Novo CBA é aprovado: o que isso realmente significa?

Bruno Bataglin | 15/03/2020 - 19:31

Houve quase um ano de negociações, muita polêmica e opiniões completamente divididas. Mas, após votação apertada, um novo acordo coletivo de trabalho (CBA) foi aprovado pelos jogadores da National Football League.

O acordo firmado entre a NFL e a NFL Players Association (NFLPA), união dos atletas, vai ditar as relações de trabalho entre a liga e seus jogadores pelos próximos 11 anos, até a temporada 2030.

Mas, em meio a tanto furor, o que realmente significa esse novo acordo coletivo de trabalho? Foi para responder essa questão que o Quinto Quarto preparou este artigo. Vamos tentar resumir um pouco do que esse novo CBA vai impactar na NFL na próxima década. E o que realmente vai mudar de maneira mais drástica.

Primeiramente, quero trazer um pouco de opinião neste texto. Eu, Bruno Bataglin, por tudo o que leio e acompanho da NFL diariamente, não fiquei muito satisfeito com alguns pontos deste novo CBA.

E acho que muitos jogadores também não, já que a votação foi apertada: 1.019 votos favoráveis ante 959 votos contrários.

Particularmente, não me agradou a questão da opção de expandir a temporada regular para 17 jogos por time entre 2021 e 2023. Também, não gostei do modelo de sete times classificados por conferência em vez dos seis classificados com os quais já estávamos acostumados há tempos.

E vou explicar minha visão contrária a esses dois pontos.

No primeiro caso, a questão é simples. A temporada com 16 jogos por franquia é matematicamente perfeita. Eu até sou fã de números ímpares, mas neste caso é algo prejudicial.

Um jogo a mais representa um aumento de risco à saúde dos atletas de maneira considerável. É muito maior do que muitos podem imaginar. Ainda mais em um esporte tão intenso como é o caso do futebol americano, com contato extremo. E acredito que haja um risco de a qualidade dos jogos cair de maneira vertiginosa na futura 17ª e última semana da temporada regular.

Pensem bem: você gostaria de ver o seu Aaron Rodgers, o seu Patrick Mahomes ou o seu J.J. Watt exposto a um jogo a mais? Talvez se lesionando e perdendo um jogo de playoffs. Nada legal, né?

Agora, em relação ao segundo ponto, como aumentar de seis para sete times classificados por conferência, de 12 para 14 no geral, e garantir que o último classificado da AFC e da NFC sejam realmente times merecedores?

Nesta última temporada 2019, por exemplo, o Pittsburgh Steelers teria sido o sétimo classificado da AFC com campanha 8-8. E o Los Angeles Rams seria o último dos classificados da NFC, com 9-7.

Mesmo se você for torcedor de algum desses times, responda com sinceridade: algum desses times merecia REALMENTE avançar à pós-temporada.

Eu julgo que não. Os Steelers sofreram com QBs, até se superaram, mas não jogaram um futebol americano redondo. Mesma coisa dos Rams, que passaram vergonha em grande parte da temporada.

Enfim, é algo a se refletir. Até que ponto vale a pena classificar 14 dos 32 times aos playoffs em vez de 12 dos 32, o que exige uma nota de corte maior e mais exigente, privilegiando a qualidade em vez da quantidade?

Ao mesmo tempo, sei que tal acordo coletivo de trabalho aprovado significa paz trabalhista nos próximos 11 anos e, igualmente, vai ser benéfico para os jogadores que ganham menos dinheiro e para os ex-jogadores. Digamos que o verdadeiro proletariado da NFL. E isto, sim, é algo positivo.

Resta saber se tais benefícios vão compensar os malefícios, os quais julgo consideráveis.

Também vale muito a pena ler o texto que a incrível Judy Battista, da ‘NFL Network’, escreveu discutindo alguns dos reais impactos do novo CBA. Esse texto também foi uma inspiração na hora de eu escrever este meu próprio texto.

Agora, depois de tais explanações, vamos a um resumo dos principais pontos que mudam com o novo CBA:

(Provável) aumento da temporada regular para 17 jogos

Os proprietários dos times terão uma janela que vai de 2021 a 2023 para expandir a temporada regular de 16 para 17 jogos. Isso ainda não é certo, mas é extremamente provável que seja aprovado, já que os donos das franquias querem mesmo é dinheiro.

