Rob Gronkowski anunciou sua aposentadoria dos campos da National Football League neste domingo, menos de dois meses depois de ganhar seu terceiro anel em cinco disputas de Super Bowl. Foram apenas nove temporadas como profissional, cheias de conquistas, jogadas impressionantes e até o respeito e admiração do maior anti-Patriot possível.
Gronk foi o responsável por dar a notícia via Instagram.
O título do texto até poderia ser polêmico, mas é difícil brigar com números. Tony Gonzalez foi o tight end que levou a posição para o século XXI. Ele é o sucesso de público e crítica, a unanimidade, e em números totais o maior tight end da história, afinal sua carreira o levou até os 37 anos de idade.
Mas o sucesso individual dele não conseguiu se transformar em troféus. Mesma coisa para Jason Witten, que deixou os Cowboys, foi comentarista por um ano e agora volta para ter pelo menos um pouco do gostinho que Gronkowski sentiu, saboreou, degustou, gargarejou e cuspiu.
É difícil avaliar os jogadores da posição antes dos anos 2000 e a mudança dos ataques, admito. Os ataques se tornaram cada vez mais “aéreos” e tight ends deixaram de ser bloqueadores primeiramente para serem alvos e bloqueadores só quando necessários. Por isso o TE foi ganhando cada vez mais o tratamento que wide receivers recebem.
Além de Witten e Gonzalez, ainda tivemos Heath Miller, que teve o sucesso coletivo, com dois anéis nos dedos, mas nem de perto o mesmo impacto individual para o Pittsburgh Steelers.
A carreira de Jimmy Graham, por anos uma comparação justa com o 87 dos Pats, mostra como é difícil fazer o que seu contemporâneo fez. A posição exige grande esforço e impacto no corpo, mudanças de coordenadores e elencos podem aumentar ou diminuir responsabilidades e uma carreira longa, de títulos e feitos individuais, é algo único.
Seria natural que o melhor tight end surgisse nesta era dos ataques aéreos completamente dominantes. E mais natural ainda se fosse com um quarterback prolífico. Peyton Manning teve Dallas Clark, mas ele sempre gostou de seus recebedores incríveis, seja Marvin Harrison, Reggie Wayne e mais tarde Demaryius Thomas e Emmanuel Sanders. Sobrou para Brady.
Gronkowski logo de cara teve impacto e na sua segunda temporada se transformou no principal alvo do camisa 12, com uma prova de força bruta de 90 recepções, 1327 jardas e absurdos 18 touchdowns em 2011/12. O fim daquela campanha foi uma derrota doída para os Giants, que aliás Gronk podia ter evitado em uma hail mary que quase caiu nas suas mãos e poucos lembram.
Ele ainda teve mais três temporadas com mais de 1.000 jardas e cinco com 10 TDs ou mais. Conquistas de Super Bowl contra Seahawks, Falcons e Rams. Jogos de playoffs inacreditáveis. Aliás, são 16 jogos de pós-temporada em apenas nove anos, com 12 TDs, 1.163 jardas e 81 recepções. Isso em uma temporada regular seria absurdo para um TE. O cara fez isso só em jogos de playoffs.
Ele foi dominante com a companhia de Aaron Hernandez ou sozinho no corpo de tight ends e/ou trabalhando com Wes Welker, Julian Edelman e com os recebedores aleatórios que Bill Belichick traz e extrai o máximo possível. Kenbrell Thompkins que o diga.
Por anos discutimos como marcar esse mamute que ainda era rápido e tinha mãos excelentes. Um linebacker normalmente é muito lento e seria batido em velocidade. Um cornerback tem a velocidade, mas uma esbarrada ou stiff arm o faria voar. Raras vezes ele foi anulado, com Eric Berry do Kansas City Chiefs na temporada 2017 sendo um dos que podem carregar essa honra para o resto da vida. Ele terminou aquele jogo com o Tendão de Aquiles estourado, mas pode mesmo assim ter valido a pena.
E, com certeza, toda essa dominância e pura força física foi levada em consideração para Bill Belichick para amaciar seu coração de pedra e sua disciplina militar. Apesar das lesões, de Gronk não esconder que na offseason as cervejinhas e festas não terminavam antes de meia noite, em campo você via um animal correndo rotas e fazendo o trabalho sujo de um tight end no bloqueio. E, por isso, ele teve liberdades. Eu até pensei que ele seria trocado e um ano depois ele quase foi, se opondo frontalmente. No fim, aposentou-se como um Patriot.
Nesse sentido, Gronk era um Romário melhorado. O que ele fazia extracampo não podia ser jogado contra ele. Só que Romário era adepto de uma banheira e dos atalhos no campo. Marcar alguém, nem nos sonhos mais molhados do Parreira. Gronk fazia tudo o que era pedido porque o gramado parecia uma extensão de seu cruzeiro festivo. Ele levava alegria para um campo onde tudo ganha a conotação de guerra.
As várias lesões claramente limitaram sua explosão e nas duas últimas temporadas era claro que ele só seria acionado se fosse muito necessário. Mesmo assim, o grande lance do Super Bowl LIII foi a recepção maravilhosa que terminou à beira de um touchdown. Essa foi sua última recepção na NFL. Sabendo que ele se aposentaria, agora queria que ele tivesse entrado na end zone.

Sem time nem na NFL e na NBA, posso gostar de Tom Brady e Peyton Manning (mais Brady) e Magic Johnson e Larry Bird (mais Magic) ao mesmo tempo. Ainda insisto que falta golfe no Quinto Quarto, mesmo que não tenha nada a ver.