Nós já fizemos um texto sobre as cinco cidades esportivas americanas amaldiçoadas e Cleveland estava em primeiro. Um ano depois os Cavaliers venceram um título e acabaram com um jejum de mais de 50 anos da cidade. Ou seja, os torcedores do Minnesota Timberwolves nem podem ficar bravos comigo, eu estou tentando ajudar.
Mas acho que nem boas energias vão ser de ajuda desta vez. É difícil pensar que um time 16-35 em fevereiro de 2020 vai se tornar relevante o suficiente para chegar às finais da NBA em 2021. Pode ter certeza disso. Afinal, sim, o Minnesota Timberwolves está amaldiçoado. Acompanhe o relatório final desta investigação minuciosa.
Conteúdo
A origem da maldição do Minnesota Timberwolves
Muitas pessoas não sabem, mas os Lakers foram criados em Minnesota, conhecido como a terra dos 10 mil lagos. Sabe quantos lagos existem em Los Angeles? Só os das casas dos milionários, porque a cidade teve que criar uma enorme infraestrutura para solucionar o suprimento de água. Isso não impediu que o time tivesse preguiça de mudar o nome ao fazer a mudança.
George Mikan foi a primeira estrela da NBA. Seu domínio era tamanho que regras foram criadas para limitar seu impacto, como a proibição de interferência quando a bola estivesse em trajetória descendente. Ele foi cinco vezes campeão da NBA pelo Minneapolis Lakers e três vezes o maior pontuador da temporada.
Depois de parar de jogar, Mikan voltou para os Lakers como treinador, mas foi demitido depois do time perder 30 partidas e vencer apenas nove.
Demitir seu maior ídolo? Isso não se faz e eu acho que aqui é a origem de tudo. Três anos depois o time se mudou para Los Angeles com uma estrela em seu elenco, o ala Elgin Baylor, e logo draftaria outra, um tal de Jerry West, que jogou tão mal que “só” virou o logo da liga.
O cenário ficou tão arrasado que por 30 anos não existiu basquete em Minnesota, até que os Timberwolves foram fundados, em 1988/89. O time venceu 22, 29 e 15 partidas nos seus três anos iniciais e, com a terceira escolha do Draft, depois de ver Shaquille O’Neal e Alonzo Mourning serem selecionados, o time escolheu Christian Laettner.
Caso você não saiba quem ele é, isso é um excelente indicativo da zica que paira sob a franquia. Colocar Laettner como o maior jogador de basquete universitário que já existiu não é um exagero. O cara era o pica das galáxias de Duke, o time mais odiado da NCAA. Ele venceu o título em 1991 e 1992 sendo um ala-pivô/pivô de 2,11 m com um arremesso perfeito. E ainda era clutch.
Com 2,1 segundos, na quadra de defesa, Grant Hill mandou uma bomba para Laettner, que pegou de costas, girou, meteu o buzzer beater contra Kentucky, o maior rival de Duke, na prorrogação, quando o time perdia por um ponto. Esse lance é conhecido como The Shot (O Arremesso) e o jogo é colocado por muitos como o maior da história da NCAA.
Só isso. Ele também era um jogador sujo, convencido, odiado por todos e reverenciado pelos seguidores de Coach K. E foi para as Olimpíadas de 1992 com um tal de Dream Team.
Laettner é o responsável por você não conseguir acertar todos os membros daquela equipe em um quiz qualquer.
Enfim, Laettner chegou em Minnesota depois de tudo isso. E enquanto Shaq e Mourning cresceram, disputaram playoffs, finais e foram pro Hall da Fama, o melhor jogador universitário da história ficou por isso mesmo, jogando quatro anos nos T-Wolves e vencendo 19, 20, 21 e 26 partidas em sua passagem por lá.
Pelo menos em 1995, o time teve a quinta escolha do Draft e desta vez não errou, apesar de ter se arriscado. Selecionar um jogador direto do ensino médio é algo complicado e isso não acontecia desde 1975.
Mas Kevin Garnett era realmente diferente. Tão diferente que foi só ele atuar com Adam Sandler que este quase concorreu ao Oscar de melhor ator.
