Giovani Carmazzi.Tee Martin. Spergon Wynn. Chris Redman, Marc Bulger, Chad Pennington. Não conhece nenhum deles? Nem ao menos um? Bem, saiba que não há problema nisso, pouco se lembram deles. Porém, todos eles tem algo em comum.
Todos foram quarterbacks.
Sim, todos foram draftados. E coincidentemente escolhidos no draft de 2000.
Draft de 2000? Isso não te lembra algo? Nem para você, torcedor do New England Patriots? Sim! Foi o draft em que Tom Brady foi escolhido, ele, que é a cara da franquia, maior ídolo do time, e um dos principais responsáveis pela sua dinastia na última década.
Muitos devem pensar que o quarterback de New England foi escolhido na primeira rodada, quiçá na primeira escolha, afinal, ele foi campeão do Super Bowl logo em sua segunda temporada, que teve uma carreira universitária brilhante, e que sempre existiu a certeza de seu talento entre os olheiros da liga.
Bem, nos 4 anos que Brady esteve na faculdade de Michigan, só foi titular em dois anos. No primeiro como titular, ganhou 10 de 11 jogos. O normal era que Brady fosse o titular absoluto no ano seguinte, mas outro quarterback estava em ascensão na faculdade, e Brady teve que novamente ganhar a titularidade, que culminou na vitória do Orange por Michigan em grande atuação do futuro MVP do Super Bowl em seu último jogo no colege.
Era chegado o draft, e como tradicionalmente acontece, jogadores participam de atividades para mostrar seus atributos físicos a olheiros e técnicos da liga, e a impressão que Brady causou foi a pior possível. Resultado? Sabe aqueles nomes citados no começo do texto? Sim, aqueles que ninguém sabem quem são. Todos eles são quarterbacks que foram selecionados antes de Tom Brady. Todos eles foram considerados melhores jogadores, com melhores atributos físicos, melhores para ler defesas, melhor mecânica de lançamento, do que Brady. Ao todo foram selecionados 6 quarterbacks antes da fatídica escolha de número 199, no sexto round do draft, que pertencia ao New England Patriots, que arriscou no magro quarterback de Michigan, que não era unanimidade nem em sua faculdade, e teve que batalhar por sua posição no time.
Robert Kraft, dono do time, disse que na primeira vez que encontrou Brady pessoalmente, o quarterback disse. “Essa foi a melhor escolha que essa organização já fez”. E de fato foi
Brady iniciou o training camp em 2000 como QB número quatro. Nenhum time mantém quatro QB’s em seu elenco principal, mas Belichick enxergou algo no menino, e o manteve no time, mesmo sem jogar. Ficou um ano aprendendo, e no começo da temporada seguinte disse a um amigo próximo: “Vou ganhar de Drew Bledsoe (então QB titular dos Patriots) na pré-temporada e serei o titular”, detalhe: Bledsoe era um pro-bowler e já tinha levado o time a um Super Bowl. Brady era extremamente confiante, estudou jogadas e defesas durante todo o verão que procedeu sua segunda temporada na liga, e de fato teve uma pré-temporada melhor que Bledsoe, algo que Belichick já admitiu abertamente, porém a falta de experiência impediu a titularidade de Brady. Mas foi no meio da temporada que o jogo virou. Bledsoe sofre grave lesão no joelho, e Brady, que tinha ganhado a vaga como QB número dois, entrou como titular do time. E nunca mais saiu, seja por sua dedicação ao esporte, seja pelo seu psicológico que nunca admitiu ficar em segundo lugar.
Fica a pergunta, o que aconteceu com os outros 6 quarterbacks escolhidos antes de Tom Brady. Em um breve resumo: um teve boas temporadas, mas lesões atrapalharam sua carreira, que nunca chegou a decolar. Quatro nunca foram titulares de um time de NFL, e um não conseguiu nem entrar no elenco do time que o selecionou.
Por que então que eles foram considerados melhores que Brady e selecionados antes? A explicação dada é que eles tiveram resultados melhores tanto em jogos pela universidade quanto no teste para olheiros. Mas a explicação real é de que não existe explicação. Selecionar jogadores no draft é 70% sorte e 30% análise. E isso é o que torna o momento de seleção de jogadores universitários tão apaixonante. O salto do universitário para a NFL é gigantesco tanto fisicamente quanto, e principalmente, mentalmente. Jogar na NFL, em especial como quarteback, demanda uma maturidade emocional enorme para lidar com pressão de grandes jogos, apanhar e levantar sem perder a cabeça. A NFL envolve muito mais do que só o esporte em si. Há muito mais em jogo.
O grande quarterback, ágil, atlético, com bom braço e ótimo em ler defesas, pode se apequenar ao levar o primeiro sack, e todas suas vantagens físicas e mentais se vão sem um bom psicológico. Se você não tem uma boa cabeça para enxergar seus erros e corrigi-los na semana seguinte, sua carreira na liga está fadada ao fracasso.
Avaliações pré-draft são importante sim, mas elas se esquecem que um jogador é mais que seu corpo e sua habilidade em campo, ele é além de tudo isso um enxadrista, que erra, avalia seu erro, e o deixa de cometer no campo do xadrez humano.
Por curiosidade, aqui vão os comentários sobre Tom Brady no draft de 2000 feito por olheiros da liga:
– Fraco
– Muito magro e fino
– Consegue ser derrubado mais facilmente do que se imagina
– Dificuldade em se locomover e de fugir do pass rush
– Braço fraco
– Não consegue lançar a bola fundo no campo
– Lançamento ruim
– Jogador de sistema que pode ficar exposto caso tenha que fazer as coisas por conta própria