Qual é a maior rivalidade da NBA?

Antônio Henrique Pires Collar | 21/03/2024 - 15:20

Se você torce para algum time de futebol no Brasil, sabe muito bem como nossas rivalidades são construídas. Aqui, os principais adversários são sempre aqueles que estão mais perto de nós, de preferência na mesma cidade. A lógica faz sentido, mas não se aplica ao basquete dos Estados Unidos – até porque são apenas duas as cidades da NBA com mais de uma equipe. Sendo assim, qual a maior rivalidade da liga?

Antes de responder à pergunta, vale entender melhor o contexto. Enquanto continentes dominados pelo futebol, como América do Sul e Europa, estão acostumados a cultivar disputas locais, os grandes esportes da América do Norte foram construídos de forma diferente. Por lá, as disputas regionais são mais comuns nos níveis amadores, casos dos times de High School (ensino médio) e College (o bom e velho universitário).

Veja o exemplo do clássico entre North Carolina e Duke no basquete. Tratam-se de equipes que dividem o mesmo estado, a Carolina do Norte. O mesmo acontece com outras universidades, seja na bola laranja ou oval: Alabama x Auburn, Michigan x Michigan State, Kentucky x Louisville e por aí vai.

Nas ligas profissionais é mais difícil repetir este modelo, sobretudo na NBA. Hoje apenas Nova York, com Knicks e Nets, e Los Angeles, com Lakers e Clippers, têm mais de uma franquia na mesma cidade. Olhando para estados, Califórnia e Texas, ambos com quatro cada, somam sozinhos 26% dos times no campeonato.

Qual a maior rivalidade da NBA: Celtics x Lakers

Mais importante do que qualquer disputa regional é a briga pelo topo. Por isso, ao longo de mais de sete décadas de liga vimos surgir diversos antagonistas a nível nacional, geralmente equipes que dominavam suas gerações. E quis o destino que a primeira grande rivalidade da NBA fosse também a mais icônica e longeva de todas: Boston Celtics x Los Angeles Lakers.

Não é difícil entender como isso se criou, mas requer uma certa viagem no tempo. Começamos pelo fato de que Celtics e Lakers são duas das mais antigas franquias e estavam presentes na temporada de inauguração da NBA, em 1946-47 – os outros remanescentes são Knicks e Warriors. Os Celtics já estavam em Boston, e os Lakers seguiram por 12 anos em Minneapolis antes da transferência para Los Angeles, na virada para a década de 1960.

Maiores campeões e 12 finais disputadas

Os primeiros anos de NBA foram dominados pelos dois times, que somaram seis títulos na década de 1950. Foram quatro para o Lakers (1950, 1952, 1953 e 1954) e dois do Boston Celtics (1957 e 1959). Curiosamente, os primeiros gigantes do basquete norte-americano só se cruzaram na decisão pela primeira vez em 1959, último ano do Minneapolis, quando os celtas levaram a melhor por 4 a 0.

Foi na década seguinte, porém, que tivemos o maior número de encontros das equipes em finais. Foram seis séries valendo o troféu, todas vencidas por Boston (1962, 1963, 1965, 1966, 1968 e 1969). Ao todo, o time liderado por Bill Russell conquistou 10 de 11 temporadas disputadas entre 1959 e 1969.

A chegada dos anos 1970 trouxe outros times à disputa, e os rivais perderam um pouco do protagonismo. Ainda assim, os Celtics ficaram com a taça em 1974 e 1976, e os Lakers em 1972. Eles só voltariam a se encontrar em uma final 15 anos depois, agora em uma nova era.

A rivalidade entre Magic Johnson e Larry Bird

Em 1979, Celtics e Lakers não venceram a NBA. Ainda assim, naquele ano os Estados Unidos parou para assistir a uma disputa que definiria o futuro não só das duas franquias, mas de todo o basquete moderno. Segundo dados da época, estipula-se que dois a cada cinco aparelhos de televisão do país estavam ligados na patida entre Michigan State e Indiana State válida pela decisão do título universitário nacional.

A vitória de Michigan por 75 a 64 consagrou o jovem Magic Johnson campeão, e Larry Bird acabou a noite com o vice. Aquele foi o primeiro duelo entre os dois, que nos meses seguintes mudariam a NBA para sempre. Em 1980, Bird juntou-se aos Celtics e venceu o prêmio de Novato do Ano, desbancando seu algoz. Nos Lakers, Magic riu por último e levou para casa os troféus de campeão e de MVP das Finais – até hoje o único novato a atingir o feito.

Magic e Bird viraram sinônimo de rivalidade no basquete e fizeram de suas equipes as duas principais potências da década de 1980. Se enfrentaram pelo título em três oportunidades como profissional, com dois títulos para Johnson (1985 e 1987) e um para Bird (1984). Além disso, os dois juntos somaram oito voltas olímpicas e seis MVPs de temporada regular naquele período.

Reencontro nos anos 2000

Demorou mais de 20 anos para que houvesse uma nova final entre os rivais. Em 2008, os Celtics comandados pelo trio Paul Pierce, Kevin Garnett e Ray Allen superaram os Lakers de Kobe Bryant e Pau Gasol em seis jogos, abrindo uma vantagem de 9 a 2 para os celtas em séries pelo título. A resposta de Kobe veio dois anos mais tarde: 4 a 3.

A conquista de 2008 foi a última história dos Celtics, que estacionaram nos 17 troféus. Isso abriu espaço para que 12 anos depois, já com LeBron James e Anthony Davis, o Los Angeles Lakers igualasse a marca. Atualmente, os dois estão lado a lado na lista de maiores vencedores da NBA.

