Chegamos, finalmente, à quarta edição do Top Quinto. Caso você queira saber as cinco cidades americanas mais amaldiçoadas esportivamente, as cinco polêmicas envolvendo a NBA resolvidas por mim, ou os cinco jogadores amaldiçoados pela existência de Michael Jordan, clique aqui e/ou aqui e/ou aqui. Hoje as cinco trocas/negócios que amaldiçoaram uma das franquias envolvidas e foram absurdamente benéficas para o outro lado.
Sim, eu gosto das maldições.
5º Kobe Bryant – Charlotte Hornets
Kobe era um garoto nascido na Itália, saindo do ensino médio e querendo entrar na NBA. E abusado: mesmo selecionado em 13º pelo Charlotte Hornets, ele não queria jogar ali e deixou claro isso. Mas os Hornets tinham selecionado o futuro camisa 8/24 já com uma troca com os Lakers engatilhada. E é incrível como os Lakers sempre se dão bem em trocas.
Pois bem, Kobe foi para Los Angeles e o pivô Vlade Divac foi para Charlotte. Ao contrário de muitos pregos que veremos neste Top Quinto envolvidos nas trocas, Vlade era um bom jogador, mas ele foi trocado PAU A PAU com um dos maiores Laker da história, cinco vezes campeão, uma vez MVP e a maior e melhor cópia de Michael Jordan de todos os tempos. Além disso, o sérvio dois anos depois estava no Sacramento Kings e os Hornets, na depressão de ter aberto mão de um dos maiores alas-armadores da história, procurariam tirar a depressão em outra cidade. Em 2002 os Hornets eram de Nova Orleans. Alguns anos depois os Bobcats seriam criados e depois teriam o nome Hornets de volta.
Ou seja, esta foi uma troca que fez Charlotte ficar sem time por anos, basicamente, e Los Angeles ganhar um ídolo.
4º Robert Parish e Kevin McHale – Golden State Warriors
Larry Bird era um um gênio. Mas sem Parish e McHale ele poderia não ter vencido tanto ou sequer um título. Mas graças ao Golden State Warriors não temos que pensar nesse cenário. Os Warriors tinham draftado Parish quatro anos antes, mas ele não decolou na Califórnia. Portanto, antes do Draft de 1980, a equipe decidiu dar uma ligada para Boston e disso saiu a negociata: os Celtics mandariam a primeira escolha daquele ano, o pivô Joe Barry Carroll, para a Califórnia, mais a 13ª escolha, Rickey Brown.
Já os Warriors despachariam Parish e mais a terceira escolha do draft, um magrelo branco de 2,08 chamado Kevin McHale.
É ridículo o quão desproporcional foi essa troca. Carrolll teve bons números na carreira, disputando mais de 700 partidas NBA e médias de 17 pontos e 7,7 rebotes por jogo, mas problemas com seu empenho (chamado carinhosamente de Joe Barely Cares, mais ou menos traduzido como “Joe Nem Liga”) e a ruindade dos Warriors fizeram a carreira dele nunca decolar. Brown jogou apenas por cinco anos na liga e sempre foi um coadjuvante.
Já McHale e Parish venceram três títulos em Boston, os dois têm seus números aposentados pela franquia e estão no Hall da Fama. McHale era um monstro ofensivamente, praticamente imparável, como comprovam suas cinco temporadas seguidas com mais de 20 pontos de média. Parish ofensivamente também era sensacional e pegava rebotes em profusão: 10 temporadas com mais de 10 rebotes em média. Parish jogou até os 43 anos e é o recordista de partidas da NBA.
Ou seja, Stephen Curry tem muito a fazer para apagar essa dor dos torcedores dos Warriors.

3º Andrew Bynum – Philadelphia 76ers
Uma troca recente que simplesmente foi trágica e ocasionou esse Philadelphia 76ers que vemos hoje: uma equipe de D-League, criada para perder, jogando na NBA. Pois bem, nem sempre foi assim.
