Aconteceu. 2 eu enumerei alguns free agents e para Kevin Durant eu disse que ele com 95% de certeza iria para o Thunder (o site ‘The Vertical’ colocou 90%) mas que eu gostaria que ele fosse para os Warriors. Tinha 0 esperança que isso acontecesse.
Aconteceu.
Para quem gosta de basquete, a partir de outubro nós vamos ferrar nossas horas de sono porque todo jogo dos Warriors vai ser uma aula. Vendo a repercussão, muita gente lembrou de outros super times formados na história da NBA.
As pessoas não têm noção. Nunca foi formado algo assim.
Primeiro, vou explicar o título. Há dois anos e nove dias eu escrevi uma Lance Livre sobre a Liga dos Amigos. A NBA sempre se destacou pela grande quantidade de estrelas e a grande divisão delas, com a maioria dos times tendo pelo menos um grande nome. E cada uma dessas estrelas tentaria levar um título para seu time, não importando quantos anos isso demorasse.
Bird não iria para os Lakers jogar com Magic. Nem o oposto. Karl Malone saiu do Utah Jazz com 40 anos. John Stockton nunca saiu. Reggie Miller nunca saiu de Indiana. Patrick Ewing saiu de Nova York quando não conseguia mais andar direito. A única chance de formar um super time seria pelo Draft. Isso começou a mudar nos anos 90 e teve no auge em 2010, com LeBron, Dwyane Wade e Chris Bosh se juntando em Miami.
Kevin Durant, no auge, escolher deixar a franquia que o draftou, que ele fez virar respeitável e apagar um pouco a saída horrorosa de Seattle. Em Oklahoma City ele foi MVP, foi para as finais, perdeu, lesionou-se, recuperou-se, abriu 3 a 1 na final da Conferência Oeste. Ele deixar isso para ir para o time que o bateu na final do Oeste, no auge da sua carreira, e que já tem suas estrelas, é algo totalmente anti-NBA. Pode até ser um sinal dos tempos, mas não acho que seja isso, afinal nunca as estrelas se alinharam assim e não acho que isso se repetirá. Por quê?
Vamos lá.
Por que não tem comparação com o Heat do Big Three?
O Heat na temporada anterior à chegada de James e Bosh tinha um jogador digno de nota (Wade) e não muito mais, caindo na primeira fase dos playoffs. Ganhou as finais em 2006 mas depois teve campanhas horríveis. E Bosh, por mais que fosse bom em Toronto, não era um jogador top 10 da liga, pelo menos não na minha opinião. Nos Warriors temos o atual bi-MVP, o MVP antes do bi-MVP e que teve uma temporada sensacional em 2015/16 e mais dois jogadores top 10. Todos eles sem um caso na carreira de faniquito no vestiário ou ego exagerado.
Além disso, nós não sabíamos como o Heat ia encaixar. Claro que os três são jogadores inteligentes, mas o encaixe não era algo óbvio. Wade teve que entregar o time para LeBron e Bosh nunca ficou 100% confortável, inclusive zerando em jogo de finais da NBA. E quando o time foi formado, todos duvidaram do (na época inexperiente) Erik Spoelstra, quase sendo iniciado um bolão “quando Pat Riley vai demitir esse cara e treinar o time ele mesmo?”
O encaixe não é dúvida nos Warriors. Curry, Thompson, Durant e Green se encaixam perfeitamente. Além de todos serem inteligentes e não ter um fominha, os quatro são dos mais modernos que existem na NBA. Tirando Curry, os outros três são excelentes marcadores, podem atuar em diversas posições e marcar diversas posições. E tirando Green, que é “apenas” um bom arremessador, temos três dos melhores arremessadores da história do esporte e que pontuam até sendo afogados em um tanque.
Por que não tem comparação com os Lakers de 2012/13?
Steve Nash estava chegando nos 40 anos. O encaixe Pau Gasol-Dwight Howard era difícil. Kobe sempre foi um fominha de primeira, dividir a bola para ele é como pedir para matar uma de suas filhas. E a concentração de ego no vestiário era algo absurdo. E o treinador era Mike Brown/Mike D’Antoni. Ou seja, nada a ver com os Warriors atuais.
Por que não tem comparação com os Celtics de 2006/07?
Os Celtics estavam na draga. Com certeza não tinham ido para as finais duas vezes antes de chamar Kevin Garnett e Ray Allen para ajudar Paul Pierce. O encaixe era mais perfeito que o dos Lakers, mas Garnett, mesmo ainda sendo muito bom, não era o Garnett força da natureza carregando times medianos dos Timberwolves.
___________________________________________________________________________
Todo super time formado antes desses Warriors ou tinha jogadores chegando em final de carreira (Karl Malone nos Lakers de 2003/04), ou o encaixe era uma dúvida (Rockets com Barkley, Olajuwon e Pippen/Drexler) ou tinha outras questões (Bill Walton e suas lesões chegando nos Celtics dos anos 80 e mesmo assim deu certo).
A comparação mais pertinente é uma que anda seguindo o Golden State Warriors nos últimos dois anos. Os Bulls dos anos 90, mais precisamente do segundo tricampeonato.
Os Bulls eram campeões. Só deixaram de ser campeões por dois anos pela aposentadoria de Michael Jordan. Quando ele voltou, a base estava toda lá, com Phil Jackson e Scottie Pippen ainda com tudo. E aí chegou um outro elemento: o melhor amigo da Coreia do Norte, o senhor Dennis Rodman. E aí a equipe decolou.
Só que mesmo assim os Bulls ficam para trás.
Com Rodman, o time ganhou 72 vezes na temporada regular. Sem Durant, os Warriors ganharam 73 vezes. Rodman era um especialista em defesa, irritar oponentes e conseguir todos os rebotes do mundo. Durant é muito mais talentoso. Nunca na história da NBA um cara de 2,10 m (extraoficialmente) teve 50% da capacidade de arremesso de Durant de média e longa distância. Ele é uma aberração, assim como Magic Johnson, que era um armador de 2,06 m.
Conclusão
No futebol, com a concentração de dinheiro que existe, nós vemos estrelas chegando em elencos já estrelados basicamente toda a janela. Eu vi um Real Madrid com Ronaldo, Zidane, Raul, Figo, Roberto Carlos e Beckham. Hoje é só ligar a TV para ver um Barcelona com um ataque de Messi, Neymar e Suárez.
A NBA nunca foi assim. Nunca um time teve tantas estrelas, tantos Top 10, tantos jogadores no auge jogando juntos. E na questão da química, vestiário, estilo de jogo e rivais, eu não consigo ver isso dando errado. Durant fez um movimento totalmente anti-NBA. Torço que não vire moda. Mas que vai ser gostoso de ver, isso vai.