Como não idolatrar esse monstro? Esguio, ele era um problemão para marcar, já que ao mesmo tempo que era rápido, era intenso. Excelente no ataque, ótimo na defesa. Ano após ano ele foi melhorando e, quando chegou a hora do contratinho, ele recebeu uma extensão de seis anos, US$ 126 milhões.
Resultado: o time ficou amarrado para fazer novas contratações e até um locaute dos donos rolou por causa dos contratos exorbitantes que estavam sendo assinados.
Tudo bem, Garnett seguiu crescendo, foi MVP do All-Star Game em 2003, MVP da liga em 2003/04 e presença constante nas seleções All-NBA. Ele era amado pela torcida por sua intensidade, sua vontade de ganhar de qualquer forma possível e até pelo seu constante falatório em quadra.
Mas o Minnesota Timberwolves nunca montou um time forte em torno de Garnett para encarar o Los Angeles Lakers e o San Antonio Spurs, reis do Oeste na virada do século. O máximo que o time alcançou foi a final do Oeste em 2003/04, perdendo para os Lakers em seis partidas. Nos outros playoffs em que chegou, campanhas horrorosas que terminaram todas na primeira rodada eliminatória.
Mas pelo menos era bom chegar na pós-temporada.
Em 2004/05, 2005/06 e 2006/07, o time voltou aos seus anos iniciais, ficando em 9°, 14° e 13° no Oeste.
Até que o inevitável aconteceu: Garnett foi trocado para o Boston Celtics. O GM dos Timberwolves à época era Kevin McHale, grande ídolo dos Celtics. O GM dos Celtics à época e ainda hoje, Danny Ainge, jogou com McHale em Boston. Deixa eu te falar o que os Celtics pagaram por um dos melhores jogadores da NBA:
- Al Jefferson
- Ryan Gomes
- Gerald Green
- Sebastian Telfair
- Theo Ratliff
E duas escolhas de primeira rodada que viraram Jonny Flynn e Wayne Ellington. Não fique mal se você só conhecer o primeiro nome dessa relação e talvez Gerald Green.
Kevin McHale foi um Deus como jogador pelos Celtics. E é capaz que ter assinado essa troca tenha sido sua maior contribuição para a história da franquia, tamanho foi o presente.
Os Celtics demoraram para conseguir capitalizar a troca de Garnett em títulos, tendo o mesmo problema dos T-Wolves de rodear um jogador tão talentoso assim com peças compleme… Ah não, pera aí, eles ganharam o título na primeira temporada com Garnett.
Jonny Flynn é meu gancho para a continuação neste post.
Dez anos maravilhosos (para os rivais)
No Draft de 2009, um ano depois de ter doado Garnett, os Timberwolves tinham o poder de começar a reconstruir sua franquia. Al Jefferson chegou bem e o time tinha a quinta e sexta escolha no Draft.
A equipe selecionou dois armadores. Na quinta posição, Ricky Rubio, enorme promessa espanhola. Na sexta posição, Jonny Flynn, de bom desempenho em Syracuse.
Um armador foi selecionado em sétimo também. O nome dele é Wardell Stephen Curry II.
Começamos bem a era pós-Garnett do Minnesota Timberwolves.
Mas tudo bem, porque eu não citei um detalhe sobre o time de 2008 dos Timberwolves. Logo depois de Garnett sair, os Timberwolves também tiveram uma quinta escolha, depois de descerem duas posições em uma troca louca com o Memphis Grizzlies. A equipe selecionou Kevin Love.
O sobrinho do vocalista da maior banda americana de todos os tempos (Beach Boys, discuta comigo caso você tenha odiado essa frase) quase teve um duplo-duplo na primeira temporada. Tudo bem, ele conseguiria isso na segunda. E, na terceira, teve 20,2 pontos e 15,2 rebotes por jogo. Ele era excelente pontuando e tinha um posicionamento incrível perto da cesta para pegar os rebotes.
Love era um jogador amado pelos fãs que acompanhavam mais de perto a liga, já que não era uma superestrela. Mesmo assim foi três vezes para o All-Star Game, foi duas vezes da segunda seleção All-NBA, líder em rebotes em 2011, Most Improved Player em 2011 e campeão do torneio de três pontos em 2012. Um big man perfeito para o basquete que começava a mudar.