Nos playoffs em 2012, os Sixers tinham entrado como oitavo no Leste e tinham que enfrentar os vencedores do Leste na temporada regular, o Chicago Bulls. Só que estes perderam Derrick Rose logo na primeira partida, na primeira contusão ligamentar de joelho dele. E em seis jogos a série terminou com os Sixers classificados. Eles acabaram caindo nas semis, mas levaram o Boston Celtics de Pierce, Rondo, Garnett e Allen a sete jogos.
Para a temporada seguinte, eles viram no desejo dos Lakers por Dwight Howard um jeito de conseguir Andrew Bynum, na época o segundo melhor pivô da liga, atrás só de Howard, e o melhor da posição considerando repertório ofensivo. O mais engraçado dessa troca é que NINGUÉM falou que seria uma troca ruim. Mas ela não só não foi ruim para os 76ers, como destruiu a equipe e ocasionou estas temporadas perdidas que vemos agora.
Vamos então aos jogadores envolvidos. Vou dar uma resumida porque meia liga foi envolvida na brincadeira.
Os Sixers ganharam Bynum. Não dá para dizer que ele não foi nem sombra do jogador dos Lakers simplesmente PORQUE ELE NÃO ENTROU EM QUADRA. Bynum sempre teve os joelhos zoados, e quando chegou nos Sixers pediu para fazer o tratamento milagroso alemão, que trabalha e reforça as cartilagens. Só que o menino foi relapso na recuperação e machucou o joelho novamente JOGANDO BOLICHE. Calma, que isso não é o pior: Bynum chegou com o contrato dos Lakers, que previa 16,5 milhões de salário para aquela temporada, QUE ERA A ÚLTIMA DELE COM CONTRATO.
Ou seja, os 76ers pagaram 16,5 milhões para o bolicheiro não entrar em quadra pela equipe. E perder ele depois de um ano. Além de também perder:
- Andre Iguodala (foi para os Nuggets): veterano de oito temporadas nos Sixers, Iguodala teve altos e baixos na Philadelphia, sendo injustiçado porque pensavam que ele seria o franchise player no pós-Iverson, algo que nunca rolou de verdade. Isso quer dizer que ele era ruim? Deixa eu ver… Naquele verão ele foi para a seleção americana ganhar o ouro em Londres e no mês de junho de 2015 ele foi o MVP das finais da NBA. Enquanto isso os Sixers terminavam a temporada 18-64 e Andrew Bynum está desmaiado em um motel de algum lugar dos Estados Unidos.
- Nikola Vucevic (foi para o Magic): os Sixers pensavam não estar perdendo muita coisa com Vucevic. Só que o suiço-montenegrino virou uma máquina de duplos-duplos em Orlando – 19,3 pontos e 10,9 rebotes de média em 2014/15 – jogando aproximadamente 3765x mais que Bynum desde a troca, seja em quantidade e qualidade.
- Moe Harkless (foi para o Magic): tudo bem, não deu em muita coisa, reserva dos Blazers hoje.
E ainda cederam uma escolha de primeira rodada que ainda não se materializou, e nem deve, se transformando em duas escolhas de segunda rodada. AH, os Sixers também ganharam o armador Jason Richardson, na época veterano de 11 anos de NBA e que obviamente não fez muita coisa na Philadelphia.
Agora você deve entender porque os 76ers estão 0-16 mesmo três anos depois da troca. Se os Sixers estão te ligando para uma troca, ACEITA A LIGAÇÃO NA HORA.
2º Charles Barkley – Philadelphia 76ers
Não é fácil explicar porque uma equipe abriu mão do segundo melhor jogador de basquete do planeta quase de graça, mas vamos lá. Um breve contexto: no final dos 70 e nos anos 80, Philadelphia fez tudo certo. Trouxe Julius Erving, ídolo da ABA, conseguiu Moses Malone em uma bela troca com os Rockets, chegou a várias finais da NBA, venceu uma e para coroar tudo, mesmo com um timaço, a equipe ainda tinha a quinta escolha, que era dos Clippers, no draft de 1984. Resultado: Charles Barkley.
