Quando o Quinto Quarto organizou o curso All-Star sobre esportes americanos, conversei com Fabio Balassiano, do blog Bala na Cesta, sobre qual seria sobre o tema da palestra focada no basquete. O assunto teve que ser David Stern, que morreu no primeiro dia de 2020, aos 77 anos.
Não vou aqui fazer um ranking de importância na história da NBA, “medindo” se Stern é mais pesado que Magic ou Bird. Mas foi o comissário por 30 anos da liga que soube como ninguém vender uma liga na qual o produto na verdade eram as estrelas.
Claro que falamos de Boston Celtics x Los Angeles Lakers ou o Chicago Bulls. Mas damos peso imenso para Jordan. Para LeBron. Para Kobe e Shaq. Para as personalidades, intrigas, quem é melhor, quem você escolheria para começar seu time, quem é o MVP, quem é o GOAT. Se tal time é de Fulano ou de Ciclano.
A NBA já tinha quase 40 anos quando Stern assumiu o posto de comissário, que deixou em 2014. Mas se ele não criou a liga, Stern basicamente moldou tudo que conhecemos dela hoje: a instituição do teto salarial, a loteria do Draft, o Draft como evento de importância no calendário e transmitido…
Ainda dá para colocar na conta dele a expansão para 30 franquias, criando inclusive o atual campeão da NBA, o Toronto Raptors, que é de outro país. E muitas outras coisas, entre elas a internacionalização da liga e abertura para jogadores estrangeiros.
Parece tão natural o peso enorme da liga atualmente que é até difícil pensar em finais da NBA que não passaram ao vivo para os Estados Unidos no fim da década de 70 e começo dos 80. Sendo que hoje vemos todos os jogos das séries da primeira rodada, ao vivo, no Brasil. E mais uma centena de jogos de temporada regular em diferentes canais.
É difícil pensar que a NBA era uma liga deficitária que não gerava simpatia por muitas razões, inclusive porque tinha uma reputação péssima, com consumo desenfreado de cocaína pelos atletas, brigas e times deixando cidades e falindo.
Uma década depois de Stern assumir, um atleta negro com o sorriso do tamanho do mundo, e que abriu para o mundo que tinha sido infectado pelo vírus da HIV, estava jogando e sendo aplaudido.
Para citar mais um exemplo, Bob McAdoo foi o MVP da NBA em 1976 pelo Buffalo Braves, que em 1978 virou San Diego Clippers. O dono dos Braves TROCOU a franquia com outro proprietário. E não foi pelo Madureira. Foi pelo Boston Celtics, que na época já tinha mais de 10 anéis na sua história.
Essa era a NBA pré-Stern.
David Stern não apagou todos os problemas e nem foi perfeito. A história de Seattle não ter um time hoje tem o ex-comissário como um dos vilões. Dá para citar mais vários exemplos.
Mas uma pessoa que fica 30 anos no cargo e tem muitos mais acertos que erros precisa ser aplaudida. A NBA hoje é uma liga global, com um MVP grego e um time campeão canadense. As franquias valem nas casas dos bilhões e os jogadores têm contratos simplesmente absurdos.
Andrew Wiggins tem que agradecer David Stern todo dia por ter 27 milhões de dólares garantidos na sua conta para jogar por oito meses. E ele é apenas o 28° maior salário da liga em 2019/20.
Nós brasileiros temos como exemplos de “comissários” algumas pessoas completamente nefastas que nada fazem pelo esporte, clubes, marcas e jogadores.
E é justamente traçando uma comparação do tipo que entendemos a importância de um bom dono de franquia ou comissário de liga: Magic, Bird, Barkley, Jordan estavam destinados a jogar basquete.
O fato de nós sabermos seus nomes, eles serem marcas globais, terem caminhões de dinheiro com seus nomes na caçamba e termos visto seus grandes lances não é algo que caiu do céu. Exigiu visão e muito trabalho para que talentos assim recebessem seu devido respeito, espaço e oportunidade para brilhar. E, entre os nomes que se colocam nessa fatura, o de David Stern aparece em primeiro, segundo e terceiro.