Outras rivalidades na NBA

É bem verdade que nenhuma outra disputa consegue ter o peso de Celtics x Lakers. Mas com o passar do tempo outras rivalidades também ganharam força, sempre por motivos semelhantes: briga pelo domínio da geração. Alguns confrontos se deram dentro das próprias conferências, mas outros repetiram a tradição de duelar somente no momento mais importante. Abaixo, conheça alguns casos.

Lakers x Pistons

No final dos anos 1980, o Detroit Pistons surgiu como uma grande força dentro da Conferência Leste. Os “Bad Boys”, como firam conhecidos pelo estilo de jogo físico e em muitos momentos até violento, chegaram à final da NBA pela primeira vez em 1988. Na final, porém, melhor para os Lakers após sete jogos. Uma falta marcada pela arbitragem de Bill Laimbeer em Kareem Abdul-Jabbar nos segundos finais da sexta partida é motivo de polêmica até hoje.

Não demorou para a resposta dos Pistons, que no ano seguinte varreram LA por 4 a 0. O time ainda seria campeão outra vez em 1990, mas desta vez sem cruzar com os angelinos. Um novo encontro ocorreu em 2004, novamente com vitória de Detroit. Os Lakers à época contavam com nomes como Shaquille O’Neal, Kobe Bryant, Karl Malone e Gary Payton, mas não fizeram frente ao grupo treinado por Larry Brown.

Cavaliers x Warriors

Cleveland Cavaliers e Golden State Warriors se enfrentaram em quatro finais consecutivas. Foto: Icon Sport
Cleveland Cavaliers e Golden State Warriors se enfrentaram em quatro finais consecutivas. Foto: Icon Sport

Quatro finais seguidas entre os mesmos times é algo que Celtics e Lakers não conseguiram nem nos anos 1960. Pois foi o que Cleveland Cavaliers e Golden State Warrios proporcionaram aos fãs entre 2015 e 2018. De um lado, LeBron James. Do outro, Stephen Curry (e companhia).

Quando Cavs e Warriors se cruzaram pela primeira vez, era Lebron James quem mais estava acostumado com o palco principal da liga. Ele fazia sua sexta final, a quinta seguida, enquanto Curry ainda estreava. Mesmo assim, melhor para Golden State, que aproveitou se dos desfalques de Kyrie Irving e Kevin Love para impor seu estilo de jogo revolucionário e levar a taça.

No ano seguinte, o mais emblemático dos confrontos. Os Warriors fizeram a melhor campanha na história da temporada regular, com 73 vitórias em 82 rodadas, e abriram vantagem por 3 a 1 na final. Com shows de LeBron e Kyrie Irving, Cleveland conseguiu se tornar o primeiro e até hoje único time na história das finais a conseguir uma virada para 4 a 3.

Em 2017 e 2018, Curry e Klay Thompson ganharam a parceria de Kevin Durant, e a equipe passou por cima. Vitórias por 4 a 1 e 4 a 0, encerrando a segunda passagem de LeBron James em sua terra natal.

Pistons x Bulls

Não parece, mas a carreira de Michael Jordan não foi construída apenas enfileirando vitórias. Antes disso, ele sofreu. E como sofreu. Os caminhos de Detroit Pistons e Chicago Bulls se cruzaram por quatro temporadas seguidas, entre 1988 e 1991, com os Bad Boys levando a melhor nas três primeiras.

Em 1988 e 1989, os Pistons levaram a melhor por 4 a 1. Em 1990, classificação por 4 a 2. Os confrontos entre Pistons e Bulls nos Playoffs ficaram marcados pelo aspecto físico imposto por Detroit – nada muito diferente do que você já leu neste texto. Foi nesta época que surgiu a chamada “Jordan Rules”, estratégia defensiva desenvolvida pelo técnico Chuck Daly para tentar conter Michael Jordan. Boa parte do trabalho consistia em usar a força física dos homens de garrafão para tentar pará-lo próximo à cesta.

Jordan conseguiu sua vingança em 1991, quando varreu seu até então maior rival por 4 a 0. Ao final da partida decisiva, os atletas de Detroit deixaram a quadra sem cumprimentar os vitoriosos, algo que gerou bastante polêmica. Ainda hoje, Michael Jordan e Isaiah Thomas são desafetos públicos.

Knicks x Bulls

Michael Jordan foi carrasco dos Knicks na década de 1990. Foto: Icon Sport
Michael Jordan foi carrasco dos Knicks na década de 1990. Foto: Icon Sport

Se Jordan sofreu três anos seguidos para no quarto conseguir superar os Pistons, contra os Knicks os ventos sempre sopraram ao seu favor. O que nunca significou vida fácil, vale dizer. Entre 1989 e 1996, Chicago eliminou o gigante de Nova York cinco vezes na pós-temporada. Em quatro delas, o time acabou também com o título da temporada.

Os duelos mais icônicos se deram entre 1992 e 1994. Em 92, Chicago levou a melhor em sete jogos na segunda rodada da Conferência Leste. Na partida que sacramentou a classificação, Jordan brilhou com 42 pontos. Um ano depois, a disputa foi nas finais da conferência e terminou novamente com classificação de Chicago, agora por 4 a 2.

A única classificação dos Knicks foi em 1994, quando Michael Jordan vivia sua primeira aposentadoria do basquete. Mesmo sem o camisa 23, os Bulls fizeram frente aos oponentes e só foram elimiandos após sete jogos, no segundo round. Mais tarde, o New York Knicks seria vice-campeão, perdendo o título para o Houston Rockets.

Escrito por Antônio Henrique Pires Collar
Formado em jornalismo pela PUCRS e em Basketball Analytics pela Sports Management Worldwide. Com passagem de 6 anos e meio pela editoria de Esportes do jornal Zero Hora e do portal GZH, de Porto Alegre.