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Redzone: não fui justo com Tony Romo

Tony Romo, quarterback do Dallas Cowboys

(Crédito: Twitter/reprodução)

Quando saiu a notícia de que Tony Romo se aposentou, esperei um pouco para fazer um texto, algo que você pode perceber pela data de publicação, mais de uma semana depois do anúncio. Não sabia muito bem sobre o que escrever. Fazer qualquer menção a uma discussão sobre ele pertencer ou não ao Hall da Fama é um absurdo.

Ele não estará no Hall da Fama.

Isso não quer dizer que ele não seja bom. E esse meio-termo me fez escrever este texto.

Tony Romo, o injustiçado

Quando começamos o Quinto Quarto, em 2012, nosso estimado apresentador de podcast, Rodrigo Fragoso, torcedor do Dallas Cowboys, defendia o camisa 9. Eu e Bruno Bataglin, editores desta bodega atualmente, não.

A verdade é que a temporada 2011/12 foi brutal para os Cowboys, Romo e seus torcedores. Os Cowboys receberam os Giants na semana 14 com 7-5, enquanto os rivais estavam 6-6 e tinham perdido as últimas 4. E, em casa, ressuscitaram os rivais (derrota por 37 a 34) com uma afundada no último quarto que até field goal bloqueado no fim teve.

Na semana 17, novo duelo entre os dois e quem ganhasse, levava a divisão. E os Giants deram uma sova, com um 21 a 0 no intervalo e 31 a 14 no placar final. Os Cowboys ficaram fora dos playoffs. Os Giants bateriam os Patriots pela segunda vez no Super Bowl.

Na temporada seguinte, 2012/13, novamente um duelo na NFC East definiria o campeão e novamente os Cowboys perderam, dessa vez para o Washington Redskins do ‘falecido' RGIII.

Basicamente toda a culpa caiu em cima de Romo. Ele tinha sua dose, obviamente, mas ninguém lembrava da secundária ruim, da linha ofensiva que não abria espaços, dos recebedores que dropavam… Tudo isso porque:

– O Dallas Cowboys é a franquia mais popular da NFL. E isso é muito legal quando se está ganhando. Mas quando perde, a ira é dobrada. Muitos torcedores do America's Team abandonaram Romo em certos períodos.

– Os Cowboys ganharam três títulos nos anos 90, constituindo a penúltima dinastia da NFL. A última dinastia você sabe qual é.

– E, como qualquer franquia com muita história, ela tem quarterbacks históricos. Dallas é a terra de Troy Aikman e Roger Staubach, e por mais que você não coloque essa pressão de forma explícita, você não vai impressionar os fãs em Dallas com uma campanha 8-8 e atuações ok.

– Os Cowboys tinham/têm jogadores icônicos nos últimos anos. DeMarcus Ware, Jason Witten – tight end em Dallas desde a época de Dallas Texans nos anos 50 – Dez Bryant e outros. Não dava para entender muito bem por que a equipe não ia para a frente. Parecia mesmo algo psicológico.

– Quando Tony Romo errou, ele errou de forma espalhafatosa. Em sua primeira temporada efetivamente atuando, Romo fez a função do “cara que segura a bola pro kicker chutar” (holder) e falhou ao segurar a bola em um field goal no fim de um jogo de playoffs. Seu time acabou perdendo por um ponto.

Quando Tony Romo se machucou, foi para valer também. E, no fim da carreira foi em quantidade. Entre 8 e 80, tudo foi 80 com Antonio Ramiro (sim, esse é o nome dele).

Por isso, sempre foi fácil mirar o sarcasmo em Tony Romo e acertar no alvo gigante. Ele nunca foi o pior quarterback da NFL, longe disso, mas quando você lembrava de algum lance pífio, lá estava o quarterback do time mais popular da NFL falhando. É o mesmo efeito da questão Acre, criada na minha cabeça e que revelo ao mundo agora.

É muito fácil falar que o Acre é o estado que não existe/não importa/ninguém lembra/onde tudo de inexplicável acontece. Só que o Acre tem pelo menos essa marca, essa fama. Tem estados brasileiros que não têm nem isso. Deixo para você imaginar qual.

Tony Romo, o injustiçado: Parte II

O principal culpado dos anos medíocres ou ruins dos Cowboys ainda não foi citado, mas cito agora: Jerry Jones. Foi ele o responsável por uma série patética de contratações, contratos e escolhas no Draft do dono que mais metia o bedelho no time em campo, tanto que ocupa o cargo de general manager também.

Só que Jones acordou um dia com um plano. Ele reforçou a linha ofensiva em seguidos drafts. E a boa proteção mais alvos acima da média permitiram que Tony Romo tivesse uma temporada sensacional em 2014/15: 3.705 jardas, 34 TDs, 9 INT e um rating de 113,2. A narrativa “Tony Romo” mudou na boca do povo e muitos começaram a reconhecer sua eficiência e seus momentos de brilhantismo, como o spin que deixou J.J. Watt no chão seguido de um passe maravilhoso para TD.

A temporada 14/15 acabou em Green Bay, com um passe completo que ninguém consegue me convencer que é incompleto, nem as regras.

Só que depois disso, ainda no segundo ato, quem injustiçou Tony Romo não foi Jerry Jones, mas seu corpo. A temporada 2015/16 rendeu apenas quatro jogos. A temporada 2016/17, apenas alguns snaps.

Tony Romo teria a chance de melhorar seus números na pós-temporada, onde só ganhou dois jogos. Teria até uma chance de disputar um Super Bowl. A linha é boa demais. Ezekiel Elliott é candidato a ser o melhor running back da NFL até completar cinco cirurgias no joelho e sofrer 15 concussões. Witten e Bryant têm química com o camisa 9.

Mas Dak Prescott surgiu. E é ele quem vai aproveitar a linha ofensiva, Zeke e quem sabe uma defesa boa.

A questão da transição na posição de quarterbacks é uma história própria na NFL. Nós lembramos nos dedos as que deram certo. Joe Montana para Steve Young e Brett Favre para Aaron Rodgers são as mais fáceis de lembrar. Peyton Manning para Andrew Luck é outra de sucesso. Josh McCown para Johnny Manziel foi outra que todos lembram como satisfatória. Satisfatória para estar no programa da Márcia.

Os Cowboys fizeram a coisa certa, já que hoje Romo representa um grande peso na folha salarial e ninguém sabe quão resistente seu corpo é. Além disso, colocar Prescott no banco é um impacto para seu desenvolvimento, que já se mostrou brilhante, e pode gerar más vibrações no vestiário, apesar de Romo ser querido.

E Romo mostrou uma elegância absurda nessa transição. Não é fácil um atleta, que recebe injeções de competitividade desde que estava estourando espinhas no ensino fundamental, abrir mão de uma luta por posição e admitir que era hora de assumir o papel de mentor. Rogério Ceni não soube fazer isso, para citar um exemplo.

Como devemos lembrar dele

Como um dos quarterbacks mais interessantes de se assistir nesses anos 2000/10. Agressivo, mas que sabia ser eficiente. Subestimado correndo com a bola para conseguir first downs. Um jogador que não foi draftado, assumiu a titularidade com um dos treinadores mais chatos da história (Bill Parcells, Hall da Fama) e inegavelmente deu certo na NFL. E um exemplo como companheiro de time, vide a comoção com sua aposentadoria e a transição para Prescott.

Não fui justo com Romo enquanto sua carreira acontecia. Pelo menos posso pedir desculpas para ele enquanto vejo os jogos da CBS.

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