Até o momento, os times e os jogadores não debateram de maneira considerável como uma eventual temporada de 17 jogos seria configurada. Se algumas equipes receberiam algum jogo extra em casa e se haveria mais uma semana de folga.

Enfim, ainda há muita coisa a ser discutida. Mas vai acontecer.

Ao menos veremos a pré-temporada ser reduzida de quatro para três jogos, o que é positivo.

Expansão dos playoffs

Cada conferência agora terá sete times classificados em vez de seis. Ou seja, um total de 14 times classificados à pós-temporada em vez dos antigos 12.

Assim, serão três times classificados como wild card por conferência e um total de seis jogos de playoffs no primeiro final de semana de mata-mata.

Apenas o melhor dos times classificados em cada conferência receberá a tão sonhada folga na primeira rodada dos playoffs. Ou seja, a campanha número 2 agora também obriga a equipe a atuar na rodada de wild card.

Outra mudança significativa neste sentido: anteriormente, os jogadores dos times que folgavam na primeira rodada dos playoffs não recebiam pagamento por aquela semana. Isto vai mudar e, a partir de 2021, os jogadores dos times de campeões de divisão vão receber US$ 42.500 por esse final de semana a mais, enquanto que os jogadores das equipes classificados como wild card vão faturar US$ 37.500.

Jogadores que disputarem a rodada de divisão vão receber US$ 42.500 e atletas que jogarem as finais de conferência embolsarão US$ 65 mil. Já os jogadores do time que perdeu o Super Bowl levam US$ 75 mil e os atletas da equipe campeã levam US$ 150 mil. Esses valores devem subir nos anos seguintes.

Aumento do salary cap

Após a aprovação do novo CBA, o Conselho de Administração da NFL informou aos times que o salary cap será de US$ 198,2 milhões por time para a temporada 2020. A informação foi confirmada por Tom Pelissero, da ‘NFL Network’.

Salários e benefícios

Como parte do novo acordo coletivo de trabalho, a participação dos jogadores na receita da liga vai aumentar de 47% para 48% a partir de 2021 e o salary cap “aumentará de acordo”, segundo Tom Pelissero, da ‘NFL Network’.

Os jogadores que menos ganham (cerca de 60% dos jogadores da NFL atuam sob contratos de salário mínimo para a liga) terão o maior aumento de faturamento. Ao menos no início.

De maneira imediata, os salários mínimos vão crescer cerca de 20%.

Um jogador com menos de um ano de experiência na NFL faturaria US$ 510 mil neste ano sob o acordo anterior. Com o novo CBA, esse número sobe para US$ 610 mil neste exemplo.

E o salário mínimo para jogadores com menos de um ano de experiência cresce de maneira considerável ao longo do acordo, podendo chegar a mais de US$ 1 milhão em 2030.

Para jogadores com maior experiência, os números devem subir de maneira considerável também.

Outros pontos

  • Os elencos para a temporada vão subir de 53 para 55 jogadores, com o elenco de treinamento (practice squad) indo para 12 jogadores em 2020 e 2021, e para 14 jogadores a partir de 2022;
  • Os elencos ativos para o dia de jogo vão subir de 46 para 48 jogadores e um dos dois jogadores extras precisam ser de linha ofensiva;
  • Assim que o esquema de 17 jogos por temporada regular começarem, haverá um limite em 16 treinos com full pads (equipamento completo) durante o training camp e não poderá haver mais do que três em sequência. Isso altera bastante o limite atual de 28 treinos desse tipo;
  • Terá que haver uma semana de folga (bye week) depois do terceiro e último jogo de pré-temporada antes do final de temporada regular;
  • Houve mudanças significativas na política antidoping, com redução nas penalidades de jogadores pegos por uso de maconha, uma janela de testes menor (de quadro meses antes para duas semanas antes do início do training camp) e um aumento significativo no limiar para um teste positivo (de 35 nanogramas para 150).

Há muitas outras mudanças que não vamos falar aqui para não deixar o texto enorme.

Para conferir o documento completo do novo acordo coletivo de trabalho (CBA), com mais de 456 páginas, clique aqui para abrir o PDF original (em inglês).

Escrito por Bruno Bataglin
Formado em jornalismo em 2013 pela Cásper Líbero, é um dos fundadores do Quinto Quarto e é editor de NFL. Apaixonado por esportes e por música, não necessariamente nesta ordem. Produtor de conteúdo e pensador nas horas vagas.