Uma das grandes diferenças do futebol americano para o rúgbi e o futebol, seus “parentes”, é o capacete. O capacete de futebol americano é feito de um componente plástico resistente que impede pancadas ainda maiores na região da cabeça. Mas como você verá neste texto, nem sempre o capacete de futebol americano era algo duro, resistente, que quando bate em outro faz um barulho seco que dá para ouvir sentado na frente da televisão.
A história do capacete de futebol americano
O capacete só se tornou um equipamento obrigatório no futebol americano universitário em 1939 e na National Football League em 1943. Apesar disso, pelos relatos, o último jogador a ter atuado sem a proteção na cabeça foi Dick Plasman, running back do Chicago Bears, em 1940. Há um registro dele atuando sem o capacete no NFL Championship Game de 1940, quando a franquia de Illinois superou o Washington Redskins pelo placar de 73 a 0. Antes da criação do capacete de futebol americano, diversos jogadores deixavam os seus cabelos crescerem porque eles acreditavam que isso fornecia alguma proteção.
Apesar da incerteza de quem foi o inventor, muitos acreditam que George Barcley foi quem projetou o capacete em 1896. Outros acham que quem criou a proteção para a cabeça foi Joseph M. Reeves, da Academia Naval dos Estados Unidos.
Inicialmente, nos anos 20, o capacete de futebol americano era feito apenas de tiras de couro macio. Na década seguinte, a proteção passou a ter uma pequena evolução e passou a ser feita por couro duro, sendo que, em 1939, a John T. Riddell Company – uma das marcas mais fortes no mercado de capacetes da atualidade – desenvolveu e patenteou o primeiro capacete de futebol americano de plástico.
Os anos de 1940 ainda foram dominados pelo couro. Logo no começo da década foi inventado a primeira alça de pescoço e em 1943 a National Football League obrigou todos os seus atletas a utilizarem a proteção na cabeça. Seis anos depois, a liga passou a adotar oficialmente o capacete de plástico.
Em 1955, surgiu uma das grandes mudanças no capacete: a barra única na cara. Um ano depois, a tecnologia definitivamente entrou na liga e o Cleveland Browns inovou ao introduzir o primeiro capacete de futebol americano com rádio para comunicação, algo que é utilizado por um jogador na defesa e um jogador no ataque (geralmente o quarterback) nos dias atuais.
A década de 60 trouxe a evolução da barra na cara e os capacetes passaram a contar com uma máscara (facemask) com duas barras. A partir de 1962, todos os jogadores já utilizavam esse tipo de proteção. Nos anos 70, a Riddell revolucionou o mercado introduzindo bexigas de ar nos capacetes para suavizar o impacto nas pancadas. Já em 1975, a máscara que protege toda a cara apareceu na National Football League.
Os anos 80 também foram marcados pela mudança tecnológica dos capacetes, já que, a partir de 1986, começaram a aparecer as primeiras versões feitas por policarbonato. Além disso, os primeiros visores surgiram. Na década seguinte, a NFL passou a exigir que as facemasks fossem transparentes.
Quando o futebol americano entrou no terceiro milênio, os capacetes passaram a ser desenvolvidos para tentar reduzir a concussão e, em 2004, a barra única no capacete foi banida pela liga. Desde 2011, o laço que se prende no capacete passou a ser projetado para se soltar como forma de identificar lesões na cabeça.
O desafio que o capacete terá que encarar
Uma das principais preocupações da National Football League em termos de segurança dos atletas vem sendo a concussão e, consequentemente, a encefalopatia traumática crônica (CTE, sigla em inglês), doença degenerativa no cérebro causada por colisões repetidas. Enquanto a liga investe cada vez mais em pesquisas sobre a doença e vem buscando aprimorar os seus protocolos, o problema das concussões vem tomando os Estados Unidos principalmente pelo temor da possibilidade de o esporte perder espaço, já que ele pode causar problemas graves de saúde a longo prazo e não é o mais indicado para crianças e jovens. Junto com o temor da redução do número de praticantes vem o medo de o nível técnico cair, uma vez que as pessoas só passariam a praticar o futebol americano com uma idade mais avançada.
Mesmo com todos os avanços no capacete de futebol americano, ele não fornece o necessário para impedir concussões. Apesar desse cenário atual, as coisas podem mudar com a invenção de Sam Browd, Dave Marver e Per Reinhall, que, junto com a Universidade de Washington, inventaram um capacete chamado Zero1. A grande promessa desse capacete de futebol americano, que foi desenvolvido em dois anos e com o custo de projeto de US$ 10 milhões, é que ele abordará efetivamente o dilema das concussões, que vem afastando alguns dos grandes jogadores do esporte e assusta milhares de ex-praticantes e pais de crianças.
Segundo Dave Marver, o grande problema das proteções para cabeça existentes é que eles “nunca foram destinados para lidar com a concussão”. De acordo com Browd, a principal função do capacete de futebol americano é evitar fraturas no crânio e prevenir subsequentes hemorragias subdurais e epidurais. Além disso, uma das adversidades encontradas é o fato de existirem diversos equívocos que as pessoas têm quando se trata de concussão, que tem a ver com o cérebro colidindo com o crânio e se lesionando, e não com a perda de consciência.
O Zero1 foi projetado para não apenas lidar com as forças lineares, mas também aceleração angular e rotacional. Baseada na física, esse novo modelo de capacete de futebol americano atua na força da aceleração, uma vez que não é possível alterar a massa dos jogadores e a força ser um resultado da massa e da aceleração. Diferentemente dos capacetes originais, o Zero1 apresenta um casco interior macio que se deforma com o impacto e uma estrutura interna que absorve o impacto e dispersa a sua força de forma omnidirecional. Assim como explicado no próprio site da inovação, ele funciona muito mais como um para-choque de carro do que um capacete de futebol americano tradicional.
Uma das grandes barreiras a serem enfrentadas pelos criadores do Zero1 é o mercado, que está consolidado em grandes marcas e o preço, já que ele está cotado em US$ 1.500, enquanto os capacetes tradicionais variam de US$ 150 a US$ 400. “É um design superior e isso reflete em seu preço. Você não pode olhar para o preço de hoje como algo racional. Não é o preço baseado no valor. Os pads de ombros custam mais do que capacetes hoje. Nós não procuramos fazer o capacete menos caro. Buscamos desenvolver o melhor capacete possível, o capacete mais seguro possível”, explicou Marver.
Para os interessados, o plano de negócio do Zero1 está voltado para oferecer o produto para equipes e profissionais – médicos, preparadores físicos, treinadores e atletas – no college football (futebol americano universitário) e da NFL para que se possa fazer melhorias no design a partir de feedbacks de jogadores e do esporte em alto nível. A partir daí a ideia é buscar ganhar mercados como o do high school (ensino médio) e futebol americano juvenil.