Uma das discussões mais legais que eu acho que existem no mundo do basquete é quando se pensa em Shaquille O’Neal no jogo de hoje. Quer dizer, a discussão é legal quando se retira o saudosismo e a cegueira, eliminando argumentos como “Shaq teria 50 pontos todo jogo”. Vamos deixar o pivô ex-Lakers, Magic, Suns, Heat, Celtics, Unifacisa, entre outros, para um dia qualquer, começando com Ben Wallace para a posição 5.
Até agora só falamos de armadores e alas, que têm a vida muito mais alegre e legal na NBA atual que antigamente. Enquanto isso os pivôs são justamente o contrário: eles passaram de estrelas, dominando quem passasse pela frente, a terem que marcar longe da cesta, correr como doidos e serem dizimados das quadras mesmo se são de elite. Só ver o que aconteceu com Rudy Gobert nos playoffs contra os Rockets.
Dito isso, como seria Ben Wallace em 2020?
Ben Wallace: a defesa não seria suficiente
Gobert é uma boa comparação no sentido que estamos falando de um jogador que já foi escolhido o melhor defensor da NBA. No caso de Wallace, um pouco mais de uma vez: quatro em cinco anos para ser exato (2002, 2003, 2005 e 2006). Mas se Gobert é alto e tem uma envergadura absurda, Ben Wallace tem “só” 2,06 m.
Ele e Charles Barkley são dois monstros no quesito “como esse cara consegue fazer isso sendo 10cm mais baixo que o rival??”, algo que foi replicado nos últimos anos por Draymond Green. Apesar de Green ter os instintos de Wallace e também ser mais baixo que a concorrência, não dá para comparar os dois porque o camisa 23 é um jogador ofensivamente importante.
Wallace não era um pontuador, nunca chegando a duplo-dígito de média de pontos. Mas ele engolia rebotes e crescia quando mais importava. Seu maior número de pontos em um jogo foi nos playoffs contra o 76ers, com 29. Contra Shaq, na final de 2004, ele teve 18 e 22 rebotes, sendo 10 ofensivos, no decisivo jogo 5.
Se você ver dois lances, logo nos primeiros 40 segundos desse vídeo acima, o negócio é um pouco triste. E diz muito porque a NBA que temos hoje é 20x melhor do que tínhamos em 2004. Wallace é veloz para sua posição. Seu jogo ofensivo poderia ser trabalhado. Mas os Pistons nunca iriam desenvolver um jogo ofensivo para seu pivô tendo outros pontuadores (Billups, Hamilton, Rasheed) e jogando da forma que jogavam (ordenhando cada posse).
Não estou dizendo que Ben Wallace seria Amar’e Stoudemire se tivesse a chance. Mas na NBA atual….
Clint Capela turbinado?
Hoje existem dois tipos de pivô. Os polivalentes, que justificam seu tempo de quadra pontuando embaixo da cesta, ameaçando de três e entregando pelo menos mais algo (Embiid, Brook Lopez, Nikola Jokic). E os maratonistas, que sobem e descem na quadra, defendem, são uma ameaça de ponte aérea e se tiverem que em uma troca ficar na frente de um armador, não vão passar vergonha 100% do tempo, só 75%. Por isso Dwight Howard ainda tem um emprego, DeAndre Jordan idem e Clint Capela ganhou um contrato de US$90 milhões.
Em todos os posts que fiz até agora eu disse que o jogador X das antigas jogaria na NBA atual, mas precisaria ter um arremesso de três e bla bla bla.
Wallace não vai desenvolver um arremesso de 3 nem em um mundo onde existe uma máquina do tempo cujo trabalho é teletransportar jogadores da NBA.
Sua principal adaptação seria na marcação: em vez de penetrar na pele de Shaq, Jermaine O’Neal ou até de alas-pivôs como Dirk, Kevin Garnett e patrulhar a cesta contra engraçadinhos, ele teria que sair e muitas vezes marcar na linha de três.
Você duvida que ele conseguiria fazer isso? Eu não. Ele é rápido e teria energia suficiente para ficar na frente de Curry para tentar contestar algo (e falhar muitas vezes) e correr depois para pelo menos ser uma ameaça de enterrada, ponte aérea ou cotovelo no pescoço de Draymond Green para dar bundada até encontrar a cesta. Ele sem dúvidas teria uma média de pontos consideravelmente melhor.
A diferença é que como Wallace não teria duelos high profile contra pivôs dominantes, porque eles foram extintos, talvez não conseguisse a mesma notoriedade que teve nos anos 2000. O jogo hoje é muito mais aberto e ofensivo. Seus humilhantes 41,4% nos lances livres seriam zoados todo dia no Twitter e ele teria que tomar vergonha na cara como outro Piston, Andre Drummond, tomou.
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