E Barkley, gordinho em algumas épocas, polêmico em todas as épocas, inflamou Philadelphia em todos os sentidos possíveis, se tornando um dos melhores jogadores da liga. Pois bem, ele foi para Barcelona jogar no Dream Team como o segundo melhor jogador de basquete vivo. E de saco cheio dos Sixers.
Os Sixers tiveram que checar o mercado e ver o que conseguiam por sua estrela insatisfeita e não pegaram mais que uns 7Belo, uma meia furada e uma ação da Petrobras. Veja comigo no replay:
- Jeff Hornacek: o melhor envolvido não chamado Barkley na história. O ala-armador tinha 20,1 pontos e 5,1 assistências de média na temporada 91/92 pelos Suns. Ele não foi mal nos Sixers, mas ficou apenas por uma temporada e meia, indo depois para o Utah Jazz jogar com Stockton e Malone e retomar sua carreira.
- Tim Perry: era a mesma posição de Sir Charles. Mas não dava nem para comparar. Depois de ter média de 4 pontos e 2 rebotes por jogo nas três primeiras temporadas, Perry aumentou para 12 e 6, o que fez os Sixers pensarem que seria uma boa ter ele nesse negócio. Resultado: ele jogou três temporadas na Philadlephia, sendo que na melhor delas teve média de 9 pontos e 5 rebotes por jogo e encerrou a carreira em 1996.
- Andrew Lang: conhecido com um distribuidor de tocos, Lang ficou uma mísera temporada nos Sixers, com números mais do que apagados (5,3 pontos, 6 rebotes e 1,9 toco por jogo) e foi para os Hawks.
Ou seja, o Philadelphia 76ers trocou o segundo melhor jogador do planeta, que ganharia o troféu de MVP e levaria sua equipe às finais já na temporada seguinte à troca, por um ano e meio de um bom armador, três temporadas de um ala-pivô medíocre e uma temporada de um pivô medianíssimo.
Sixers nas temporadas seguintes à troca: 26-56, 25-57, 24-58.
Encerro meu caso.
1º Magic Johnson – New Orleans Jazz
Muita gente sabe da história de Magic Johnson. Eterno Laker, cinco vezes campeão, maior armador da história, sua luta contra o vírus HIV. Mas uma pergunta surge lendo sua biografia: COMO RAIOS ESSE CARA, PROJETADO E ESCOLHIDO NA PRIMEIRA POSIÇÃO DO DRAFT, FOI DRAFTADO EM 1979 PELO LOS ANGELES LAKERS, TIME DE KAREEM ABDUL-JABBAR?
Desculpa, mas não pude evitar o Caps Lock.
Tudo fica mais estranho quando sabemos que os Lakers obviamente não eram um dos piores times da liga para ganhar a 1ª posição do Draft. Tanto que na temporada anterior só foram cair para o campeão Seattle Supersonics na semifinal do Oeste.
Pois bem, temos que voltar a 1976. Nesse ano o excelente armador Gail Goodrich quis sair dos Lakers e o New Orleans Jazz, na época quando o nome da franquia fazia sentido com a cidade que estava, conseguiu o jogador em uma troca. Para isso muitas escolhas de draft foram envolvidas. O Jazz mandou as primeiras escolhas de 1977, 78 e 79 mais uma de segunda rodada em 1980. E os Lakers, em troca, colocaram uma de primeira rodada em 78 e uma de segunda em 77.
Só que Goodrich já estava na descendente na carreira e logo na primeira temporada só conseguiu atuar em 27 partidas pelo Jazz. Ele ainda se recuperaria, mas longe de ser o que prometia e o preço pago. Enquanto isso, os Lakers tinham três escolhas de primeira rodada saborosas e suculentas, mas nos dois primeiros anos não tiraram muita coisa disso. Mas a terceira chance veio quando o Jazz em 1978/79 teve uma temporada horrorosa. E para piorar a situação, eles não tinham como se beneficiar disso. E para piorar mais ainda a situação, Magic Johnson já era uma estrela saindo da universidade.
Deu no que deu. Não a toa o Jazz atravessou e foi para Salt Lake City.