vencer na semana 10 contra o New York Giants. Mas, pelo menos, quando estava na semana 8, a franquia trocou uma escolha de segunda rodada para ter Jimmy Garoppolo, o quarterback salvador, o Joe Montana dos millenials.
Garoppolo estreou na semana 13 contra os Bears, vencendo fora de casa por 15 a 14. Depois, vitórias contra Texans, Titans, Jaguars e Rams. Foi o 6-10 mais comemorado da história e a empolgação estava a toda para 2018. Os torcedores estavam super animados e até pensando ter dado a volta no todo poderoso e mago Bill Belichick, pagando pouco em ‘Gatoppolo'. É o melhor momento desse período disparado: achar que se deu melhor em uma troca.
E, em 2018, o time foi às compras. Até o arqui-inimigo Richard Sherman vestiu o vermelho e dourado. O time draftou Mike McGlinchey para reforçar a linha com a nona escolha do Draft. Garoppolo ganhou contrato de cinco anos. Jerick McKinnon veio com um contrato muito maior do que deveria. Mas tudo bem, o time tinha dinheiro para gastar.
Nas previsões, os Niners eram o time para brigar pela NFC West com os dominantes Rams, já que os Seahawks estavam entrando em sua reconstrução e os Cardinals não tinham planos para nada.
McKinnon estourou o joelho no training camp. No terceiro jogo da temporada, em uma jogada idiota, Garoppolo também viu o joelhinho ir para o espaço e foi descartado da temporada inteira. O time perdeu seis seguidas, 12 na temporada, inclusive levando um 46 a 13 dos Seahawks, que ganharam dez partidas e foram para os playoffs, calando a boca de todos.
Reuben Foster, uma das principais escolhas da era John Lynch, foi dispensado depois de ser preso por violência doméstica. Aliás, suas escolhas no Draft estão longe de serem uma grande melhora para impulsionar a retomada da economia bras a volta dos Niners aos playoffs.
Então, em resumo, o San Francisco 49ers no dia 19 de janeiro de 2014 tinha um elenco hiper-talentoso, com um quarterback que todos entendiam ser o futuro da liga, três finais de conferência seguidas e um treinador entre os melhores da NFL.
Nesses cinco anos, a equipe passou por três treinadores, o QB talentoso tornou-se ativista social, autor de processo contra a NFL e basicamente um ex-jogador.
Os Niners tiveram que lidar com a aposentadoria precoce de vários jogadores, um linebacker calouro desistiu de jogar preocupado com sua saúde, muitas lesões de joelho, a inauguração de um estádio que os torcedores não gostam. O grande rival foi a dois Super Bowls e o San Francisco 49ers NÃO VOLTOU A JOGAR NOS PLAYOFFS DA NFL.
Se essa não foi a maior derrocada em apenas cinco anos que você já viu, eu não sei qual é.