Ele nunca jogou uma partida de playoffs pelos Timberwolves.
Claro que ele encheu o saco e ficou claro que ele sairia no primeiro minuto que seu contrato acabasse. Os Timberwolves então foram trocar mais uma vez sua principal estrela.
O Cleveland Cavaliers estava recebendo de volta LeBron James e pegou Love para ter mais uma arma. Love não só jogou nos playoffs pela primeira vez logo que chegou a Cleveland como ainda foi a quatro finais seguidas da NBA e ganhou um título em 2016.
Mas tudo bem, desta vez os Timberwolves “venderam bem”, conseguindo a primeira escolha do Draft por Love e mais uma primeira escolha em Anthony Bennett. Ok, não é culpa de Minnesota que Bennett foi um bust. Andrew Wiggins, que seria o escolhido no Draft de 2014, era um ala comparado com LeBron James, antecipado como um futuro defensor incrível e uma máquina de pontuar.
Nem preciso dizer que ele não chegou nem perto de LeBron James. Mesmo assim, ele não foi mal, apesar de sempre ter sido um defensor abaixo da média.
Como ele teve 23,6 pontos de média, ainda era novo e o físico estava começando a definir, os Timberwolves apostaram que ele amadureceria em quadra e apostaram nisso com um contrato de cinco anos e US$ 148 milhões.
Minnesota descobriu a duras penas o que significa jogar muito para ganhar um contrato.
Mas a NBA é uma mãe. E como o Draft premia os pior times, lá estava o Minnesota Timberwolves com a primeira escolha do Draft de 2015, sendo que a equipe tinha a primeira escolha do Draft de 2014 e ainda teve em seu elenco a primeira escolha do Draft de 2013.
Karl-Anthony Towns foi selecionado. E KAT não decepcionou. Pode ser um pouco exagerado o que vou falar, mas sua posição, sua forma de jogar e seu poder ofensivo lembra um pouco Garnett.
Sabe em que Towns não lembra nada KG? Na vontade de amassar seus oponentes na base da intensidade, berro e grito na cara.
O time até trouxe Jimmy Butler para dar um choque em Towns e Wiggins e o old school Tom Thibodeau para fazer os dois defenderem. Não deu certo. Pelo menos a equipe foi aos playoffs pela primeira vez em 14 anos. Mas foi eliminada na primeira fase, mais uma vez.
Até agora escrevi 1.700 palavras, então vamos recapitular e deixar bem claro por que o Minnesota Timberwolves está amaldiçoado.
Sumário da maldição do Minnesota Timberwolves
A equipe de basquete de Minneapolis venceu título atrás de título nos anos 40 e 50. Seu grande ídolo, George Mikan aposentou-se, virou treinador do time e foi demitido.
Três anos depois, a franquia se mudou para Los Angeles para ser o segundo maior vencedora da história da NBA e ter estrela atrás de estrela pelos próximos 50 anos.
Enquanto isso Minneapolis ficou 30 anos sem basquete e até teve a chance de ter estrela atrás de estrela, mas nada deu certo. O melhor jogador universitário da história não durou. O primeiro jogador direto do ensino médio foi um monstro, mas só ganhou seu anel um ano depois de sair de Minnesota.
A equipe draftou dois armadores antes de Stephen Curry, o armador que define o que é a NBA nos últimos dez anos.
O time teve um ala-pivô moderno antes de todo mundo, mas nunca chegou aos playoffs com ele. Depois de ser trocado, chegou a quatro finais seguidas.
O time teve em seu elenco três primeiras escolhas seguidas e não conseguiu criar um time que passasse da primeira fase dos playoffs.
Em 30 anos, o time foi aos playoffs apenas nove vezes. E foi eliminado na primeira fase em oito oportunidades.
Final
Agora a equipe tem Karl-Anthony Towns e D’Angelo Russell, primeira e segunda escolha do Draft de 2015. Nem adianta achar que algo vai mudar. E não vai demorar muito para o time trocar ou perder Towns, ainda mais na era onde os atletas trocam de time e formam panelinhas onde querem.
O Minnesota Timberwolves precisa ir até o túmulo de George Mikan e pedir desculpas.