Daqui 10 anos, quando estivermos em Marte lutando por cada tudo de oxigênio, nós vamos lembrar das finais de 2019 da NBA como a série que Kevin Durant não jogou (ou quase), que Kawhi Leonard pareceu ainda mais um robô, liderando um time canadense para a implosão de uma das maiores dinastias dos esportes americanos.
Mas a verdade é que mesmo esses fatores todos sendo verdade, o que está decidindo a parada mais, na humilde deste servo redator que não sabe começar um texto logo, são os coadjuvantes. O sensacional Kirk Goldsberry pode falar melhor que eu.
Como ainda preciso dos milhões de reais que ganho por texto, continuo escrevendo.
Eu já zoei os Raptors por terem um conjunto de jogadores secundários inconstantes. Kyle Lowry foi o único vencedor do Troféu J.R. Smith por atuação pífia em playoffs.
O post acima foi no dia 15 de abril de 2019. Como as coisas podem mudar em dois meses… minha balança que o diga.
Muitas finais foram decididas pelo toque magistral de um jogador que não é magistral. Steve Kerr sabe bem o que é isso sendo o herói das finais de 1997. Mais recentemente Jason Terry foi fundamental para os Mavericks, Mike Miller foi gigante para o Heat, Tristan Thompson e seu PhD em rebotes ofensivos foi vital para os Cavs e a lista continua.
Os Warriors têm 0 ajuda nesse sentido. É claro que a gente deve falar do jogo 4 ruim de Stephen Curry após um jogo 3 que para mim mataria qualquer argumento sobre ele sumir em decisões. Óbvio que a falta de Klay Thompson fez enorme diferença.
Mas o problema é quando Alfonzo McKinnie, Quinn Cook e Andre Iguodala somam dois arremessos certos 15 tentados no jogo 4. Quando Shaun Livingston, que nesses anos de Warriors soube sempre marcar seu espaço e entrar bem e agora é dono de um -14 no plus/minus em jogo de finais.
DeMarcus Cousins é um capítulo a parte. Eu tenho mais chances de ganhar um contrato máximo na próxima offseason que ele. A combinação de lesões que ele teve na temporada passada no tendão de Aquiles e nesta no quadríceps tiraram dele a chance de finalmente ter sequência em playoffs. Ele tem 10 temporadas na NBA e míseros seis jogos de pós-temporada.
Com 28 anos – 29 antes da próxima temporada começar – ele mostra quão brutal é a recuperação de uma lesão tão séria para um jogador que já estava na corda bamba da mudança da NBA. Nestas finais ele está completamente exposto. A única forma de um pivô jogar na NBA hoje é sendo hiper-atlético e ativo na defesa (Capela, Gobert, o próprio Looney) ou saindo de perto da cesta para arremessar de três e abrir espaços (Brook Lopez). Se você faz os dois, você é um monstro (Joel Embiid).
O 1 de 7 nos arremessos no jogo 3 e os 19 minutos no jogo 4 porque estava sendo assassinado na defesa mostram que Cousins, hoje, não é nem uma coisa e nem outra. E os Warriors, que precisavam muito dele com a ausência de Durant, se ferraram.
Muito bem, só falei dos californianos e de cinco jogadores complementares (seis se contarmos Jonas Jerebko) decepionants. Mas e os canadenses?
Os Raptors, além de terem que separar o mármore para a estátua de Kawhi Leonard (mesmo que ele saia nesta offseason), também podem fazer o mesmo para Nick Nurse.
O treinador calouro fez o time evoluir em relação a uma temporada passada que já tinha sido boa, apesar da eliminação para os Cavs. A evolução dos jovens continuou, com Pascal Siakam saindo de 6º em minutos jogados na temporada regular de 2017/18 para titular do time nas finais e estrela do Jogo 1 em 2018/19. Fred VanVleet passou de jogador de basquete com nome imperial – Fredderick Edmund VanVleet – para carrapato atrás de Stephen Curry e ameaça de 3. Ou seja, um Matthew Dellavedova 2.0, com barba mais cerrada.
Mas o destacável que Nurse fez foi incluir Marc Gasol de forma tão rápida, aproveitando o melhor de sua visão de jogo e tentar de tudo para parar Curry. Até o box-and-1, tão falado nos últimos dias e que era uma tática de ensino médio.
Imaginem que Jair Ventura leva o Botafogo para a final da Libertadores e lá tenta parar o camisa 10 rival colocando um gordinho que não deixa o rival dar um passo para a frente. É basicamente isso o que Nurse fez. E deu certo. Na medida do possível, claro.
Nurse conseguiu fazer os jogadores secundários – VanVleet, Siakam, Gasol, Danny Green (voltou dos mortos), até Lowry e Ibaka, que estão jogando muito bem – aparecerem com destaque em dados momentos do jogo, enquanto Kawhi Leonard faz de tudo um pouco.
Enquanto isso os Warriors ficaram reféns de sua estratégia de trazer estrelas e ocupar o resto do elenco com jogadores recebendo muito menos. Eles não estão à altura do desafio e até os experientes Livingston e Iguodala parecem ter caído um nível em relação a dois anos atrás.
Sim, a lesão de Kevin Durant é importante, assim como a perda de Klay Thompson foi muito sentida. Mas esse time fez um 4 a 0 nos Blazers que não deixou dúvidas. A grande diferença destas finais é que os coadjuvantes dos Raptors estão voando e se revezando no brilho, enquanto os dos Warriors estão deixando Curry, Klay e Draymond Green na mão.
A série vai acabar em cinco? É muito provável porque é difícil imaginar esse time dos Raptors subindo no salto e Kevin Durant voltando sem estar tremendamente baleado. E se for 4 a 1 eu acertarei meu palpite feito antes da série começar. Olha só ai embaixo 🙂