Agora aposentado, Philip Rivers deixa um legado na NFL mesmo sem um Super Bowl

Bruno Bataglin | 20/01/2021 - 15:50

Depois de um tour de despedida com o Indianapolis Colts, Philip Rivers pendurou o capacete. Assim, 17 temporadas e nove filhos depois, o folclórico quarterback anunciou que está se aposentando da National Football League nesta quarta-feira (20).

A decisão foi revelada inicialmente por ele ao ‘San Diego Union-Tribune’, para quem ele também contou que tem planos de ser técnico de futebol americano de colegial para treinar seus filhos.

Rivers encerra seu “sonho de criança”, como ele mesmo caracterizou ter sido capaz de jogar na NFL, como um dos QBs mais prolíficos (dentro e fora de campo, com perdão do trocadilho) a não terem disputado ou vencido um Super Bowl.

Os números do signal caller de 39 anos de idade falam por si só. Foram 64,9% de passes completados (5.277 de 8.134) para 63.440 jardas, 421 touchdowns e 209 interceptações em 244 jogos de temporada regular divididos entre San Diego/Los Angeles Chargers (2004 a 2019) e Colts (2020).

Esse número de jardas o deixa em quinto na história da NFL, atrás de Drew Brees (a quem ele sucedeu nos Chargers), Tom Brady, Peyton Manning e Brett Favre, todos esses quatro com pelo menos um anel de Super Bowl no dedo. No caso de Brady, são muitos (rs).

Oito vezes selecionado ao Pro Bowl em sua trajetória na liga, Rivers também é o quinto na história da liga em passes para TD, atrás dos mesmos quatro supracitados.

Católico fervoroso, Rivers não escolheu a data de anúncio da aposentadoria aleatoriamente. Afinal, é o Dia de São Sebastião na Igreja Católica, sendo este santo considerado o padroeiro dos atletas.

Curiosamente, nesta mesma data, mas há 13 anos, ele jogava contra o New England Patriots, na final da Conferência Americana (AFC), mesmo com o ligamento cruzado anterior do joelho rompido. O time californiano perdeu por 21 a 12, na caminhada mais longa de Rivers nos playoffs.

Na minha opinião, o maior legado que Rivers deixa na NFL é o de um exemplo de quarterback carismático, que ficou longe dos holofotes aumentando suas estatísticas e, acima de tudo, de um QB bastante durável.

Desde que foi selecionado com a quarta escolha geral do Draft NFL 2004 pelo New York Giants e, em uma rara negociação do tipo, trocado com o San Diego Chargers durante o Draft, Rivers foi titular em todos os jogos de seu time de 2006 em diante. As duas primeiras temporadas nos Chargers foram exceção, com apenas dois jogos disputados em cada uma.

Rivers foi um guerreiro na NFL, extremamente resistente e que aguentava todo tipo de pancada sem reclamar. Suas 252 partidas como titular, incluindo playoffs, não me deixam mentir.

Infelizmente, tal sucesso de Rivers em termos de produtividade não se refletiu nos playoffs. Ele disputou apenas 12 jogos de pós-temporada, levando os Chargers seis vezes aos playoffs e os Colts em uma. Apesar disso, foram quatro quedas na rodada de divisão, uma na final da AFC que mencionei e a deste ano na rodada de wild card contra o Buffalo Bills, uma derrota por 27 a 24.

Se pegarmos apenas as estatísticas de playoffs, Rivers parece um QB bem pior do que ele realmente foi: cinco vitórias e sete derrotas, 59,3% de passes completados, 2.965 jardas, 16 TDs e 10 INTs.

Mas, se considerarmos tudo, foram 134 vitórias na NFL, segunda maior quantidade por um QB sem título e oitava maior marca em todos os tempos. Na história da NFL, somente Brady (230), Peyton Manning (186), Ben Roethlisberger (156), Brees (172) e os Hall of Famers Favre (186), John Elway (148) e Dan Marino (147) ganharam mais jogos em temporada regular.

Confesso que é até difícil explicar Philip Rivers. Para mim, ele é aquele QB que conseguia ser bestial e besta ao mesmo tempo. Tudo dependia do jogo. Mas era arrojado (e como!). Medo de lançar em cobertura dupla ou tripla? Jamais. Era um ‘gunslinger’ como Favre, mas com menos conquistas na carreira.

Seria legal ter visto Rivers jogar um Super Bowl pelo menos? Com certeza. Suas caras e bocas no maior jogo do esporte americano seriam impagáveis. Mas o destino não quis assim. Como diria o velho: azar do Super Bowl.

Dificilmente teremos outro Rivers na NFL. Com seu jeitão, sua mentalidade arrojada com a bola oval em mãos e, sobretudo, com seu estilo (várias vezes com bolo tie, que carisma!).

Agora, Rivers terá todo o tempo para curtir sua esposa Tiffany e seus filhos Halle, Caroline, Grace, Gunner, Sarah, Peter, Rebecca, Clare e Anna. Além disso, ele levará seu carisma para o high school football. Sempre sem falar palavrões, vamos lembrar…

Escrito por Bruno Bataglin
Formado em jornalismo em 2013 pela Cásper Líbero, é um dos fundadores do Quinto Quarto e é editor de NFL. Apaixonado por esportes e por música, não necessariamente nesta ordem. Produtor de conteúdo e pensador nas horas vagas.