Stephen Curry ainda pode ser campeão com os Warriors?

Antônio Henrique Pires Collar | 13/12/2023 - 19:50

Esqueça a expulsão de Draymond Green contra o Phoenix Suns, sua terceira nesta temporada. Os problemas do Golden State Warriors vão muito além das confusões arranjadas pelo melhor defensor da NBA em 2016-17. Na verdade, esta é uma das poucas coisas que restaram da era vencedora do trio formado por ele, Klay Thompson e Stephen Curry. Os Warriors têm a mesma base e o mesmo técnico, mas ainda assim não conseguem ser sombra do que foram em seus melhores momentos.

A derrota na noite de terça-feira, diante de um Suns sem Kevin Durant, escancarou novamente problemas que a esta altura da temporada já deixaram de ser novidade. A equipe de San Francisco envelheceu. Klay Thompson e Andrew Wiggins fazem suas piores temporadas desde que chegaram à liga. Draymond não é nem de perto o defensor de elite que ajudou a consagrar todo um sistema de jogo.

Klay tem média de 34.3% nos arremessos de 3 pontos, carro-chefe do seu arsenal ofensivo (na carreira, arremessa 41.6%). Andrew Wiggins registra seus piores números em pontos, assistências, roubos e bloqueios. Draymond faz seu pior ano em roubos e não pegava tão poucos rebotes desde 2014, quando o titular da posição ainda era David Lee.

Se pode ser tirado algo de positivo do 13º revés em 23 jogos, talvez seja o sinal dado por Steve Kerr: ele precisa mudar. Kerr optou por terminar o jogo Jonathan Kuminga, Brandin Podziemski, Dario Saric e Chris Paul em quadra ao lado de Stephen Curry. Deixou no banco Klay, Wiggins e Kevon Looney. Não foi o suficiente para conseguir a vitória, mas deu ao time outra cara nos minutos finais. Os reservas, aliás, têm sido chamados quase sempre em situações de desespero. Com os titulares em quadra, os Warriors têm um saldo negativo de -8.3 pontos a cada 100 posses nesta temporada.

O problema de Kerr é que as trocas possíveis não são suficientes para colocar a equipe na prateleira dos candidatos ao título. As peças disponíveis têm características físicas e de jogo que podem melhorar o cenário atual dos Warriors, mas o talento ainda está longe do necessário para brigar com forças como Denver Nuggets, Los Angeles Lakers e o próprio Suns.

Como os Warriors e Stephen Curry chegaram nesta situação

Analisar o presente e projetar o futuro de Golden State também nos exige olhar para o passado. Os erros que fazem com que um time histórico viva abaixo da linha da mediocridade não foram cometidos somente nesta temporada. O planejamento falhou lá atrás, ainda com Bob Myers, e a bomba hoje estoura no colo de Mike Dunleavy Jr.

A estratégia adotada pela diretoria nos últimos anos foi o que tenho chamado de “Anti-Last Dance”. Se você assistiu ao documentário do Chicago Bulls, viu todas as polêmicas que tomaram conta da última temporada da franquia no último ano de Michael Jordan por lá. Jerry Krause, então Gerente Geral da equipe, decidiu que depois de 1998 seria hora da mudança, independentemente do resultado. O sexto título veio, e ele se manteve fiel ao plano de rejuvenescer o vestiário. Pois os Warriors optaram por ir pelo outro lado, renovando com todos os pilares da geração vencedora. Contratos longos, caros e que hoje viraram um peso nas costas, principalmente, de Stephen Curry.

Segundo jogador mais velho do elenco, atrás apenas de Chris Paul, chegado este ano, Curry sofre pela própria longevidade. Aos 35 anos, segue atuando em alto nível. Tem médias de 29.1 pontos e eFG de 60%, números próximos aos do seu auge. A aposta da franquia foi em tentar com que o trio campeão pela primeira vez em 2015 se aposentasse jogando junto, da mesma forma que começou. Na teoria, lindo – e muito menos antipático do que a proposta de Jerry Krause. Na prática, apenas Curry seguiu provando seu valor.

Se ainda quiser ser campeão tendo o maior arremessador de todos os tempos, o Golden State Warriors terá de potencializar seu armador. O único caminho para isso é indo ao mercado, e aí existe outro problema. Hoje, a situação mais fácil de ser resolvida seria a de Klay Thompson, que tem vínculo somente até o final da temporada. Em casos como este, é comum vermos franquias dispostas a absorver o contrato para no ano seguinte abrir espaço na folha salarial. Mas aqui estamos falando apenas de números, e os Warriors veem Thompson como o ídolo que ele merecidamente se tornou. Trocá-lo em seus últimos meses, manchando uma relação de 13 anos, me parece pouco provável.

As outras alternativas seriam Green e Wiggins. Green tem contrato até 2026, com uma player option para 2027, e ganha na média de 25 milhões de dólares por ano. Assim como Klay, goza da idolatria que conquistou. Mais do que isso, segue sendo um líder do elenco. A vontade que os Warriors têm de trocá-lo só não é menor do que a das outras 29 franquias de recebê-lo. Além da queda técnica, deve ir para o segundo período de suspensão na temporada após o tapa em Jusuf Nurkic. Se encontrar algum time interessado em contratá-lo neste cenário, me avise.

Por fim, a situação de Andrew Wiggins. Com vencimentos de 27 milhões anuais, seu vínculo tem a mesma duração de Green. Diferentemente dos outros dois, ele não tem o mesmo peso na história dos Warriors e a franquia não veria problemas em envolvê-lo em alguma negociação. A dificuldade aqui talvez seja encontrar um destino que compense. Wiggins disputou apenas 21 partidas na temporada anterior, com questões pessoais, e desde o seu retorno não foi o mesmo. Prestes a completar 29 anos e com um custo-benefício questionável, seria preciso bastante criatividade para encontrar um negócio que rendesse ao time qualidade e juventude.

Diante deste cenário, arrisco a dizer que não veremos Stephen Curry campeão da NBA outra vez. O armador revolucionou o basquete e deu cara a uma geração em Oakland e depois San Francisco. Transformou jogadores como Klay e Draymond em lenda maiores do que eles sonharam um dia se tornar. A diretoria reconheceu, e o trio foi recompensado por isso. Pena para Curry que a curva da decadência chegou antes para seus colegas.

Contratos mais caros dos Warriors

Stephen Curry (53,8 milhões de dólares até 2026)
Klay Thompson (37,9 milhões até 2024)
Andrew Wiggins (27,2 milhões até 2026)
Draymond Green (25 milhões até 2026)

 

 

 

 

 

Escrito por Antônio Henrique Pires Collar
Formado em jornalismo pela PUCRS e em Basketball Analytics pela Sports Management Worldwide. Com passagem de 6 anos e meio pela editoria de Esportes do jornal Zero Hora e do portal GZH, de Porto Alegre.